ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ
COORDENADORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DA EMBAP
LIA OLYMPÍA KOGIARIDIS DE SOUZA
CANTO CORAL COMO FERRAMENTA DE SOCIALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO SOCIAL
CURITIBA, MAIO 2009
Monografia apresentada ao curso de pósgraduação lato sensu, especialização em música com ênfase em regência coral da EMBAP - Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Zeferino Perin.
Monografia aprovada, em 23.jun.2009.
Dedico
Ao meu Pai Celestial pela sua eterna condescendência.
Aos meus pais Antoine e Gelcy, a quem devo uma vida inteira de ricas experiências e sabedoria, expresso a minha gratidão pelos muitos exemplos de integridade, dedicação e bondade.
Ao meu esposo Adilson, homem nobre de expressão cálida e espírito doce. Pelo exemplo de caráter e compromisso com a vida, pela sua humildade e paciência diante dos tantos desafios que enfrentamos juntos e acima de tudo, pelo seu amor genuíno e incondicional.
Aos meus filhos Matheos, Juliana e Filipe, pela habilidade com que sempre tiveram em extrair de mim os maiores e mais dignos propósitos da minha existência: a maternidade!
A todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para conclusão deste trabalho.
Agradeço ao meu orientador, Zeferino Perin, pelo amor e excelência com que exerce a sua profissão e dedicação empenhada em prol da música.
Entre todas as artes, a música foi sempre a que possuiu maior força de aglutinação social; por uma parte, devido ao fato do exercício da arte exigir, de um modo geral, mais pessoas concordantes na intenção e no sentimento, o que favorece a constituição de comunidades de músicos e amantes da música; por outra parte, em virtude de suas fortes qualidades sensíveis, a facilidade de conjugação com palavras e, em nível superior, as possibilidades que oferece tornar coesas grandes massas de homens.
Arnold Schering
RESUMO
O objeto de investigação da presente monografia é o canto coral como ferramenta de socialização e integração social. Trás considerações reflexivas e informações acerca deste assunto que fundamentam a hipótese de que o canto coral é uma ferramenta peculiar de integração social, dentro das mais diversas comunidades, tais como: escolas, igrejas, empresas, instituições público e privadas, centros comunitários, organizações não governamentais, dentre outras; atingindo as mais diferentes classes sócio-econômicas e culturais. A metodologia aplicada está baseada na pesquisa de caráter exploratório, a qual consiste em permitir um conhecimento mais abrangente e adequado da realidade. Compreende revisão de literatura, coleta de dados sobre experiências e exemplos explicativos, abordando questões ligadas à dinâmica de ensino do regente e sua liderança frente aos coralistas. O objetivo visa apontar o coro como atividade apta a propiciar desenvolvimento musical e a integração interpessoal dos envolvidos. Apresenta também as mudanças decorrentes da Lei 11.769 de agosto de 2008, que
possibilitaram a implantação do canto coral nas escolas de todo o território nacional.
Os resultados revelaram que a revisão de literatura proporcionou embasamento teórico. As entrevistas com professores de várias instituições de ensino superior do país geraram informações sobre a dimensão participativa, a convivência e a interação social no ambiente do coro. O case ilustrativo do tema investigado apontou para o impacto do canto coral na vida da sociedade americana. Finalmente, considerando as informações teóricas e empíricas, entende-se fundamentada a hipótese do canto coral como ferramenta peculiar de integração entre indivíduos, aplicável nas mais diversas organizações sociais.
Palavras chave: canto coral; socialização; integração social, regente de coro.
INTRODUÇÃO
Escolhi este tema, canto coral como ferramenta de socialização e integração social em razão de estar relacionado à experiência e atividades que venho exercendo com o canto coral há mais de trinta anos dentro da comunidade religiosa à qual pertenço (01).
Em 2008 tive oportunidade de cantar com o grupo Madrigal Paidéia, onde com outros quinze cantores, sob a regência do Maestro Emanuel Martinez, realizamos uma série de apresentações em todo o território nacional, totalizando 75 concertos para as mais diferentes platéias. O projeto foi patrocinado pelo Sesc Nacional, com o objetivo de propagar a música vocal do grande mestre Villa-Lobos.
Essa tournée me fez refletir sobre a vida e obra de Villa, sua luta para implantar o canto orfeônico em nosso país. Pude também refletir muito a respeito da importância do canto coral em minha vida pessoal e profissional, o que me instigou a escrever sobre o assunto.
Desde criança tive a oportunidade de cantar em corais infantis na igreja e posteriormente atuar como pianista, preparadora vocal e até mesmo regente em corais de crianças, jovens e adultos. Tais atividades foram a grande inspiração que me levou a buscar conhecimentos musicais mais aprofundados para oferecer um trabalho de maior qualidade às pessoas com as quais estava envolvida.
Iniciei meus estudos em casa aos três anos de idade com minha mãe que também trabalhava com o canto coral na Igreja e naquela ocasião estudava canto na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Percebendo o gosto que eu desenvolvi pela música através do canto coral, me inscreveu no teste seletivo para crianças nesta mesma instituição de ensino musical. Lá estudei dos sete aos vinte e um anos quando conclui o curso de Licenciatura em Música.
Durante toda essa trajetória acadêmica, eu sempre mantive uma forte ligação com o canto coral na igreja, chegando a reger coros de trinta até duas mil e duzentas vozes.
O que me chamou atenção ao longo do tempo foi perceber o caráter socializador do canto coral; notei que as pessoas gostam de se encontrar e estabelecer relacionamentos e laços sociais; muitas amizades são formadas ou fortalecidas por conta destes contatos; algumas pessoas que conheci em corais da igreja chegaram a se conhecer, namorar e até mesmo casar.
Essa experiência que eu tive foi vivida exclusivamente no ambiente da igreja a qual pertenço, onde o contato dos membros do coro não se limita aos ensaios e apresentações, pois nos encontramos em várias outras reuniões durante a semana e aos domingos, fortalecendo ainda mais o processo de socialização e integração entre as pessoas.
Desta forma, o propósito do presente trabalho foi averiguar até que ponto o canto coral funciona como ferramenta de integração social capaz de desenvolver a socialização de pessoas envolvidas com grupos corais de outras instituições, tais como: escolas, universidades, empresas, organizações não governamentais e instituições públicas ou privadas.
Assim, tive a honra de consultar profissionais renomados na área musical de importantes instituições de ensino no Brasil para indagar-lhes acerca dos aspectos socializadores do canto coral. Também pude recorrer à literatura especializada a fim de desenvolver o referencial teórico deste trabalho e dar um melhor embasamento ao tema proposto.
Como o presente trabalho atinge a questão do canto coral como ferramenta de socialização e integração social, não pude deixar de apresentar um caso concreto bastante interessante, onde um admirável grupo de educadores musicais, dentre eles o Prof. Dr. Carlos Alberto Figueiredo, encaminhou para o Senado Federal, uma Proposta de Contribuição a um importante Projeto de Lei (02).
Um outro grupo encaminhou ao Ministro da Educação Fernando Haddad, um Manifesto contendo mais de dez mil assinaturas.
Graças à luta e esforços desses grupos para demonstrar o quão importante é o canto coral como prática que privilegia o processo de socialização e de transformação social das pessoas, o projeto ganhou notoriedade, força política e acabou sendo convertido em Lei, pois se vislumbrou o canto coral como um instrumento acessível, perfeitamente possível de ser implementado nas instituições de ensino; agora, com a nova lei vigente, temos ao menos a esperança de que as novas gerações terão acesso à educação musical nas escolas brasileiras: Um trabalho notável poderá ser desenvolvido em todo o território nacional, vindo a beneficiar milhões de crianças e jovens, resgatando o grande projeto socializador de Heitor Villa-Lobos, abolido durante a ditadura militar de 1964 que considerou o ensino musical como supérfluo!
Faço uso dos resultados de um importante estudo (03) realizado em 2003 nos Estados Unidos onde foi avaliado o impacto do canto coral na vida dos coralistas e na sociedade americana e averiguado que o interesse das crianças e jovens em participar de atividades envolvendo o canto coral, foi desenvolvido desde cedo, durante sua vida escolar e refletindo em resultados benéficos no processo de socialização. Os resultados do estudo americano podem auxiliar pais, educadores e líderes de comunidades e corais a compreenderem o potencial do canto coral para
que possam trabalhar as necessidades sociais, cívicas e culturais das comunidades.
As conclusões do estudo, por si só, são bastante ricas; expõe um quadro otimista para nós brasileiros que estamos vivendo um recomeço por conta da lei 11.769/2008 a qual torna obrigatório o ensino de música na Educação Básica. Este é o início de um processo até que a Educação Musical, de fato, assuma o seu lugar nos currículos escolares.
Para compor este trabalho, realizei uma discussão de dados, empregando metodologia baseada em pesquisa de caráter exploratório, com a finalidade de fundamentar a hipótese de que o canto coral é uma ferramenta de socialização e integração social.
A pesquisa exploratória permite um conhecimento mais completo e mais adequado da realidade. Assim, o alvo é atingido mais eficientemente, com mais consciência e corresponde a uma visualização da face oculta da realidade. No entender de Selltiz, a pesquisa exploratória tem como escopo:
(...) proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão” (SELLTIZ, 1967, p. 63, apud, GIL, 2008, p. 41).
Para Gil, “embora o planejamento da pesquisa exploratória seja bastante flexível, na maioria dos casos assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso” (GIL, Antonio Carlos, 2008, p. 41). Assim, através do meu conhecimento pessoal na área, aliado à pesquisa bibliográfica especializada; nas perguntas específicas que encaminhei para profissionais envolvidos com a prática do canto coral e ainda na análise dos resultados apontados no case americano (Chorus America), consegui alcançar maior familiaridade com a questão do canto coral como ferramenta socializadora e integradora, tornando-a mais explícita; consegui também obter algumas respostas orientadoras dos participantes, o que ajudou a nortear o presente trabalho, aprimorando o entendimento sobre o tema aqui proposto, ampliando a compreensão sobre o canto coral enquanto fenômeno no mundo social. O desenvolvimento do trabalho se deu em quatro tópicos, a saber:
TÓPICO 1 – REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura foi importante para reconhecer e dar o devido crédito à criação intelectual dos autores aqui citados e evidenciar que ainda que tenha percebido que o campo de conhecimento pesquisado embora já esteja estabelecido, este ainda apresenta oportunidades de aprofundamento científico.
TÓPICO 2 – INTEGRAÇÃO SOCIAL
Com o objetivo de dar melhor embasamento ao trabalho, procurei fundamentar a questão através do entendimento atual de sociólogos proeminentes, em especial no que diz respeito ao conceito de socialização e integração social. Em seguida, passo a apresentar a questão dentro do grupo coral, mostrando o envolvimento existente entre os componentes do grupo, tais como regentes, coralistas, preparadores vocais, instrumentistas e auxiliares. Foi oportuno demonstrar a visão de profissionais da área, através de entrevista realizada com regentes e professores de instituicões de ensino superior ligadas ao ensino musical, o que permitiu concluir que de fato o canto coral no mínimo exerce influência socializadora sobre os indivíduos como também a integração social, sendo, para tanto, necessário que seus membros respeitem e cumpram as normas que lhes estão inerentes, uma vez que a harmonia e a estabilidade pode desencadear, mais facilmente, bons resultados, do que a discordância.
TÓPICO 3 – CASE ILUSTRATIVO DO TEMA INVESTIGADO: ESTUDO DO IMPACTO DO CANTO CORAL NOS EUA
Em 2003, nos Estados Unidos, o Choir America, importante instituição ligada à Corais, realizou extenso estudo em todo o território americano com o propósito de colher informações sobre todos os tipos de coros e através de estatística, chegar ao número de corais e de coralistas existentes neste país. O relatório final apresenta resultados que no mínimo chamam atenção. O principal objetivo da investigação foi o de documentar o nível de participação dos coralistas, analisar certas atitudes e motivações que os levam a cantar num coral e comparar estes dados com comportamentos específicos do público em geral; em suma, o estudo estabelece algumas características gerais que distinguem aqueles que participam num coral do restante da sociedade e ainda analisa qual o impacto que os coralistas exercem em suas comunidades.
