A música faz com que nos alinhemos sempre a cada instante. Nunca é só tocar um instrumento, ou que uma orquestra toque junta. Não é só isso, os compositores ao escreverem suas obras não se interessam apenas por fatores, mas pela relação com a obra, como a vão trazer ao mundo.Num curso de regência não se ensina a dirigir uma orquestra, não se pode ensinar a dirigir, apenas aprendemos juntos, em um ato excitante. Quando se dirige o mais importante é ter uma idéia clara do conteúdo da obra, se a mente tem essa clareza as mãos seguem o pensamento. Este é o processo. Cada um tem seu próprio modo para dirigir. A base do gesto é igual para todos. Dirigir 1 , 2, 3 ou 4 é a única coisa comum a todos os dirigentes, mas a diferença está na maneira como executamos a obra. Gente diferente, música diferente e distinta.A música é um idioma, uma linguagem e é uma das forças mais poderosas para as emoções humanas. Nossa tarefa é dominar esse idioma em todos os detalhes, conhecer o vocabulário, como tudo funciona, as diferenças entre, por exemplo, uma frase, onde temos compassos iguais e as formas são bem diferentes. É isso que se deve aprender, estudar e sobretudo entender. Uns podem levar vinte minutos para entender uma frase como foi criada e desenvolvida, e outros mais ou menos tempo para isso.Não conseguiremos fazer grande música se não tivermos partido nossos corações. É isso que devemos fazer, transcender a arte, elevar-nos do pessoal e do imediato para o universal. È uma das expressões mais gratas.A inibição deve ser sublimada, temos de ser crianças quando precisamos e um bailarino quando houver necessidade de uma certa forma esquecer que as pessoas estão te olhando, sublimar e representar o que a música sugere, explorar o afeto, a contensão emocional da música, não somente compreender, mas poder com as mãos, o corpo, os olhos, todo o ser e expressar. Convencer o músico do seu desejo e intenção: sorte, triunfo, tristeza, melancolia, terror, o que for, e assim os músicos derramam sobre os seus instrumentos o que você lhe passou, por sua vez, passando essa informação ao público, que é o objetivo final, ou seja como traduzir a minha música em gestos. Do que trata a música? Podemos responder a essa pergunta? Então qual o gesto? Se não pode responder a essas indagações então só estarão marcando compasso ou abanando os braços e não causará nenhuma sensação a ninguém nem aos músicos, nem ao público, portanto a necessidade de verificar o que acontece na obra e sentir o corpo, portanto em momentos mais enérgicos os movimentos são mais perto do corpo, se não veja o caso dos boxeadores, quando eles desejam maior concentração de força eles fecham os gestos perto do tórax para poder desfechar golpes com maior poderio de impacto. O gestual pode ter grande força. Quando os instrumentos de arco, exemplo os violinistas tocam perto da (ponte), imprimindo mais força e poderio sonoro, assim eles se fecham sobre o instrumento. É exaustivo, e deverá ser assim. Nos movimentos enérgicos, quanto mais claro o gesto, mais claro os músicos entenderão suas intenções.Tudo o que se fizer com as mãos, braços, olhos e corpo, deve sugerir o que vai e está dizendo, pensar a cada momento da música e tentar passar o máximo de informações com o máximo de concentração do gestual. Quanto maior for o nosso gesto, menores serão as possibilidades de expressão, quanto mais altos forem os gestos menor a possibilidade de expansão do gestual. Ao se dirigir não se pode pensar apenas na primeira fila e sim em todo o conjunto. A comunicação é com toda a orquestra. A última estante dos violinos tem de ser influenciada como se fosse a primeira. O maestro deve desvincular-se da partitura e se comunicar com todo o conjunto orquestral. A partitura deve ser apenas um guia, que o maestro consulta esporadicamente.Gestos expressivos devem ser horizontais, seguindo um movimento linear