terça-feira, 1 de abril de 2008

ESTILOS MUSICAIS - Introdução

CONSIDERAÇÕES GERAIS
Apalavra “estilo”, em música, aparece com diferentes sentidos e, de acordo com o seu emprego,associa-se a determinado ordenamento e classificação do acontecer musical.
A fidelidade estilística a uma obra musical é muito importante. Não se pode conceber que a foto de um personagem tenha o rosto de outro indivíduo. Na prática, é o que acontece quando uma obra musical de um compositor soa como música de outro.
O domínio do estilo musical é adquirido por meio do estudo detalhado de cada época e das características pessoais de cada compositor. Essas informações são adquiridas, no mínimo, por meio da leitura de literatura especializada.

O “ESTILISTICAMENTE CORRETO”
O que é uma interpretação “estilisticamente correta”?
O importante é ter uma visão igualitária da obra. Aconselha-se uma interpretação natural e expressiva, por vezes até “estilisticamente incorreta“, mas nunca uma execução fria, “travada” por considerações estilísticas. Será que existe tal pureza? O que se possui é uma quantidade de elementos históricos. O ser humano tem se transformado ao longo do tempo e isso se reflete tanto na execução quanto na apreciação.
O apoio a essas teses vem dos teóricos e dos historiadores, por meio dos quais se obtêm informações e técnicas, o que aproxima o executante do espírito de cada época, da forma e do compositor. Por essa razão, esses dados, as características de determinados elementos expressivos e estruturais são fundamentais para ressaltar os pontos da interpretação.
A partir do século XVI, observa-se uma evolução na escrita musical e até uma fixação gráfica, com algumas indicações fraseológicas, de intensidade, tempo e articulações. Isso ofereceu maior precisão, no entanto certas indicações como matizes, instrumentação entre outras características possuem muitas vezes um valor subjetivo, e esses dados devem se relacionar com o que precede e o que segue.
A seguir, serão analisados, de forma genérica, alguns pontos importantes para a avaliação do estilo de uma obra:

I — Fatores implícitos:
1. no seu aspecto étnico: nacional ou regional. Representa a alma de um povo. Esse aspecto manifesta-se de uma maneira inconfundível na criação musical. Diversos compositores são influenciados e/ou utilizam fontes do folclore ou de manifestações populares características de uma região ou um país. No Brasil, por exemplo, temos diversos compositores, entre eles: Ernesto NAZARETH (1863—1934) e Heitor VILLA-LOBOS (1887—1959); nos EUA — George GERSHWIN (1898—1937) e Roy HARRIS (1898—1979); na Argentina — Luiz GIANNEO (1896—1968); no México, Carlos CHAVES (1899—1978), entre muitos outros;
2. em conseqüência do destino para o qual a obra foi escrita: sacro ou profano (dança, teatro, cinema, câmara, concerto, obras dramático-musicais);
3. em seu aspecto histórico: características da época e do autor (a vida, as etapas do compositor e os fatores que envolveram a criação musical);
4. que designa as diversas técnicas de composição, incluindo o texto e as estruturas musicais tais como harmonia, contraponto, polifonia, etc;
5. dentro de cada forma musical;
6. como fator sociológico — aspectos que influenciaram a escrita — folclore, popular e artístico.

II — Fatores não explícitos:
1. os andamentos não indicados. Em alguns períodos da história da música, não era usual8 indicar os andamentos nas partituras;
2. fraseologia musical. É muito importante que o maestro verifique a construção fraseológica de uma obra: determine o início e o fim de um motivo e as frases musicais. Somente essa avaliação vai ajudar o maestro a definir andamentos, dinâmica e o tipo de articulação apropriada para cada momento musical;
3. a dinâmica. Muitas obras não possuem qualquer indicação de dinâmica. O bom senso do maestro é muito importante para a escolha da dinâmica, assim como o conhecimento técnico de cada época.
4. Emissão vocal. Cada época tem suas características peculiares de emissão vocal. Por essa razão há a necessidade de o maestro conhecer as técnicas do canto. A emissão vocal da Renascença é diferente da emissão vocal da música romântica, por exemplo.

III — Vícios generalizados:
a) portamento vocal não indicado na partitura. No Romantismo, essa técnica é utilizada com
muita freqüência em virtude das características vocais, especialmente quando associadas ao
repertório do bel canto.
b) Acentuações musicais erradas, não indicadas na partitura ou não usuais para a época.
c) respirações incorretas dentro do fraseado musical e/ou literário.
d) terminações incorretas. Cada época tem sua característica, e cada compositor suas peculiaridades que devem ser respeitadas, estudadas e observadas no momento da execução.
e) falta ou excesso de expressividade no fraseado ou em algumas notas ou figuras musicais.
f) descontrole na emissão do vibrato. O vibrato é uma técnica que deve ser desenvolvida e
controlada. Não pode ser utilizado de forma indiscriminada, especialmente em repertórios
anteriores ao Barroco.
A presença desses e de outros vícios descaracterizarão a obra e o compositor, por isso, o maestro deve ficar atento. Os coros em geral executam obras de vários compositores, ignorando os diversos contextos históricos em que estão inseridos, provocando do regente, leituras errôneas. Também muitos maestros deixam de lado obras-primas de compositores brasileiros e sul-americanos para apresentarem obras de compositores sobretudo europeus. É inevitável, obviamente, ter no repertório obras de compositores europeus, afinal a Europa foi o berço da música universal ocidental, mas não se deve ignorar o que é nosso. Ao se executar obras de compositores de outros continentes, é necessário um estudo e uma dedicação especiais.
A música brasileira, no entanto, faz parte do nosso dia-a-dia, e deve ser volorizada.