O relatório original encontra-se no Documento Anexo ao presente trabalho e embora apresente a realidade americana, pode ser útil para nós brasileiros, uma vez que o estudo foi idealizado no sentido de propiciar aos líderes, a comunidade, regentes, coralistas, educadores e outros interessados uma possibilidade de melhor visualizar a prática coral como ferramenta de integração social.
TÓPICO 4 – DISCUSSÃO DE DADOS
Após tudo o que foi exposto, o último TÓPICO vem fornecer fundamentos para se levantar a hipótese de que o canto coral funciona como ferramenta de socialização e integração social.
1. REVISÃO DE LITERATURA
O canto, como recurso de expansão da linguagem humana e instrumento de socialização, cumprindo um papel importante na vida das pessoas; foi o primeiro veículo utilizado pelo homem com as funções de autoterapia. Civilizações antigas já cantavam em grupo nos campos de trabalho, quando colhiam ou quando plantavam. Essa prática ocorre até os nossos dias e é altamente benéfica. (MARTINEZ, 2005, p. 10).
O canto coral é uma antiga e importante atividade cultural, social e humana. Desde a antiga Grécia já se dava ao canto coral uma posição de destaque entre as artes (CARTOLANO, 1968, p. 16). Em sua origem, a expressão choros representava um conjunto de aspectos que, somados, iam ao encontro do ideal do antigo drama grego de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes (04). O conjunto consistia em poesia, canto e dança (ZANDER, 2003, p. 160). Para os gregos a música desempenhava um papel muito importante, pois representava ordem, harmonia e equilíbrio em sua totalidade estrutural (LEINIG, 1977, p.15).
Na história da humanidade o canto em grupo foi uma prática social comum. Na história do cristianismo, por exemplo, esta prática foi uma atividade sempre presente na liturgia (GROUT e PALISCA, 2007, p.21). O Cristianismo antigo adotou a expressão latina Chorus que significava o grupo da comunidade que canta junto ao altar, separada da comunidade pelas cancelas e mais tarde também denominada o lugar onde se coloca o órgão. (FONSECA, 2009) Na história do Brasil a prática do canto coral foi trazida pelos padres jesuítas, mas até mesmo nas atividades vocais em grupo dos índios brasileiros e dos africanos trazidos para o Brasil, já era possível constatar o canto enquanto prática social-cultural (MARIZ, 1994, p. 23).
Em todo o mundo, inclusive no Brasil, a grande maioria dos grupos corais é formado por amadores. São movimentos de natureza comunitária que conseguem reunir pessoas de vários segmentos da sociedade para alcançar um fim comum, bem como a realização cultural pessoal que será manifesta através de experiência ou vivência da sensibilidade estética. (JUNKER, 1999, p. 1).
Fernandes, afirmou que “nas últimas três décadas temos testemunhado um enorme crescimento da prática coral, tornando o canto-coral amador uma das atividades musicais mais comuns em inúmeros países. A música coral tem proporcionado, de forma muito acessível, uma realização artística pessoal a um número cada vez maior de pessoas, pois, para satisfazer a experiência coral não é necessário, como pré-requisito essencial, um estudo profundo e extenso por parte dos cantores” (FERNANDES, 2006, p. 33).
O crescimento da prática coral se dá especialmente pelo fato de que cantar em coro é uma experiência afetiva marcante que oportuniza o desenvolvimento individual e coletivo: ampliando a musicalidade e a capacidade de se expressar através da voz bem como a possibilidade de vir a executar obras que tocam o cognitivo, ensejando o crescimento intelectual e afetivo do cantor e de outros agentes envolvidos; o desenvolvimento da sociabilidade e da capacidade de exercer uma atividade em conjunto, onde existem os momentos certos para se projetar e se recolher, para dar e receber (FIGUEIREDO, 2006, p. 8-9).
O canto coral é uma significativa ferramenta de integração social e vem se tornando cada vez mais um meio de desenvolver percepções e sensibilidades individuais que caminham em direção ao outro, valorizando sobremaneira as relações humanas. Tanto no aspecto musical quanto no relacionamento do conjunto, os fluxos individuais convergem para a constituição do sentido coletivo da atividade, atuando diretamente nos resultados do grupo (SOARES, 2003, p. 60).
Sendo o desenvolvimento social importante para o ser humano, como afirma Vigotsky (05), o coral, por ser um local que propicia muitos contatos sociais, permite os sujeitos a se colocarem em situações que os conduzem ao aprendizado e desenvolvimento de relações com a música, com os outros e com a comunidade.
Acredita-se que a continuidade no desenvolvimento de pesquisas que ressaltam as dimensões lucrativas do canto coral venha contribuir para a conscientização sobre os verdadeiros potenciais desta prática e, quem sabe, contribuir para o desenvolvimento de projetos e ações ligadas à valorização da educação (PEREIRA; VASCONCELOS, 2007, p. 119).
O canto coral é uma atividade social. A própria estrutura e a natureza da atividade de cantar em grupo a torna um fenômeno social. Assim como uma atividade desportiva em equipe, o cantor habilita as pessoas para trabalharem em conjunto para alcançar um objetivo comum. As pessoas se reúnem em torno do mesmo interesse que é cantar, e ainda que haja diferenças entre si, unem-se através da participação no coro. (DURRANT, 2003 p.45).
Alinhavando as idéias e pensamentos dos autores, entendo que a prática do canto coral cumpre dentre outras, uma importante função como ferramenta de integração social, razão pela qual me uno a visão de Mathias (1986) que traça uma analogia, enxergando a ação do canto coral na vida do ser humano como uma pequena pedra que ao ser lançada num lago, forma uma onda circular e gradativamente produz círculos maiores. Assim na ação do canto coral são evidenciadas as etapas de alongamento dos horizontes do coralista em várias dimensões, a saber: pessoal, grupal, comunitária, social e política, tudo contribuindo para o emergir de uma energia envolvente e transformadora, inerente à pessoa humana e seu encontro com o absoluto. (MATHIAS, 1986, p. 15-16)
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NOTAS DE RODAPÉ
(01) A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
(02) O Projeto de Lei será devidamente apresentado neste trabalho. Seu objetivo é alterar a Lei 9394/1996, e dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.
(03) America’s Performing Art: A Study of Choruses, Choral Singers, and Their Impact. Vide Documento - Anexo ao presente trabalho.
(04) A análise das obras dos autores gregos, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, como empreendida por Albin Lesky (A tragédia grega) e Junito Brandão (Teatro Grego: origem e evolução), nos conduz a um denominador comum do ideal grego: o equilíbrio, harmonia e simetria e defende que cada pessoa tem um métron (uma medida ideal). Disponível em: .
Acesso em: 12.jan.2009.
(05) Lev Seminovitch Vygotsky (1896-1934), foi o criador da teoria sócio-construtivista também conhecida como sócio-histórica. Atento à natureza social do ser humano, que desde o berço vive rodeado por seus pares em um ambiente impregnado pela cultura, Vygotsky defendeu que o próprio desenvolvimento da inteligência é produto dessa convivência. Para ele, na ausência do outro, o homem não se constrói homem. O outro social pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
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2. INTEGRAÇÃO SOCIAL
2.1 Vida em sociedade e processos (06) de socialização
A sociedade é representada pelo conjunto de pessoas ligadas entre si pela necessidade de apoio mútuo, com o objetivo de garantir a preservação e continuidade da vida, bem como a satisfazer seus interesses, anseios e necessidades; é nesta relação que surgem as regras e normas de conduta que afetam o indivíduo, haja vista que este passa a ter uma liberdade condicionada, e ele ora as atende e ora as transgride, gerando conflitos com o seu meio por este não exercer satisfatoriamente o seu papel social.
Na concepção de Dallari (07):
Sem a vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando nas cidades, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite de outros muitas vezes por dia. Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, roupa, moradia, meios de transporte e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentirse
amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças.Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas de vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar idéias, necessitadas de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo (DALLARI, 1995, p.18).
A necessidade que temos de nos mantermos unidos a outros seres humanos não é um mero capricho ou um desejo individualista, é acima de tudo uma questão de sobrevivência orientada pelo instinto e referendada pela razão. No entender de Goldman:
Quase nenhuma ação humana tem por sujeito um indivíduo isolado. O sujeito da ação é um grupo, um ´Nós´, mesmo se a estrutura atual da sociedade, pelo fenômeno da reificação, tende a encobrir esse ´Nós´ e a transformá-lo numa soma de várias individualidades distintas e fechadas
umas às outras. (GOLDMAN, Lucien, 1947 apud LANE, 1994, p.10).
Socialização numa perspectiva sociológica são processos pelos quais o indivíduo, no sentido biológico, é integrado numa determinada sociedade. Pela socialização o indivíduo se torna pessoa humana, adquirindo os hábitos que o capacitam a viver em uma determinada sociedade. Socialização significa aprendizagem ou educação, no sentido mais lato da palavra, aprendizagem essa que começa na infância e termina com a morte da pessoa. São assimilações que o indivíduo tem dos hábitos e características do seu grupo social, através das quais passa a se tornar membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. São processos contínuos que nunca se dão por terminado, realizandose através da comunicação, sendo inicialmente pela "imitação" para se tornar mais sociável. Os processos de socialização iniciam-se, contudo, após o nascimento, e através, primeiramente, da família ou outros agentes próximos, da escola, dos meios de comunicação de massas e dos grupos de referência.
Desta forma, pode-se perceber a socialização como processos continuados através dos quais os seres humanos se interagem, adquirem conhecimentos e mecanismos de respostas às diferentes circunstâncias do viver social. Os padrões de laços sociais por meio dos quais fluem as interações sociais também envolvem a comunicação face a face e a ação orientada para o comportamento de outras pessoas.
Na visão de Brunner e Zeltner (2000, p. 241), socialização refere-se aos “processos pelos quais um indivíduo desenvolve suas formas específicas e socialmente relevantes de comportamento e de vivência, convivendo ativamente com outras pessoas”.
Grigorowitschs cita em seu trabalho: “para Simmel o mundo social é tido por um conjunto de relações, um todo relacional, relações em processo. É por isso que socialização (Vergesellschaftung) é interação, e se compreende que as formas de interação são as formas de socialização. Isso significa que cada relação, por mais insignificante que pareça ser, contribui para a organização da vida em sociedade, e a sociedade nada mais é do que o conjunto dessas interações” (GRIGOROWITSCHS, 2008, p.37).
O homem tem a sua identidade e liberdade que lhe são próprias, contudo, estas estão limitadas ao meio em que vive que é uma estruturação social. Sendo assim a socialização é uma ferramenta de interação entre a sociedade e o indivíduo e a primeira molda a personalidade do segundo e é também um agente condicionador do comportamento do indivíduo e estando inserida neste contexto, qualquer ação da pessoa em seu meio é a realização da socialização.
É através da interação social que o indivíduo adquire um sentido de orientação e passa a conhecer qual é exatamente o lugar que pertence e o que se espera que faça. Neste sentido, Turner elucida:
Todos nós nos tornamos humanos através da interação com outros, e nela adquirimos uma personalidade, aprendemos como nos adaptarmos em sociedade e organizar nossas vidas. Esse processo de socialização na cultura e estrutura social é vital para a sociedade e para o indivíduo. Sem socialização não saberíamos o que valorizar, o que fazer, como pensar, como conversar, para onde ir ou como reagir. Não seríamos homens. Enquanto a socialização nos primórdios da vida é o mais importante, nunca paramos de ser ressocializados através da trajetória da vida. Tal socialização nos ajuda a fazer a transição para novas situações de vida; sem ela seríamos robôs inflexíveis e vítimas de nossas antigas experiências (TURNER, 1999, p. 75).
Somente quando existe agrupamento social é que se estabelecem as condições necessárias para se conhecer as determinações sociais que agem sobre a pessoa humana, bem como a sua ação como um sujeito histórico, partindo do pressuposto que toda ação transformadora da sociedade surge por conta de uma articulação interpessoal dentro de instituições que vão desde a família, escola, empresa, até o próprio Estado.