da melodia, e por que não pensar no movimento linear do arco das cordas? Assim ouvimos muito mais a música. A gama da emoção não pode ser limitada, tem de haver uma renuncia e se entregar realmente às emoções, sentir cada sensação provocada pela música: ritmos, elementos melódicos, elementos harmônicos, frases de ligação, temas que se sucedem, tudo enfim. Por exemplo, a raiva, angústia, tristeza, alegria, são sentimentos que temos de transparecer de forma diferente. Não é só uma boa direção de gestos, é entrar no âmago da música, entrar na composição musical, representar a arte através dos gestos, dos olhos, corpo, emoção, sentir as frases, sentir a respiração. Nossa função é convidar os músicos a participar, a tocar o melhor que possam e não que obedeçam. Pensar nas características de cada instrumento e nas características do que dirigimos com esse instrumento, induzir o músico, levar o músico a atingir o seu máximo. Cuidar para que quando dizemos “não” com a palma da mão, nos contrariamos dizendo sim com o rosto ou com a outra mão. Quando informamos algo, essa informação deve ser completa, com o rosto, com a mão com todo o corpo. A comunicação com os sopros e as cordas devem ser como um só, como se fosse um só corpo.A expressão do rosto é muito difícil. Uns demonstram mais e outros menos. Isso deve ser sujeito de um longo estudo e um árduo trabalho. Poucas nuances fazem a diferença.As dinâmicas devem ser bem claras. Os músicos de uma orquestra esperam conseguir o máximo. Se não os esclarecemos bem, eles apenas pensarão: está tudo bem assim, o que fizemos foi o suficiente. Na realidade o maestro quer algo mágico, então deverá demonstrar isso, de forma que possa ser entendido e notado por todos os músicos com absoluta perfeição.O maestro tem de pensar em tudo, tem de pensar na palavra como um todo, na frase como um todo e encarregar-se de tudo. Quando estamos regendo temos de nos certificar que as cordas, sopros e percussão, ouçam o que desejamos que eles ouçam por meio de nossos gestos. Não podemos duvidar de nossas solicitações, tudo o que pedimos tem de ter suas justificativas pessoais consistentes e não apenas eu estou fazendo porque eu acho... Não existe axômetro. Nossos gestos precisam ser, precisam falar, identificar cada momento de nossa música. Devemos ser tão claros que alguém que nos assista em um filme mudo possa saber de imediato que obra estamos dirigindo.Dirigir bem é importante, mas não é tudo, saber marcar compasso é importante, mas não é tudo. Dirigir bem não é marcar compasso. Dirigir é uma conversa, tem de ter tudo o que precisamos para representar nossa arte.A técnica da batuta, não existe, a não ser na música contemporânea que é muito difícil, exige muita precisão em virtude das constantes mudanças de compasso. No entanto, a batuta tem de funcionar como um órgão de nosso corpo, sensível, flexível e comunicativo. Então, quem somos nós? Quantas coisas temos de ser? Em dois minutos de música, somos tantos personagens. Quantos recursos numa frase musical! Quanta coisa. Não é a técnica da batuta que vai fazer ou dizer o que precisamos. Assim como os escritores de novela, os maestros tem de fazer de tudo para ser entendidos, e tudo o que fizermos tem de ser relevante. Temos de cantar, dançar, amar, odiar, chorar, rir, brigar, vivenciar cada instante e traduzir tudo isso em gestos, traduzir tudo isso em música.Quando dirigimos, por exemplo o violino, o público precisa sentir o que estamos fazendo, precisam entender o que estamos dizer a ele. Quando dirigimos precisamos ser lembrados, deve ser marcante, para que se lembrem do que fizemos daqui a 20 anos. Por isso fazemos música, e o mais incrível é que nos pagam para isso. Não pensamos como um trabalho que fazemos obrigatoriamente: tenho que fazer que todos toquem juntos. Isso não é ser um regente
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