Música italiana
Caracteriza-se por uma sonoridade expressiva, apaixonada. Possui brilho, magnificência, vivacidade e certa arbitrariedade que se manifesta tanto na execução como na preferência pelos timbres claros, resplandecentes e volumosos. O trágico é espetacular; o humor é fino sem ser grosseiro. Existe uma constante preocupação em obter clareza e equilíbrio sonoro, os quais se manifestam nos desenhos rítmicos e nas disposições formais da melodia, cuja expressão e cujo fraseado aparecem sempre controlados e extremamente expressivos.

Música francesa
Distingue-se por domínio da forma e busca pela verdade. A expressão melódica nunca se perde;requer precisão, delicadeza e finura. A elaboração é sempre rica e matizada pela dicção das palavras, sutilezas rítmicas e abundância timbrística, elementos que revelam a alma francesa, à qual se associa a uma fina elegância.
Essa descrição não deve impulsionar uma interpretação débil ou branda, pelo contrário, a interpretação deve ser vigorosa e enérgica, precisa como um relógio.

Música alemã
É caracterizada por dois contrastes: de um lado uma certa rudeza e por outro um profundo sentimento religioso e até um certo misticismo, aliados a uma especulação e uma certa complexidade, tudo isso culminando com a vertente espiritual. É importante ressaltar que os compositores alemães até meados do século XVIII foram influenciados por estilos de outros países, como a França e a Itália.

Música inglesa
Chama a atenção por sua euforia e espontaneidade, é um tanto intimista, característica que predomina desde o século XIII.

Música espanhola
A vitalidade do discurso musical se traduz por fatores rítmicos. Esses ritmos são encontrados nas linhas melódicas e controlam o encadeamento harmônico. Certos contrastes envolvem os tempos e os matizes. A polifonia foi sempre utilizada, mas foi na idade de ouro da polifonia que diversos compositores se destacaram. No entanto, a música espanhola atingiu rara beleza com a homofonia.

Música franco-flamenga
É integrada por compositores holandeses e belgas, especialmente no Renascimento. Possuíam uma capacidade de combinar habilidades técnicas e buscar pureza e limpeza por sua transparência na expressão musical. Na interpretação de uma obra, faz-se necessária uma extrema pluralidade técnica, assim como uma acurada percepção do tecido contrapontístico.

ESTILO SACRO E PROFANO
A distinção entre os estilos está na finalidade a que se destinam.
Na música sacra, destaco dois estilos:
a) Música sacra ou litúrgica;
b) Música eclesiástica.
A música sacra caracteriza-se pela qualidade de expressão, e pela busca da objetividade dos sentimentos religiosos individuais ou coletivos. Utiliza-se de textos bíblicos.
A música eclesiástica destina-se aos espaços físicos religiosos. O compositor destina “tal” obra a um determinado templo, preocupa-se com os aspectos religiosos para os quais a obra será destinada e observa, em muitos casos, inclusive o aspecto físico e a ressonância desse templo.
Podem existir obras que se enquadram nas duas categorias.

A música sacra distingue-se da música profana tanto por sua concepção como por suas características gerais.
Na música profana, pode-se enumerar pelo menos dois estilos diferentes da Renascença e do Barroco, por exemplo:
a) estilo teatral: obra variada, de caráter popular;
b) estilo de câmera: obra de estrutura elaborada.
Na música profana, ainda encontra-se um grande número de gêneros musicais.
Nem sempre as obras vocais em forma de dança, como balletti e villanelle eram destinadas a esse objetivo, mas eram estilizações dessas danças populares. Isso significa que o elemento métrico dentro de um tempo animado e inalterado deve ocupar o primeiro plano nas formações cadenciais, nos finais de frases, e as demais subdivisões do tempo podem modificar-se quase que imperceptivelmente. Por essa razão, aconselha-se suavizar as acentuações marcadas, o que se requer nos tempos fortes de danças. Essa regra pode-se estender à música feita entre os séculos XVI e XIX e até por vezes à música moderna.
Em seguida, serão avaliadas algumas características gerais. A história será dividida em sete períodos a partir de 1400, levando-se em consideração características gerais para facilitar a localização de uma obra ou um compositor num mesmo contexto histórico temporal.

Extraido do livro: MARTINEZ, Emanuel - REGENCIA CORAL - princípios Básicos - Editora D. Bosco, Curitiba (2000)

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