Lane, que se propôs a rever a noção de pequenos grupos humanos em função de uma redefinição da psicologia social, onde o grupo não é entendido como dicotômico em relação ao indivíduo (indivíduo sozinho x indivíduo em grupo) esclarece:
Pudemos observar que os estudos sobre pequenos grupos tem implícitos valores que visam reproduzir os de individualismo, de harmonia e de manutenção. A função do grupo é definir papéis e, consequentemente, a identidade social dos indivíduos; é garantir a sua produtividade social. O grupo coeso, estruturado, é um grupo ideal, acabado, como se os indivíduos envolvidos estacionassem e os processos de interação pudessem se tornar circulares. Em outras palavras, o grupo é visto como a-histórico numa sociedade também a-histórica. A única perspectiva histórica se refere, no máximo, à história da aprendizagem de cada indivíduo com os outros que constituem o grupo. (LANE, 1994, p.79).
Por meio da socialização é que se dão todos os processos de interação capazes de construir e sustentar as estruturas sociais essenciais à vida humana gerando procedimentos sociais que alimentam a sociedade, a cultura e o nosso próprio bem-estar pessoal. À medida que ganhamos experiência e maturidade em relação aos percalços, desafios e obstáculos na vida, descobrimos novos rumos e direções através dos relacionamentos que são preenchidos pelo respeito e apoio mútuos. Somos interdependentes durante todo o processo das nossas vidas e vidas alheias.
2.2 Como ocorrem os processos de socialização no canto coral
O canto coral desempenha um papel socializador, haja vista que para se cantar em grupo é necessário que o indivíduo apresente um comportamento social, sendo importante haver participação inter grupal que servirá como agente facilitador no desenvolvimento de relacionamentos e integração social eficazes. Neste sentido, Fucci-Amato comenta:
Ao ser incluída, a pessoa passa a estabelecer e manter um relacionamento estável com outras pessoas, realizando trocas materiais e simbólicas, que influem em seu autoconceito e desenvolvem sua sociabilidade. A necessidade de controle, por sua vez, consiste em influenciar o comportamento das outras pessoas, o que faz o indivíduo sentir-se importante naquele grupo social. A afeição, finalmente, é um prolongamento da necessidade de inclusão, ou seja, além do senso de pertencimento ao grupo, a pessoa se sente amparada por outras em termos psicológicos (FUCCI AMATO, 2008, p.2).
Por ser um importante fenômeno social, a sua prática coral apresenta benefícios até mesmo para pessoas que não tiveram contato anterior com a linguagem musical; através do trabalho desenvolvido em grupo, o indivíduo passa a desenvolver consciência musical e outras habilidades, tais como, musicalidade, autocontrole, auto-estima e tantas outras potencialidades.
Suzigan compreende que a função social se encontra expressa no ato da comunicação artística. De acordo com suas palavras, “fazer arte é uma qualidade inerente a todo o ser humano em maiores ou menores graus. Daí a urgente necessidade de se democratizar, através da educação, o acesso à apropriação e domínio das diversas linguagens de expressão, haja vista que somente assim criase condições de promover o enriquecimento da arte de um povo e, conseqüentemente, a viabilização de um maior entendimento das relações sociais” (SUZIGAN, 1990, p. 32).
Villa-Lobos, que, convencido da função, educadora e socializadora do canto coral, entende que:
O canto coletivo predispõe o indivíduo a perder no momento necessário a noção egoísta da individualidade excessiva, integrando-o na comunidade, valorizando a idéia da necessidade de renúncia e da disciplina ante os imperativos da coletividade social, favorecendo a noção de solidariedade humana, que requer de cada pessoa uma participação anônima na construção das grandes nacionalidades. O canto contribui para uma das mais altas cristalizações e verdadeiro apanágio da música, porque, com seu enorme poder de coesão, cria um poderoso organismo coletivo, integrando o indivíduo no patrimônio social da Pátria. (VILLA-LOBOS, 1987 apud PROSSER, 2004, p. 207).
Para Fucci Amato, essa prática merece um destaque maior por parte da nossa sociedade:
a importância crescente que a prática vocal em conjunto tem na formação musical das pessoas, é notável e merece destaque por parte de todos os setores da sociedade. Todavia, a busca pela excelência dessas práticas ainda constitui um desafio à atuação de universidades e profissionais dedicados ao tema no sentido de desenvolver projetos de requalificação profissional dos responsáveis pelo trabalho educativo-musical, habilitandoos para um ensino de qualidade e consequentemente, para melhor manusearem essa significativa ferramenta de desenvolvimento de múltiplas habilidades e competências que é o canto coral (FUCCI AMATO, 2007, p.83 e 94).
No documento Las Enseñanzas Artísticas elaborado na Espanha, como resultado do XVII Encuentro de Consejos Escolares Autonómicos y del Estado, é reconhecido a importância do canto coral como ferramenta de socialização, comunicação, inclusão e coesão social:
Podemos destacar a enorme contribuição da [música coral] através dos valores sociais que ela fomenta, sendo um instrumento de socialização, comunicação, inclusão e, em última instância, de coesão social, fornecendo uma linguagem universal e inter-cultural, podendo ser veículo de relacionamento e do patrimônio de todos e de cada um dos membros de uma sociedade. As artes são um elemento essencial para o crescimento econômico e social (08)
Através de seus estudos, Fucci Amato percebeu que o canto coral atua como uma importante interface favorecendo a inclusão e a integração social:
O coral desvela-se como uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações sócio-culturais com os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do outro e do respeito das relações interpessoais, em um comprometimento de solidariedade e cooperação. Todas essas interfaces inerentes ao desenvolvimento do trabalho de educação musical em corais contribuem para a inclusão e integração social (FUCCI AMATO, 2007, p.76).
A música é uma atividade por meio da qual se torna difícil, em certos momentos, distinguir os universos do lazer e do trabalho. No olhar de Hikiji: “a música é também meio de inserção profissional e mobilidade social para as pessoas menos favorecidas” (HIKIJI, 2006, p.67-68).
Pereira e Vasconcelos têm uma concepção clara a respeito do papel socializador do canto coral:
O canto coral aproxima as pessoas e esta aproximação permite que os mesmos estabeleçam relações de amizade, hierarquia, valores humanos e papéis sociais interdependentes. Estas relações interpessoais levam o participante a se tornar mais consciente de seu papel no respeito ao outro. Com relação à sociabilidade, relação entre o corista e a sociedade, há também certo desenvolvimento ou tomada de consciência sobre seu papel enquanto agente participante de uma instituição que possui um papel social cultural. Este contato com a sociedade se dá por meio desta consciência, no momento dos concertos e nas relações estabelecidas diretamente com instituições. Verifica-se que o canto coral tem sido um agente propiciador da ampliação de relações sociais; desenvolvendo a relação do indivíduo corista, consigo mesmo, com o outro e com a comunidade sócio-cultural na qual está inserido. A prática musical vocal em grupo, além de desenvolver a musicalidade, autocontrole, auto-estima e tantas outras potencialidades, é um propiciador de relações sociais harmonizadoras em vários níveis. (PEREIRA; VASCONCELOS, 2007, p.117-118).
2.3 Informações sobre experiências relativas ao problema pesquisado
Um exemplo fidedigno do funcionamento do canto coral como ferramenta que propicia a socialização, é apresentado no famoso Festival Cantapueblo, que em 2008 teve sua edição em nosso país:
As edições realizadas desde 1989 já reuniram, ao todo, mais de 2.000 coros e personalidades do mundo coral de 21 países (Alemanha, Argentina, Bélgica, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Malásia, México, Paraguai, Peru, República Tcheca, Suécia, Uruguai e Venezuela), contando, aproximadamente, com 60.000 cantores, que estiveram presentes em cerca de 600 concertos para um público de 300.000 espectadores, assim o Cantapueblo tornou-se um evento de referência no mundo do canto coral e da música vocal, ganhando projeção não só na América Latina, como também nos demais continentes. Em 2008, no Brasil tivemos uma edição do Cantapueblo, sendo um festival internacional de música vocal, não competitivo, aberto à participação de coros e grupos vocais de todo o mundo e que integrou a história da música vocal brasileira. O evento ocorreu entre 04 a 09 de novembro de 2008, reunindo coros infantis, juvenis, universitários, de empresas e de terceira idade; de repertório erudito, sacro, popular e folclórico; coros profissionais e amadores e grupos vocais com as mais diferentes formações e propostas estéticas. Os concertos ocorreram em teatros, centros culturais, igrejas, salas de concerto, universidades, espaços abertos e cartões-postais das cidades, de maneira que, durante os seis dias em que se realizou o evento, as cidades do Rio de Janeiro e Niterói viveram intensamente o espírito do canto coral, coletivo e democrático por excelência, onde todos buscaram, acima de tudo se expressar e se socializar através do canto em conjunto (09).
Neste sentido, um Projeto de Lei que tramita na Argentina propõe a valorização e apoio ao canto coral naquela nação e como justificativa o PL aponta o papel socializador e integrador desta importante atividade cultural:
O canto coral é uma das mais antigas manifestações do ser humano para expressar seus sentimentos e experiências, de forma coletiva através do instrumento mais próximo e imediato que possui: sua própria voz. Essa atividade, que envolve milhões de pessoas em nível mundial, tem efeito multiplicador, com raízes sócio-culturais profundas e tornando-se uma das melhores ferramentas disponíveis para o progresso das nações, favorecendo o restabelecimento do equilíbrio do ser humano tão gravemente afetado nos últimos tempos pelo avanço desprorpocional da tecnologia e do desejo insaciável de consumismo pela sociedade moderna, abrindo novas perspectivas culturais, em particular para crianças e jovens, a prática coral historicamente tem essência sociabilizadora, criativa e contém um dos meios de expressão estético e espiritual mais profundos da pessoa humana. Nos jovens especialmente se revela como uma alternativa atraentes, enriquecedora e formativa que ensina a conviver, partilhar e respeitar o outro, comunicando vivências profundas decorrentes da disciplina interior do indivíduo. Entre os problemas que afligem a nossa sociedade, onde a falta de exemplos nos conduzem à decadência e a busca de uma fuga fácil e arriscada, a atividade do canto coral é uma proposta válida dentro da educação pela arte, útil para canalizar as inquietudes e realizar o indivíduo através de uma elevação ética que o conduz ao caminho da excelência. Enquanto em nosso país, em comparação com os países Europeus, não existe uma tradição do canto comunitário, nos últimos quarenta anos com o surgimento de milhares de grupos em diversos setores e níveis da sociedade - integradas, em sua maioria por pessoas de diferentes profissões, idades e origens sociais, o movimento coral ganhou uma magnitude e importância que não pode ser ignorada. Neste contexto, convém notar que, segundo alguns indicadores, em nosso país existem mais de 18 mil corais, os quais mobilizam um número aproximado de 1.500.000 a 2.000.000 de entusiastas pela música coral. (10)
No Estado do Mato Grosso do Sul, na cidade de Nova Andradina, crianças atendidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) participam de um coral onde aprendem, além das notas musicais, a se socializarem e a superar as dificuldades enfrentadas, melhorando assim sua auto-estima (11).
O Informativo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - Edição Especial de Agosto de 2005 - apresenta o case de um jovem que se socializou através do canto coral:
Leonardo Costa tem 18 anos, faz o 2º semestre de jornalismo e é orientador social de uma turma de 25 rapazes e moças do Programa Agente Jovem em uma das regiões mais pobres da cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Como estudam pela manhã, eles se reúnem à tarde, para debater temas de interesse comum. Participam de dinâmicas, fazem aulas de arte, educação e canto-coral. Tudo acompanhado de perto por Leonardo, um jovem que destina boa parte do seu tempo a multiplicar. Mas quem conhece hoje esse rapaz tão participativo, não sabe que as coisas nem sempre foram assim. Desde bebê Leonardo mora com a avó materna. Na adolescência era um menino tímido e fechado. Morava num lugar de extremo risco. Aos 16 conheceu o Programa Agente Jovem: "Então vi que poderia fazer a diferença". Leonardo se descobriu nas aulas de música do projeto e hoje participa de um dos melhores corais da cidade - o da Universidade Potiguar, onde estuda. (12).
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo também vislumbra o coral como uma oportunidade socializadora para seus membros, razão pela qual recebe alunos, ex-alunos, professores, funcionários e componentes da comunidade:
Nestes 35 anos de trabalho comunitário, desde 1973, sob a regência de seu fundador, regente Renato Teixeira Lopes, o CUCA começou como uma atividade ligada aos centros acadêmicos, quando o país vivia o momento da ditadura e precisava escolher para quem cantar. Nesta época, significava para os alunos uma forma de expressão num tempo de proibição das expressões políticas. Hoje o Coral está vinculado a Pró-Reitoria Comunitária e possui 35 componentes, todos voluntários. No CUCA passaram pessoas que buscaram simplesmente a oportunidade de socialização através da música, como outras tantas pessoas que descobriram sua musicalidade
através do canto coral e procuraram o aperfeiçoamento como cantores solos, instrumentistas e/ou optaram pela faculdade de música de outras universidades na formação de regência. (13).
Por ocasião da publicação do Balanço Social referente ao exercício de 2007, a Unimed Volta Redonda apresentou o resultado alcançado com seu projeto de canto coral:
Através da música, o Projeto Coral visa combater o estresse, o isolamento social e aprimorar a expressão em público. Os grupos são formados por pessoas da comunidade, funcionários, cooperados e seus familiares. Reúnem-se uma vez por semana para exercitar o canto. Em 2007, cerca de 600 pacientes receberam o nosso Coral. Com essas apresentações os coralistas pretendem levar aos pacientes e para a equipe médica um pouco da magia do canto. (14).
No Congresso Internacional Co-Educação de Gerações, em outubro de 2003, o Coral do Sesc Pompéia em São Paulo se destacou como agente socializador que propicia, inclusive, um espaço de convivência inter-geracional:
O Coral do Sesc Pompéia em São Paulo possui o mérito de favorecer a formação de amizades, quebrando o isolamento social dos idosos. Nos grupos de canto coral, é possível observar uma troca de experiências agradável e produtiva entre gerações. Parece não haver ali um jovem e um velho, mas duas pessoas sem idade ou atemporais, extremamente identificados em torno de um interesse mútuo. Os interesses comuns são muitos. Acreditamos que as trocas de afeto, reconhecimento e conhecimento entre moços e velhos possam contribuir na edificação de uma sociedade mais justa, mais humana e mais solidária. (15)
A Funarte, com patrocínio da Petrobrás e em parceria com importantes instituições culturais estaduais e municipais, públicas e privadas, vem realizando com sucesso o Painel Funarte de Regência Coral, programa de apoio ao canto coral brasileiro:
O programa Painel Funarte de Regência Coral, que teve origem no Projeto Villa-Lobos, foi criado no início dos anos 1980 e se desenvolveu até 1994, dando intenso apoio ao canto coral brasileiro e permitindo aos coros e seus regentes refinar seus repertórios e trocar experiências, através de laboratórios, reciclagens e cursos de regência. Graças ao acordo com a Petrobrás, retomou em setembro de 2007, com atividades em 6 capitais das diversas regiões visando, com isso, facilitar o acesso de um maior número de pessoas de todo o Brasil, principalmente pelo fato de que não requer qualquer aquisição material, pois sua prática necessita apenas do uso do próprio corpo. Tem um importante caráter educacional e de socialização para cada participante. A formação e o aperfeiçoamento de regentes corais em atuação no Brasil, com a disponibilização de partituras através do site, possibilitará a ampliação desses grupos qualitativa e quantitativamente. (16)
Junker ressalta que no ambiente social “o canto coral tem acontecido como uma manifestação cultural onde pessoas de vários segmentos da sociedade se reúnem com um fim comum, em busca de realização cultural pessoal que será manifesta através de experiência ou vivência da sensibilidade estética” (17)
De 04 a 24 de junho de 2009, ocorrerá na Itália o 18º Festival Corale Internazionale "La Fabbrica Del Canto". Serão duas rodadas, a primeira de 04 a 14 de junho de 2009 com a participação de grupos corais da Letônia, Brasil (18), Alemanha, Japão e Bielorússia. A segunda rodada ocorrerá de 13 a 24 junho de 2009, contando com a participação de 5 grupos corais provenientes do Norte da Europa, Bulgária, Estados Unidos, Cuba e Inglaterra. Os festivais internacionais de canto coral são uma excelente oportunidade para os integrantes de um coro se integrarem e travarem conhecimento com outras culturas.
Para o ano de 2010, está previsto que o Brasil sediará um importante evento internacional na área do canto coral:
A cada quatro anos, em colaboração com a IFCM - International Federation for Choral Music (Federação Internacional de Música coral), um país latinoamericano é honrado em sediar o festival e convidar regentes e coralistas de outros países para participar do América Cantat Coral Festival Latino-Americano. Recentemente, este mesmo conceito foi criado na Ásia, na região do Pacífico. Durante uma semana, coros de renome e prestígio internacional se engajam em atividades artísticas e acadêmicas, reunindo colegas e se socializando. A cada edição do festival, vários workshops e "tours de estudo" são realizados por renomados maestros e compositores de todo o mundo. A América Cantat já ocorreu na Argentina, Venezuela, México e Cuba. O próximo festival será em 2010 e está previsto para ocorrer no Brasil. (19)
Durante a realização do presente trabalho, tive a grata oportunidade de estabelecer contato com alguns renomados profissionais da área musical de vários Estados brasileiros e perguntar-lhes se em sua opinião o canto coral exerce papel socializador. Esses profissionais entendem que a prática coral adequadamente empregada, pode ser uma ferramenta importante nos processos de socialização e propicia a integração dos participantes. Vejamos a seguir as respostas (20):
Luciana Monteiro de Castro Silva Dutra (21)
Acredito que o canto coral seja um dos mais eficientes meios de socialização, só comparável ao esporte. A música feita em conjunto, os ensaios, a distribuição igualitária de conhecimentos e de funções - musicais e sociais - a irrelevância para o canto coral de serem seus cantores pobres ou ricos, a alegria do exercício musical coletivo. Enfim, pela experiência que tenho, tendo sido criada no ambiente coral, acredito que ele não seja apenas um espaço democrático de formação de músicos mas de educação social, e tudo com muita diversão. Precisamos estimular neste país a formação de corais e de bons regentes.
Ângela Barra da Veiga Jardim (22)
Certamente que sim. O gosto estético de cada pessoa difere daquele de seu próximo e respeitar e seguir o gosto e a opinião de outra pessoa, unindo forças com todo um grupo de experiências e capacidades diferentes nos faz muito mais sociáveis. Neste grupo aprendemos a respeitar as pessoas mais capazes que nós e também aquelas com mais dificuldades. Aprendemos a ser mais precisos com nosso ritmo e afinação, somos expostos a culturas e idiomas diversos. Cantar em harmonia de vozes diferentes, em harmonia de sentimentos, unindo forças para um mesmo fim só pode nos tornar seres melhores.
Martha Herr (23)
Qual seja esta função ou a razão dela, tem a ver com o tipo de coro com o qual está trabalhando. Um coro profissional é menos socializador que um coro amador de bairro ou de terceira idade, por exemplo. Especialmente em referência a coros amadores, os membros do coro se juntaram para uma razão específica - para fazer a música em conjunto. De fato, pode existir uma infinidade de razões pelas quais individualmente estas pessoas se juntam, mas a função básica - a 'desculpa' - é cantar junto. É uma sociedade criada para tal função. A sociedade tem pelo menos um diretor - o regente. Também pode ter membros do coro com outras funções (presidente, secretário, arquivista, pianista, etc....) Então, existe a dinâmica entre os membros do coro, que é uma função social. O regente que trata os membros do coro como gente com vidas além paredes e não como entidades cantantes, vai ter um produto muito mais coeso e participante - isso mesmo com coros profissionais.
Renate Stephanes Soboll (24)
Com certeza o coro desempenha uma função socializadora, especialmente os coros que denominamos como "amadores", ou seja, aqueles no qual a maioria dos cantores não possui formação musical no que tange os cursos regulares de música. Eu acredito que este tipo de trabalho com coros universitários, de comunidades e municipais é o que podemos chamar de trabalho de inclusão social. Posso citar como exemplo o meu coro da Universidade Católica de Brasília. Certa vez fomos convidados para cantar na Comissaria Aérea Brasileira aqui no aeroporto. A grande sensação de uma parte do coral era estar no aeroporto e ver de perto pela primeira vez um avião! Os cantores se sentem como parte da sociedade, se sentem importantes, pois aprendem e transferem conhecimento cultural. Acabam tornando-se agentes multiplicadores de cultura e música. Tudo isto numa visão externa e macro. Dentro do âmbito do coro, numa visão interna e micro, os cantores aprendem a se relacionar, a serem humildes no aprendizado e a respeitar o colega. É o desenvolvimento do trabalho em grupo, no qual cada um tem a sua importância e valor. Eles aprendem ainda a enfrentar dificuldades e desafios e a ter auto-estima. Enfim são inúmeras as vantagens que um coro oferece ao cidadão que se agrega a ele, além do desenvolvimento musical e cultural. É o desenvolvimento humano, tão carente em nossa sociedade!
Wladimir Farto Contesini de Mattos (25)
O canto coral é essencialmente socializador, como qualquer atividade realizada por grupos de pessoas (sobretudo atividades regulares e construtivas como as que se estabelecem na prática coral). Variam as caractertísticas deste aspecto de socialização relacionado ao canto coral. Este aspecto pode, por exemplo, ser meramente o resultado da convivência social profissional (como no caso dos corais profissionais, que, nesse sentido, não diferem das orquestras), ou então, este aspecto pode ser justamente a principal finalidade da prática coral (como no caso de corais de empresas, que usam a música e a prática coral como recurso para o desenvolvimento interpessoal).
Rosane Cardoso de Araújo (26)
O canto coral, sem dúvida é uma prática na qual o aspecto socializador é um importante componente. Além do desenvolvimento de habilidades musicais, o coralista tem a oportunidade de envolver-se em uma prática musical de conjunto, ou seja, uma prática que necessita de um grupo de sujeitos envolvidos e engajados em uma tarefa coletiva. Este aspecto, portanto, faz com que seja necessária, em minha opinião, um envolvimento ativo e integrado de todos os componentes do grupo. Neste sentido, a socialização na prática do coral se dá em várias esferas, desde o âmbito das relações individuais dos membros entre si, com seus pares, até uma relação mais ampla, encontrada na idéia de que ali se forma uma pequena "comunidade".
Marília Vargas Paes Laboissière Barreto (27)
Do ponto de vista social e cultural, é muito importante participar de um coral, pois este proporciona o conhecimento da produtividade musical e cultural vivida em diferentes épocas, Ou seja, as pessoas se tornam portadoras de conhecimentos interpretativos históricos e sociais. Fazer parte de coral é uma maneira forte de se inteirar ao conhecimento musical e a sua realização sensível. Assim, o participante se torna melhor culturalmente, o que valoriza a pessoa como ser sócio cultural.
Wellington Gomes da Silva (28)
Acho que o Canto coral tem uma função socializadora, Sim.Como compositor, professor e principalmente ex-regente de coro, vejo que há pelo menos dois pontos de vista que são significativos na função socializadora do Canto Coral: Do ponto de vista da estrutura deste conjunto, fazer música depende uma atitude coletiva, em diferentes naipes ou setores, cuja união dos indivíduos torna-se parte fundamental para os objetivos a serem alcançados - devem estar afinados entre si, sincronizados, concentrados em prol de um objetivo. E ainda com este tipo de conjunto, a arte fica ao alcance de todos independente dos níveis econômico e social - o instrumento é a sua própria voz. Do ponto de vista do fazer musical, o indivíduo é convidado a adentrar no campo da interpretação de uma obra musical - participando da realização da mesma e entendendo de alguma maneira o projeto de uma poética artístico-criativa de um compositor, que é posto em prática por uma coletividade sintonizada com as estratégias deste projeto. Estando diretamente ligado à interpretação da sua cultura musical, este indivíduo conta com a possibilidade de estabelecer uma maior identidade com o seu meio. Sem falar que inúmeros músicos profissionais se encantaram com a música começando sua vida musical num coro qualquer, encontrando um caminho de sucesso e um lugar ao sol no mundo profissional.
Mario Ficarelli (29)
Entendo que a prática do canto coral é realmente socializadora porque cada participante tem que necessariamente colaborar com os colegas para que o resultado seja um só: o melhor que cada um pode fazer com a música e todos juntos emocionarem o público. É como numa orquestra, ninguém pode falhar por descaso ou negligência. É oportuna a frase de Alexandre Dumas: "Um por todos e todos por um." Quando pessoas se juntam para fazer música o comportamento tem que ser o dos três mosqueteiros - cada um tem que dar-se de corpo e alma pelo outro. O regente, então será apenas um aglutinador, um organizador - sem a colaboração igual de todos, por melhor ele seja, não conseguirá nada.
Silvia de Lucca (30)
Tratando “socialização” como o resultado de atividade ou trabalho compartilhado, em que existem trocas e influências recíprocas, podemos abordar alguns aspectos referentes à prática coral: (1) O trabalho de um coro compreende a integração de todos os seus membros para atingir o objetivo final (interpretação de uma peça musical). Isto quer dizer que, por meio da respectiva função individual, todos devem se interar minuciosamente na elaboração e performance de uma execução musical para formar um todo coerente (vide a estrutura de um quebra-cabeça, em que somente a junção correta de cada peça no todo possibilita a composição de uma imagem no final). (2) No coro também está implícito o envolvimento de cada membro do grupo com o compositor da obra trabalhada, ou melhor, com sua estética, por meio do envolvimento sensorial, cognitivo e emocional aí exigidos. Vale lembrar que, nesse sentido, tal estética simboliza o modo de fazer de um outro ser. (3) Inegável considerar o complexo processo de socialização que também ocorre entre o coro e o público no momento de uma apresentação ao vivo, quando uma identificação entre eles é possível por conta da representação de um tempo, espaço, história e cultura que para ambas as partes torna-se aí concretizada. (4) Dentro desse mesmo foco, pode-se abordar um outro aspecto, digamos, psico-social, que ultrapassa a fronteira do musical propriamente dito, embora tenha nele o seu pilar: O trabalho regular entre os participantes de um coro pode criar uma cumplicidade humano-social, cuja expressão-comunicação parece ampliada e aprofundada em sensibilidade. (Isto pode bem ser conferido no filme de Kay Pollak intitulado "A Vida no Paraíso", de 2004).
Paulo Augusto Castagna (31)
Minha resposta à sua pergunta é nem sim nem não, depende da intenção dos envolvidos no coro. É mais ou menos como a religião, é integradora ou separadora? Depende de como é usada. Bem usada promove união, mal usada gera guerras. Penso que um coro funciona da mesma forma, pode gerar a paz ou a total desunião. Tenho fartos exemplos das duas situações, algumas delas vividas pessoalmente, tanto a primeira quanto à segunda. Caso você esteja trabalhando com a hipótese de que o canto coral exerce uma função socializadora, sou da opinião contrária, acho que essa hipótese não se confirma, sendo prova os inúmeros exemplos em contrário que conhecemos. Briga entre coros, briga entre coralistas, demissão de regentes, expulsão de coralistas pelos regentes, conflitos entre diretoria, regentes e coralistas, recusa de coralistas em cantar determinadas obras, em viajar, em cumprir horários, etc. etc. etc. Se assumirmos que, como a religião, o canto coral exerce uma função socializadora se for usado com esse propósito, então precisamos estudar a proposta socializadora e não necessariamente o coral. Assumir que o coral é, em si, a proposta socializadora é, ao meu ver, um grande erro. São duas coisas para mim distintas, que podem ou não ser integradas e, em caso afirmativo, a função socializadora é verificada, mas por conta da proposta e não da forma. Lembro, ainda, que tanto a Alemanha nazista quanto a Rússia comunista incentivaram a prática coral (principalmente a Rússia) e tais coros estavam mais interessados em despertar o ódio ao distante do que o amor ao próximo. No Brasil de Getúlio não foi diferente, o canto orfeônico promovido por Villa-Lobos teve um caráter mais bélico que pacífico. Ele mesmo declarou que fazia mais com a música do que o governo com seus canhões. Então afirmar que o coro é um organismo socializador por excelência não é verdadeiro, é sim bastante falso. A intenção na organização do coro é que é o fator determinante, se for bélico o coro será bélico, se for pacífica o coro será pacificador e socializador.
Jon Flydal Blichfeldt (32)
Sim, eu definitivamente acredito que o canto coral exerce uma função social. Isto ocorre de duas maneiras: Primeiro: ao cantar e trabalhar juntos em um coro, as pessoas se interagem com outras. É um grande contraste com um cantor solista, por exemplo. Se você cantar num coro terá sempre que se adaptar a outras pessoas e, ao mesmo tempo “defender” sua própria voz. Cantando em solo você tem uma performance muito mais livre e pode fazer o que quiser. Trata-se de forças sociais em uma “moldura”. Como um resultado do trabalho, que espero venha a proporcionar uma grande experiência em performances e concerto, em minha opinião, é uma experiência bastante enriquecedora trabalhar em equipe e alcançar uma meta. Nesse aspecto, a atividade coral é bastante semelhante ao esporte. Além disso, existe o aspecto artístico que é absolutamente impossível de definir. Para atingir uma meta artística, juntamente com outras pessoas, é uma grande experiência, e pode integrar mais pessoas. Pessoas que apreciam o valor dos outros e estão abertas para uma maior compreensão de outras culturas, religiões e assim por diante. O contrário também é verdadeiro, pois existem coros com um “clima pesado”, que pode fazer mal as pessoas, naturalmente, a má liderança pode fazer com que as coisas vão muito mal. Mas, eu não acho que isto é um grande perigo, pelo menos não em um coro amador. Isto porque coros amadores são essencialmente constituídos por voluntários. Isto significa que se você não estiver se sentindo bem em um determinado coral, você vai sair e procurar um outro coro para aderir. Segundo: Acho que um coral é uma atividade produtiva socialmente o que faz o coral ser ainda melhor. Isto significa que se as pessoas realmente se conhecem, elas irão cantar melhor. Isto porque cantar é algo muito pessoal. Nunca se pode culpar o instrumento. É a sua própria voz. Se você conhecer e não ficar tenso em relação aos outros integrantes, será capaz de cantar melhor e irá trabalhar mais para alcançar um resultado melhor. Certa ocasião eu trabalhei com um coro, onde ninguém tinha se visto antes. Nós nos conhecemos pela primeira vez em um ensaio realizado num fim de semana, começamos a praticar juntos na sexta-feira. Sábado à noite, o regente reuniu todos os integrantes do coro para conversarem e conhecerem melhor uns aos outros. Ele pensou, como eu, que, se nos conhecêssemos melhor, teríamos um melhor desempenho. Eu próprio como regente de coro trabalho com essas premissas. Boas relações sociais podem fazer melhores coros, e com grandes experiências artísticas em conjunto irão tornar as relações sociais mais fortes! Penso que isto dá uma breve visão, sobre a opinião que tenho sobre este assunto. (33)
Respeito profundamente as opiniões e experiências que me foram transmitidas pelos profissionais aos quais tive oportunidade de consultar; são bastante oportunas e esclarecedoras, cada qual expressou sua opinião sobre a importância do canto coral como ferramenta de socialização e integração mediante a proposta que se pretenda alcançar, se socializadora ou não.
Se o grupo ao invés de ter um comportamento insolente, soberbo e arrogante, for aberto, flexível, franco e respeitoso, onde todos os integrantes do coro, incluindo o maestro, colocam-se em uma posição de colaboração e unidade em todas as atribuições, interesses e anseios até que o objetivo seja alcançado por todos, visando o bem estar, progresso e evolução nos aspectos esperados, então o canto coral como ferramenta de socialização e integração terá êxito.
Caso a proposta seja simplesmente a de estabelecer contato profissional e preparar programa para concerto, existindo ainda o orgulho e o achismo entre músicos e a supervalorização das diferenças e instabilidades humanas, a proposta poderá ser destrutiva e frustrante para todos, até mesmo, para o público que existe apenas como mero expectador.
2.4 O regente: líder e mediador nos processos de socialização
O papel do regente é dar uniformidade a um grande contingente vocal para que todos os integrantes sigam com coesão e de forma harmônica o tempo, a dinâmica e o andamento indicado na regência, pois sem ele, cada coralista certamente perderia a marcação do tempo em relação aos outros.
Ciente da grande responsabilidade e dever do regente frente ao grupo coral que lidera, Carrington admoesta que é prerrogativa do regente ser também um preparador vocal:
Independente do nível inicial do coro, decida sobre um som coral ideal e trabalhe para desenvolvê-lo. Por exemplo, um som limpo, saudável, alto, com uma variedade de cores, do brilhante ao escuro, do frio ao caloroso, do forte ao suave. Um som flexível, mas com intensidade constante, e um vibrato controlado, que pode variar sem esforço e rapidamente desde nenhum até um vibrato moderado – assim como o vibrato de um excelente instrumentista de corda. (CARRINGTON, 2003. p. 29)
O regente além de ser o responsável pela boa performance do grupo, é também o principal líder do grupo coral, é aquele que dita o modus operandi, impondo na maioria das vezes a sua "interpretação" à obra musical. Porém a figura do "regente ditador", arrogante e prepotente está em decadência há um bom tempo, e os corais de universidades, empresas, instituições públicas ou privadas, vêm preferindo regentes que se coloquem no mesmo nível dos outros integrantes do
coral, sabendo que estão juntos para fazer música e não impor seus caprichos. Por meio de sua liderança o regente pode auxiliar na formação musical e humanista dos integrantes do coro, representando assim um forte elo para a ampliação da cultura e da socialização dos participantes.
Neste sentido, Ricardo Rocha ensina:
Já foi extinta a era do temperamental e do ditador – comportamentos típicos do final do século XIX até meados do século XX. Nestes nossos tempos do ‘politicamente correto’, o regente moderno, sobretudo o brasileiro, não pode mais confundir autoridade com autoritarismo, rigor com rigidez, seriedade com sisudez e daí por diante. Não se ganha mais nada no grito, porém na tentativa de consenso através do esforço real de compreensão das partes envolvidas, sustentada na emanação do carisma e da autoridade pessoal. (ROCHA, 2004, p.67)
Pereira e Vasconcelos apontaram que “a relevância do canto coral na vida em sociedade é algo material e concreto devendo ser ressaltado pelos cursos, e os regentes não podem ficar alheios a essa complexidade, na qual, estão inseridos seres sociais e singulares”. (PEREIRA; VASCONCELOS, 2007 p. 113)
No entendimento de Fucci-Amato e Amato Neto é de fundamental importância a liderança exercida pelo regente frente aos integrantes do coral, por esta razão deve além de desenvolver sua autoridade como líder, trabalhar com aspectos motivacionais, entendendo que liderar não é impor mas sim despertar nos outros o desejo de fazer o melhor em prol do grupo:
O regente de um coral, no papel de liderança de um grupo social e de condução de um trabalho artístico que envolve um grupo diversificado como um coral, deve ter a capacidade de estabelecer critérios, motivar cada um de seus liderados (coralistas) e levá-los a uma meta estabelecida. A partir desse processo, pode-se gerar e difundir conhecimentos musicais e vocais, estimulando o aumento da qualidade de vida dentro de uma organização ou comunidade e buscando um crescimento gradativo e constante do conjunto, tanto em nível musical e artístico, quanto em nível social. A compreensão dos diversos níveis de ação de um coro e o estabelecimento de metas e papéis no processo de criação e (re)produção artística são também imprescindíveis para a eficiência do grupo. Cabe ressaltar que tal processo somente pode ser concretizado a partir da união do conjunto em torno de objetivos comuns, exigindo, assim, a atuação do regente como um líder que, ao conjugar sua autoridade a um processo de gestão participativa, obtém os resultados almejados junto aos seus liderados, para os quais a motivação constitui o elemento-chave para a geração de interesse e compromisso com a atividade praticada. (FUCCI AMATO; AMATO NETO,2007, p.11)
Sobre a questão da liderança do regente frente ao coro, Mathias é um dos pioneiros no Brasil a enfatizar aspectos relevantes acerca do papel do regente como líder. Assim ele admoesta:
O regente, líder, é aquele que faz com que as pessoas cresçam, aquele que valoriza o esforço de cada elemento através de inter-relações pessoais, buscando uma unidade dentro do grupo. E só poderemos conseguir essa unidade pela fraternidade, nos conhecendo melhor em nossas aspirações e nos compreendendo melhor em nossas limitações. Cada regente deve sentir as necessidades de seus cantores e propiciar-lhes momentos de descoberta, fazendo com que cada um se perceba uma peça importantíssima dentro da engrenagem social. Os discípulos são um reflexo de seu mestre. (...) O seu serviço em prol do bem comum, seu carisma pessoal contagiando as pessoas, sua crença na ação transformadora evidenciam sua competência. (MATHIAS, 1986, p.18)
Um dos desafios do regente é manter o grupo motivado. No olhar de Spitzer:
“motivação é a força mais poderosa que existe, pois libera a energia emocional contida em todos nós e tem o potencial de energizar as pessoas para que estas tenham um desempenho humano extraordinário” (SPITZER, 1997, p.31).
Para que o regente mantenha seu grupo devidamente motivado, ele precisa necessariamente exerçer uma liderança eficaz, neste sentido, Willingham aponta um conjunto de valores básicos que devem dirigir seus atos, decisões e posturas:
I. Liderança: gente quer ser conduzida e não mandada.II. Visão: gente quer saber que rumo está seguindo.III. Orgulho: gente quer ser valorizada.IV. Coerência: gente confia em você quando o vê agindo corretamente.V. Comunicação: gente desempenha melhor quando você é franco com elae respeita seus anseios e idéias.VI. Confiança: gente quer estar certa de que você se comportará sempre deforma justa e coerente.VII. Caráter: gente descobrirá e será influenciada pelo que você é.VIII. Responsabilidade: gente sente-se segura em relação a você e a elamesma quando você cumpre com seus compromissos e exige que elafaça o mesmo.IX. Integridade: gente o respeita quando vê que você pratica o que prega.X. Sabedoria: gente o respeita quando percebe que você age comimparcialidade e respeito pelos outros. (WILLINGHAM, 1999, p.11-12).
Cohen apresenta sua visão sobre liderança: “em última análise, liderança é mais do que um conjunto de ferramentas e escolhas; quem é você é a consideração mais importante quando quiser saber se alguém desejará segui-lo”. (COHEN, 2003, p.277).
No que tange à questão da performance do coro, Snizhana enfatiza a importância do regente coral possuir múltiplas habilidades pessoais e musicais:
A Regência é uma parte muito importante da interpretação e produção musical, onde mais profundamente se revela a sua essência. A responsabilidade do regente é grande, pois ele aparece como intermediário necessário entre compositor e ouvinte e está no centro da corrente: composição – interpretação – recepção. Ele deve possuir muitas habilidades pessoais e musicais para participar genuinamente de todos os elos desta corrente. (SNIZHANA, 2008, p.1)
Para Fucci-Amato o regente é o principal responsável por dar o tom no tratamento que irá culminar no sucesso e na integração dos coralistas: neste sentido ele é um verdadeiro gestor de pessoas:
Ao participar de um coro, pode-se efetivar a integração interpessoal – por meio do tratamento do regente visando à igualdade na transmissão de conhecimentos novos para todas as pessoas, independente da origem social, faixa etária ou grau de instrução – e se promover a motivação, pela própria natureza desta atividade – artística e criadora que permite envolver os coristas em um processo de “fazer o novo” (cantar diferentes repertórios, apresentar-se em diversos locais, etc.). Além disso, há uma motivação intrínseca à construção de conhecimentos de si (de sua voz, de seu aparelho fonador, de suas habilidades artísticas) e da realização da produção vocal em conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com qualidade e reconhecimento mútuo – entre os coralistas e por parte de expectadores diante do grupo vocal (...) a motivação no canto coral se configura como um processo que somente pode atingir sua eficácia a partir de um processo de liderança do regente, que, fazendo uso de habilidades de gestão de pessoas, há que desenvolver um ambiente humano propício à (re)criação artística coletiva. (FUCCI AMATO, 2008, p.1)
Em outro trabalho, Fucci-Amato enfatiza algumas habilidades que considera essenciais ao regente coral:
Os conhecimentos musicais indispensáveis à direção de corais, conjugados a uma série de habilidades e competências referentes não somente ao preparo técnico musical, mas também à gestão e condução de um conjunto de pessoas que buscam motivação, aprendizagem e convivência em um grupo social, permite uma abordagem dos diversos aspectos do grupo, concretizando a aprendizagem musical, o desenvolvimento vocal, a integração e a inclusão social. (FUCCI AMATO, 2005, p.5)
Um problema que pode prejudicar o grupo coral é o conflito pessoal entre participantes, afinal, se vir a ganhar dimensões maiores poderá comprometer o trabalho e o próprio grupo. Neste contexto, o regente precisa agir com imparcialidade; estar apto a conduzir de forma tranqüila e com habilidade a situação problema no momento apropriado para não permitir que o grupo todo venha a se abalar.
Na visão de Lira:
Melhor do que saber reconhecer um estado de crise é aprender a identificar o nascimento do que decerto evoluirá para um conflito. Esta identificação se dará na leitura de sinais e informações, sejam eles diretos, indiretos ou truncados, que o líder perceberá em determinados integrantes do grupo que funcionam como “antenas receptoras” de conflitos. Outra medida preventiva é a aferição do grau de satisfação dos integrantes através de reuniões periódicas. (LIRA, 2006, p. 32-33)
Nesse sentido, Rocha, esclarece que para isso o regente necessita montar um mosaico com as informações recolhidas a partir dos integrantes do grupo a fim de aferir o que realmente está acontecendo:
A aferição do grau de satisfação dos integrantes (pode se dar) através de reuniões periódicas (bimensais, semestrais, anuais, etc.). Tal levantamento poderá ser feito através de uma pesquisa interna com perguntas chave, podendo ser as respostas apócrifas ou não. Esta pesquisa deverá abrir espaço, também, para críticas e propostas, igualmente anônimas ou não. A satisfação individual e coletiva, tanto no ambiente de trabalho como em relação ao projeto em que se está engajado, é fundamental para o êxito de todo e qualquer empreendimento. (ROCHA, 2004, p.71)
Outro aspecto relevante que precisa ser desenvolvido pelo regente é o senso de comunicação eficaz, procurando ter um retorno de cada integrante ou seja, dar e receber uma resposta com intuito de ter sucesso na comunicação. A ação comunicativa pode ser observada nas relações interpessoais, onde de forma criteriosa observa-se desde o tom de voz à postura corporal ou até mesmo nas expressões verbais e não verbais.
Para Robinson, os ensaios regulares são muito importantes para o desenvolvimento da psique do grupo:
Mesmo que a atividade coral realmente alcance a platéia ou congregação na apresentação pública, é, na verdade, nos ensaios regulares que a experiência coral encontra sua identidade verdadeira; colocado de maneira mais simples, o local da verdadeira experiência coral é o ensaio. É aqui, sob a direção de um regente inspirador, que um grupo coral com sensibilidade desenvolve sua psiqué. (ROBINSON, 1976 apud LAKSCHEVITZ, 2002, p.8)
A má comunicação está diretamente ligada ao conflito, pois as pessoas têm interesses diferentes e o fato de eventualmente não se expressarem de maneira adequada acabam por gerar uma comunicação defeituosa com interpretações distorcidas e pensamentos equivocados.
Aguiar, Escrivão Filho e Rozenfeld advertem que:
Há a necessidade de que os regentes assumam o papel de facilitadores do trabalho da equipe que coordenam, incentivando o aparecimento de novos talentos, administrando de forma contundente os conflitos que possam aparecer durante a execução do trabalho e acima de tudo, preocupando-se em motivar realmente cada um dos integrantes desta equipe (AGUIAR, ESCRIVÃO FILHO e ROZENFELD, 1998, apud FUCCI-AMATO, AMATO NETO, 2007, p.6)
Para Rocha, a resolução de problemas em um coro pode ser resumida em três etapas, segundo essa abordagem:
Reconhecimento do conflito e de suas fontes: o regente deve avaliar se o conflito está sendo provocado pelo inchamento de egos, por diferenças na qualidade e na produtividade musical entre indivíduos ou por boatos e fofocas; Reflexão, definição e aplicação de soluções para os conflitos: o regente deve procurar nivelar os indivíduos e seus níveis de produção e, utilizando-se de sua habilidade de comunicação, esclarecer os boatos, fornecendo informações completas sobre o fato; e Ação preventiva: o regente deve desenvolver forte atividade de comunicação com o grupo, empreendendo pesquisas sobre o grau de satisfação dos coralistas e buscando realizar uma gestão participativa dos processos na qual prevaleça o consenso. (Rocha 2004, apud FUCCI-AMATO, AMATO NETO, 2007, p.10)
Heller ensina:
Uma vez que o conflito tenha sido identificado, o [regente] deve discuti-lo com as pessoas envolvidas. Essa é basicamente uma tarefa para os ouvidos – ouça as pessoas sobre o que elas acham que está acontecendo. Ao mesmo tempo, use seu conhecimento prévio sobre elas – e observações feitas em reuniões – para avaliar atitudes e preconceitos. O que elas dizem e o que fazem ou sentem são coisas diferentes. Essas pessoas têm segundas intenções? Estão escondendo alguma informação ou emoção lá no fundo? As reações lhe dirão se a fidelidade ao grupo e seus objetivos é mesmo forte. Se for, a pessoa vai querer sinceramente achar a raiz do problema e ficará contente em cooperar com você o máximo que puder. Se alguém apenas culpa os outros e esvai-se em justificativas, confronte-o e questione sua reação defensiva. Lembre-se: problemas pessoais entre os membros do grupo devem ser resolvidos de forma construtiva; não faz sentido reagir a qualquer dificuldade até que você esteja certo de saber a causa real; há sempre “novas montanhas” para o grupo escalar; a “cultura da culpa” deve ser cortada na raiz – de outra forma ela matará o espírito de equipe. (HELLER, 1999, p.47)
Sem dúvida os conflitos entre membros do coro podem se tornar problemas para todo o grupo. O regente na qualidade de líder deve enfrentar tais situações tão logo surjam com o objetivo não de encontrar culpados e fazer críticas, mas de encontrar uma solução aceitável para todo o grupo.
Um dos aspectos mais excitantes do trabalho do regente é identificar novos desafios e conduzir seu grupo sempre para frente, em direção a desafios maiores e melhores.
Durante a realização deste tópico do trabalho, estabeleci contato com alguns regentes de renomados corais e lhes fiz a seguinte pergunta: “Em sua opinião, como o regente pode desenvolver com eficácia uma função de mediador nos processos de socialização dos integrantes do coro? Justifique.”
A seguir, as respostas dos regentes no tocante a essa questão:
Lúcia Teixeira (34)
O regente pode desenvolver a função de mediador por meio de atividades de integração com o coro, visando à formação de um grupo coeso, confiante de suas potencialidades e capaz de responder rapidamente ao regente. Dessa maneira poderá facilitar o trabalho coral em todas as suas instâncias, desde o reflexo no equilíbrio dos naipes, na questão da resposta à dinâmica, entre outros aspectos.
Rosemeri Paese (35)
Quando fazemos um trabalho em grupo, inevitavelmente as relações Interpessoais ocorrerão, porém a maneira como ela se dará dependerá de cada indivíduo, mas também da condução do regente do grupo. Especialmente, quando se refere ao trabalho coral as relações entre os integrantes devem ser observadas, pois a voz encontra-se dentro de cada indivíduo; é através de suas emoções que os cantores encontram os elementos para a interpretação das obras. O regente deve favorecer a socialização entre os componentes de diversas maneiras:
- Promovendo atividades em pequenos grupos vocais que se responsabilizem pela interpretação de algumas obras, apenas como atividade complementar, fazendo com que estes grupos mudem de integrantes nos ensaios.
- Convidar os integrantes a dizer o nome de seus colegas por meio de jogos, favorecendo a descontração do momento e a consequente aproximação entre diversas pessoas.
- Lembrar dos aniversariantes do mês, estimular confraternizações, pois é no ambiente informal que o relacionamento acontece de forma natural.
- Tornando o ambiente de trabalho agradável e harmonioso o regente propiciará o bom relacionamento entre os integrantes. Não que a seriedade no momento da marcação da interpretação não deva estar presente, mas que as informações sejam passadas com leveza. O bom humor do regente, costuma ser muito benéfico para o desenvolvimento do trabalho.
- Também pode existir um profissional para atuar nesta área: um ator, bailarino, diretor de teatro, e que esteja sempre em sintonia com o regente nas propostas a serem trabalhadas.
Maestro Emanuel Martinez (36)
O fato de um regente atuar em coros amadores de todos os níveis como: empresas, escolas, igrejas, grupos independentes amadores, outros tipos de grupos; já faz com que essa função social seja inerente à atividade do regente. Muitas pessoas aprendem a sociabilizar-se dentro de um grupo artístico, como um coro, exclusivamente pelo ato de cantar e pelo ato de ter de conviver com outras pessoas muito diferentes dele, porque cantar num coro não é uma ação privativa e individualista, há uma troca de afinidades artísticas, há um entrosamento musical imprescindível para um coro obter sucesso em sua lide, há um apelo pedagógico e disciplinar obrigatório ao desempenho da função e também o ato de ceder, abrir mão de alguma coisa por alguma coisa. Nesse ponto o maestro do coro é a pessoa que conduz, orienta, direciona, seduz em todo esse processo de socialização de seus integrantes. Sua liderança tem de se fazer presente sabendo administrar as diferenças, egos, diferentes personalidades, diferentes marcas de caráter e características individuais, seus conhecimentos devem ser amplos em várias frentes para serem aplicados com precisão e conhecimento de causa, o maestro precisa ser um cidadão, precisa verter cultura ampla, necessita ser firme em suas decisões e acima de tudo saber ouvir, porque somente dessa forma poderá decidir o melhor para seu grupo. Cada grupo possui características específicas e cabe ao maestro se adaptar a elas. A função de socialização do regente é uma das tarefas mais complicadas, e esse conhecimento hoje em dia se faz necessário. Não existe mais o maestro totalitário, não existe mais o maestro uno, e é partindo dessas premissas que o maestro de coro deve saber despertar a socialização de seus integrantes, não só no sentido musical, mas também e especialmente no sentido interpessoal.
Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo (37)
Creio que a socialização na prática coral é um elemento vital para a existência e desenvolvimento do grupo. O regente é diretamente responsável por todos os aspectos que envolvem a prática coral, em maior ou menor grau. No caso da socialização, creio que o regente deve motivar e propor atividades que envolvam as pessoas além do cantar. Reuniões sociais, festas, dinâmicas de grupo para que as pessoas se conheçam melhor durante os ensaios, trabalhos com pequenos grupos do coral, todas estas são estratégias que podem ser desenvolvidas pelo regente em nome da socialização do grupo. A eficácia das ações dependerá da percepção do regente sobre os resultados alcançados com diferentes estratégias. É fundamental que o regente esteja atento para o que os cantores pensam, como eles reagem a determinadas motivações, e o que eles gostariam de desenvolver em sua prática coral. Se o regente estiver atento aos cantores, ele certamente poderá contribuir para o desenvolvimenbto de todas as ações do grupo, inclusive para a socialização do mesmo.
Helma Haller (38)
Cada Coro é o reflexo do seu Regente. A postura, ao reger, não é apenas uma questão formal superficial, mas sim um estar e movimentar harmonioso visando sempre a obra de arte que está em construção. Também cabe refletir sobre a postura interior do regente. Qual é seu objetivo, qual é sua ética, qual seu relacionamento com os coralistas, qual sua relação com a estética da obra musical. O regente, como qualquer líder tem uma influência muito grande sobre seus liderados, e seu caráter estará sempre sendo posto à prova. A postura do regente é uma qualidade intrínseca que reflete o seu caráter, sua honestidade, suas motivações ao fazer música e o seu tratamento com as pessoas. Todas essas questões se refletem na condução do seu trabalho, e na formação dos seus alunos. A capacidade de contágio partindo do regente não deve ser subestimada. A postura interior e exterior deve transmitir concentração absoluta, energia direcionada, atenção individualizada e um completo domínio da situação, tanto do ponto de vista artístico quanto humano. Sendo assim, o regente é sempre exemplo dos seus cantores. Se ele fizer acepção de pessoas, tiver suas preferências, também seus liderados agirão assim. Se o regente, por sua vez, não der ouvido a falatórios, calúnias, mas for direto e franco ao enfrentar seus desafios, estará contribuindo para um processo de socialização mais honesto. Tratando seus liderados com respeito e consideração, estará preparando-os para tratarem assim também uns aos outros. Além disso, o coro é um ótimo espaço para desenvolver consciência de grupo: todos cooperam para um determinado resultado, depende de cada um, mas cada um sozinho não consegue este resultado.
Samuel Moraes Kerr (39)
Quando o regente trabalha com competência, quanto o regente ama o seu trabalho, quando o regente estima seus comandados, quando o regente está se expressando artisticamente, ele é um eficiente mediador no processo de socialização dos integrantes do coro ou de uma orquestra ou de qualquer formação vocal ou instrumental sob sua responsabilidade. Arte só é Arte quando ela é prestação de serviço. Música em sala de concerto, de casaca, não me interessa. Todos têm o direito de participar de uma atividade musical. Quanto mais talentoso for o músico, maior é sua responsabilidade em estudar e devolver à comunidade a sua música. Como ele vai devolver a comunidade o brilho do seu talento é o momento em que começa a fazer sua carreira, constituir o seu currículo. Quanto mais ele fizer pela comunidade, mais artista ele se revelará. Onde houver gente fazendo música tudo está bem, ou a caminho de ficar bem e todos viverão em comunhão.
Eduardo Lakschevitz Xavier Assunção (40)
Acho que a maior questão envolvida em sua pergunta é a idéia que de maneira geral se tem do regente coral: um maestro especializado em música vocal. Em outras palavras, o regente é tido por muitos (e, não raro, por ele mesmo) como um músico, um intérprete. Esta pré-concepção já coloca o regente numa posição ativa, autoritária, tal como muito frequentemente vemos nos regentes de orquestra. Assim, parece que o regente precisa “fazer alguma coisa” para instigar esse “processo de socialização”. Acaba sendo uma coisa dúbia, pois essa posição de autoridade forçada é, na sua essência, exatamente oposta à idéia de socialização. Então, para alcançar o objetivo que você propõe em sua questão, o regente deve primeiramente “descer do pódio”, ver-se mais como parte de uma grande engrenagem, para, enfim, perceber o processo de socialização que lá ocorre, e dedicar-lhe (ou não) a importância devida. Samuel Kerr diz que um coro é a voz de sua comunidade, e que uma das funções mais importantes do regente é saber ouvi-la. Bem, isso somente acontecerá se esse regente tiver uma “audição social” aguçada, ou seja, se ele se entender como parte do grupo, e não como “chefe supremo”. Nessa linha vale sempre lembrar Paulo Freire, e a crítica que faz à “educação bancária”, onde conhecimentos são simplesmente depositados na cabeça do aluno. Mais que um músico, o regente coral precisa se compreender como um educador.
Rubens Russomano Ricciardi (41)
A questão requer antes uma definição conceitual do que se possa compreender pelo tal "processo de socialização", penso que o coro, assim como uma orquestra, ou entendendo-se ainda de uma maneira mais ampla, qualquer grupo humano, incontornavelmente heterogêneo e por sorte culturalmente promíscuo (ou seja, em suas interfaces e influências através da diversidade de costumes e cotidianos), apresenta toda sorte de dificuldade e riqueza no que diz respeito às relações humanas entre coralistas, assim como entre o regente e cada coralista, portanto, resta ao profissional que é na verdade um professor antes de mais nada (mestre, maestro, regente, condutor, chefe, responsável artístico etc.) aproveitar o potencial de cada um individualmente e fazer com que o grupo como um todo funcione enquanto unidade e instrumento coletivo de performance musical, de acordo com a linguagem e estilo de cada obra ou repertório, assim, o que importa, finalmente, é o resultado artístico, daí, o próprio professor tem que ser antes ele mesmo um verdadeiro artista de uma grande arte, pois não será uma mera política de "socialização" que trará benefícios tanto do ponto de vista do ser humano coralista como deste enquanto músico, portanto, não há pedagogia nem epistemologia que garanta por si só esta interação em nome da música (e este é o verdadeiro fim).
Sergio Igor Chnee (42)
Em minha opinião, a própria música se encarrega disso. Se o regente souber fazer a música fluir e especialmente se ele tiver um gestual muito claro e expressivo, o grupo reagirá naturalmente. Ao fazer isso, os membros do grupo estarão se alinhando naturalmente. Em conversas antes e depois de ensaios e apresentações e mesmo fora do âmbito dos encontros do grupo, os membros tenderão a falar de assuntos comuns às experiências trocadas. Enfim, se o regente tiver boa empatia com o grupo, o mesmo terá uma boa dinâmica de grupo naturalmente.
Júlio César Ferraz Amstalden (43)
Acredito profundamente nos coros como instrumento de socialização. Eu entendo o papel do regente mais como um educador do que propriamente um artista. Não se trata de afirmar que essa dimensão desaparece na atuação do profissional, mas o papel de educador emerge quando o regente atua como um possibilitador, como aquele que desvela horizontes novos: repertórios, sonoridades, harmonias. E esse desvelar consiste em ir além dos aspectos meramente técnicos, pois penso que é possível dar forma e significados humanos ao processo de preparação de certo repertório. Assim, por exemplo, penso ser possível estabelecer relações de cumplicidade entre os naipes através da explicação em linguagem simples e acessível, às vezes figurada, das relações harmônicas (de tensão e resolução) entre as vozes. Sempre é possível se estabelecer paralelos com a vida real e as relações entre as pessoas. O coro pode ser encarado como um microcosmo onde as situações da vida real são reproduzidas, não somente no que diz respeito à mecânica de seu funcionamento, mas também pela contextualização dos repertórios em suas origens sócioculturais e históricas, fazendo com que os coralistas entendam que o que cantam é forma de representação de um pensamento de determinada época e cultura e que, por diferentes que sejam geográfica e culturalmente, falam da experiência humana, que é universal. A compreensão é potencializada pela capacidade que a música tem de falar a dimensões que a verbalidade e a racionalidade não alcançam. É nesse sentido que narro um fato dentro da minha experiência: trabalhei por 10 anos como regente de um coral universitário, no qual fazíamos repertório variado, de arranjos de MPB a música erudita. A faixa etária dos meus coralistas era de 20 a 25 anos. Em certa ocasião, loucamente, decidi fazer com eles a Missa de Réquiem de G. Fauré, em sua versão camerística. E os ensaios começaram. Tecnicamente, as coisas iam bem, mas não sentia que eles estavam entendendo o que estavam fazendo, por mais que eu tentasse explicar. Falar de morte para pessoas tão jovens é bastante difícil mesmo, pela distância que essa faixa etária naturalmente tem dessa realidade. Aconteceu então que uma coralista, já afastada do grupo havia alguns meses, tragicamente suicidou-se durante o período em que preparávamos a obra. E foi então a partir desse fato triste que os membros do coro tiveram um insight a respeito do Réquiem, fazendo com que a "ficha caísse" em relação de tudo o que havíamos conversado sobre aquela obra. E, para mim, a prova de que eles entenderam o significado sutil da obra está no fato de que, nos dois concertos que apresentamos (foi pouco, mesmo), muitos ouvintes se emocionaram. Os coralistas, percebendo a comoção da platéia, entenderam que estabeleceram uma comunicação profunda entre eles e o público. Foi uma experiência tão marcante que esses jovens hoje, sete anos após a realização da obra, ainda lembram-se com intensidade do Réquiem, apesar de já há muito não serem mais coralistas. Quando se encontram, o Réquiem é sempre rememorado como uma marca do antigo coro. E o fato de esses jovens ainda hoje se encontrarem, apesar de espalhados Brasil afora, é para mim um testemunho desse poder socializador do canto coral. Em resumo, penso que se o regente sabe explorar a prática coral como exercício de reciprocidade, coletividade e interatividade, desde o aquecimento até a construção da execução, fundamentando suas analogias ao vivenciado nas práticas sociais do dia-a-dia (e aqui devemos nos lembrar de Paulo Freire), os coralistas recebem não apenas educação musical, mas educação humanística, que os aproxima e os identifica. Penso ainda que o regente tem de procurar igualmente uma postura de diálogo, de falar mais na horizontal do que na vertical, de despir-se das auras de "semideus" (tão típica do século XIX e ainda tão forte entre nós) e vestir-se da experiência humana, igual para todos; enfim, buscar um diálogo e uma mediação. Isso reverte em comunicação e, consequentemente, em socialização.
Alberto Cunha (44)
Considerando que estamos falando de coros amadores, cujos integrantes não possuem instrução musical, acredito que o regente coral pode exercer essa função de mediador apoiando-se na realização musical. Os grupos corais abertos à comunidade apresentam como característica a heterogeneidade de seus integrantes, do ponto de vista cultural, econômico, social e etário. O idioma comum que todas essas pessoas falarão será a música, e é através dela que o regente poderá proporcionar uma convivência mais enriquecedora entre os integrantes do grupo. Ao final de um período de trabalho (uma temporada de um ano, por exemplo) observamos uma integração muito efetiva dos cantores. Como o regente representa um modelo de autoridade, deve ser sempre cuidadoso com suas palavras e ações, no sentido de tratar todos com igualdade, evitando qualquer tipo de discriminação.
Maestro Dr. Sérgio A. Canedo (45)
O aspecto socializador que o regente teria diante do coro ou do grupo não é ou deveria ser uma questão específica e muito menos a de ser eficaz em tal socialização. Considero que é específica a sua formação de músico e então de realizador de música, o que deve nortear qualquer procura e ser dela derivado, inclusive o provável papel de socializador. Será somente por necessitar da interação com o grupo coral que o regente procurará aprimorar sua capacidade de convencimento e de liderança, sempre em função do que quer da música a ser feita. O papel de socialização que o regente possa vir a desenvolver é secundário, ou seja, ele é decorrente da atividade primária e mais significativa que é a de realizar música de qualidade com os integrantes do coro. O regente, ao menos numa discussão ideal, é um profissional especializado na arte da música, da qual deve conhecer a linguagem com bastante abrangência; é dessa qualidade de condutor que se procurará abordar. Não se desconhece, no entanto, que sua tarefa, até porque é a de realizar música, requer grande capacidade de convencimento. Isso vai variar segundo o regente, e teremos aí, então, aqueles que são realmente capazes de conduzir sua atividade. Eles serão entendidos como: autoritários, enérgicos, temperamentais, amáveis, dóceis, tenazes, etc. Tais perfis dizem respeito a aspectos muito recônditos para a realidade objetiva, dentro ou fora da atividade; são atinentes à formação, experiência de vida ou, quem sabe até, à genética. Podem relacionar-se a elementos vários e inter-relacionados, como de que classe e meio veio, como lidou com suas facilidades ou dificuldades, sociais ou individuais, se fez ou não terapia, se teve uma grande experiência musical e então é mais ou menos seguro, etc. Resulta, seja como for, que tudo isso irá ou deverá resultar numa realização eficaz de seus objetivos, seja qual for o perfil. A verdade de sua busca deverá estar plasmada na interpretação da música que considera válida e que realmente realizar, e se dará por conseguir submeter o coro a essa designação. Assim, visto o funcionamento do coro na própria atividade, que poderíamos dizer serem os ensaios e as apresentações, creio que será uma primeira questão de relação social aquela que se dá entre a personalidade do regente e o coro na procura de fazer música. Creio haverem aí "reflexos socializadores", porque a realização mesma da música coral centra-se na função do regente, que é o agregador final da reunião daquelas pessoas.
2.5 O resgate da educação musical no ensino básico
Como cidadãos muitas vezes nós nos sentimos inseguros quanto à formação cultural proporcionada em nosso país. A formação de valores cívicos, morais e culturais de um povo se dão notadamente através da educação.
Existe uma grande preocupação na busca pela recuperação de regras e valores cívicos, éticos, de convivência social e respeito mútuo. Nesse sentido, Rogers, partilha dessa mesma inquietação:
Em quase todos os países, a juventude está profundamente insegura quanto à sua orientação de valor; os valores associados a diversas religiões perderam muito de sua influência; em cada cultura, os indivíduos parecem hesitantes e perplexos quanto aos objetivos que respeitam. Não é difícil encontrar as razões para isso. Em todos os seus aspectos, a cultura mundial parece cada vez mais científica e relativista (...) O indivíduo contemporâneo é agredido por todos os lados por afirmações divergentes e contraditórias de valor. (...) Não é surpreendente que as orientações de valor do passado pareçam em estado de desintegração e colapso. Os homens perguntam se existem, ou podem existir, quaisquer valores universais. Frequentemente, sentimos ter perdido toda a possibilidade de um fundamento geral intercultural de valores capazes de sustentar-se no mundo atual. Eu partilho desta preocupação geral. (ROGERS, 1991, p.13-14).
Moreira e Silva apontam a escola como uma instituição adequada a propiciar um ganho de capital social (46):
A escola como instância de socialização, e propícia para assegurar finalidades sociais e éticas na formação dos recursos humanos, com que o país contará neste século, assume um papel decisivo na formação de cidadãos num contexto de participação democrática e consciente na vida pública - exigindo-se, pois, que contribua para um desenvolvimento global e integrado dos jovens. Vivemos num Estado democrático de Direito, onde se justifica a tomada de posição a favor de valores morais, próprios de uma democracia pluralista preocupada com o bem-estar e a justiça. (47)
Conforme apresentado neste trabalho, o canto coral constitui uma ferramenta importante para os processos de socialização e integração da pessoa humana, agregando valor ao capital social do indivíduo.
A escola é um dos ambientes propícios para o desenvolvimento da historicidade de vida das pessoas em âmbito social, político, cultural, econômico, com capacidade de fortalecer a identidade social e revitalizar a nação, podendo gerar no indivíduo o desejo de participar mais ativamente da sua comunidade.
Tendo isso em mente, Heitor Villa-Lobos, propagou o canto orfeônico no ensino escolar brasileiro. Conforme Giloli:
O canto orfeônico já vinha sendo estabelecido de maneira extra-oficial como experiência pedagógica, por músicos como Fabiano Lozano e João Baptista Julião, desde o decênio de 1910. No entanto, o caráter marcadamente civilizatório e nacionalista dessa prática musical só seriam de fato desenvolvidos após o projeto villalobiano de educação musical, incentivado pelo governo Vargas (GILOLI, 2003 apud PAGLIA; SCHAFFRATH, 2007, p.1)
Tratando da questão do canto orfeônico como disciplina obrigatória (48) nas escolas brasileiras a partir de 1931, durante o governo de Getúlio Vargas, a participação de Heitor Villa-Lobos foi fundamental, como veremos, a seguir.
2.5.1 O projeto villalobiano como proposta socializadora e integradora
O Maestro Heitor Villa-Lobos sempre teve a visão de que a educação musical cumpre com um papel eminentemente socializador
O poder de socialização do canto coletivo foi reiterado por Villa-Lobos inúmeras vezes. De fato, sua grande figura, como educador e criador de inúmeras obras voltadas exclusivamente para a realização do estudo do canto orfeônico, pode ser entendida na perspectiva do desenvolvimento do cidadão brasileiro e de suas potencialidades musicais, já que a música foi por ele considerada um fator intimamente ligado à coletividade (FUCCI AMATO, 2007, p. 217)
Nas palavras do próprio Villa-Lobos, citadas na obra de Paz, o maestro descreve seu sentimento a respeito das organizações orfeônicas, as quais conheceu em países europeus. Por esta razão, colocou toda a sua força a serviço da educação, da sociedade e acima de tudo de sua pátria:
Não se pode desejar que um país adolescente, em estado de formação histórica, se apresente desde logo com todos os seus aspectos étnicos e culturais perfeitamente definidos. Entretanto, o panorama geral da música brasileira, há dez anos atrás, era deveras entristecedor. Por essa época, de volta de uma das minhas viagens ao Velho Mundo, onde estive em contato com os grandes meios musicais e onde tive a oportunidade de estudar as organizações orfeônicas de vários países, volvi o olhar em torno e percebi a dolorosa realidade. Senti com melancolia que a atmosfera era de indiferença ou de absoluta incompreensão pela música racial, por essa grande música que faz a força das nacionalidades e que representa uma das mais altas aquisições do espírito humano. Precisamente naquele momento o Brasil acabava de passar por uma transformação radical, já se esboçava uma nova era promissora de benéficas reformas políticas e sociais. O movimento renovador de 1930 traçara com segurança novas diretrizes políticas e culturais apontando ao Brasil rumos decisivos, de acordo com o seu processo lógico de evolução histórica. Cheio de fé na força poderosa da música, senti que com o advento desse Brasil Novo era chegado o momento de realizar uma alta e nobre missão educadora dentro da minha Pátria. Tinha um dever de gratidão para com esta terra que me desvendara generosamente tesouros inigualáveis de matéria-prima e de beleza musical. Era preciso pôr toda a minha energia a serviço da Pátria e da coletividade, utilizando a música como um meio de formação e de renovação moral, cívica e artística de um povo. Senti que era preciso dirigir o pensamento às crianças e ao povo. E resolvi iniciar uma campanha pelo ensino popular da música no Brasil, crente de que o canto orfeônico é uma fonte de energia cívica vitalizadora e um poderoso fator educacional. Com o auxílio das forças coordenadoras do atual Governo, essa campanha lançou raízes profundas, frutificou e hoje apresenta aspectos iniludíveis de sólida realização.” (VILLA-LOBOS, 1946, apud PAZ, 2004, p.26)
Decidido a colocar em prática seu ideal, Villa-Lobos conseguiu se articular com o Governo de Getúlio Vargas e difundir o canto nas escolas brasileiras; tal prática tinha em sua essência um caráter eminentemente socializador e os resultados foram surpreendentes, um milagre em escala nacional, neste sentido:
Villa-Lobos em plena fase de maturidade artística deixou de ser apenas o compositor e regente para se tornar o inspirador e fomentador de uma consciência musical coletiva. Para conseguir seus objetivos, contou com o apoio irrestrito de autoridades como Pedro Ernesto e, especialmente, de Anísio Teixeira, o grande e ilustre pedagogo, que não poupou esforços para ver coroado de êxito tão gigantesco e ousado projeto. Com Anísio Teixeira à frente da instrução Pública, Villa-Lobos se empenhou, de corpo e alma, naquilo que ele mais desejava, que era fazer o Brasil inteiro cantar. E Villa-Lobos conseguiu que um país sem tradição vocal, como o nosso, cantasse. Um verdadeiro prodígio, um milagre! (PAZ, 1997, p.49)
O Brasil viveu uma única grande experiência no que diz respeito à educação musical graças ao maestro Heitor Villa-Lobos que no início da década de trinta, ao assumir a Superintendência de Educação Musical e Artística do Rio de Janeiro, introduziu nas escolas públicas o ensino da Música e do Canto Coral.
Posteriormente contou com o apoio do então Presidente da República, Getúlio Vargas vindo a organizar uma série de apresentações, chamadas de Concentrações Orfeônicas, que chegaram a reunir, durante três anos, de 1940 a 1942, mais de cinquenta mil alunos. O estádio do Clube de Regatas Vasco da Gama, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio, foi um dos palcos mais famosos. Em outros pontos do país os corais ou cantos orfeônicos, como também eram conhecidos, foram para os alunos das camadas mais pobres, o único contato possível com a formação musical que fez parte da sua educação.
Para Paglia e Schaffrath:
Villa-Lobos imprimiu caráter socializante ao ensino da música, atribuía à atividade musical nas escolas o caráter formador para a disciplina, o civismo e a educação artística (...) Pesquisar Villa-Lobos e sua contribuição para a formação escolar das crianças e dos jovens brasileiros é resgatar os meandros da consolidação de um projeto nacional que pretendia, pela arte, forjar uma identidade moral, nacionalista e ordeira para o nosso povo. (PAGLIA; SCHAFFRATH, 2007, p.5)
Neste mesmo sentido, Cardoso, Góes e Silva, afirmam:
A prática do Canto assumiu um caráter disciplinador e socializador, atendendo a um dos objetivos gerais da escola. O ensino do canto esteve vinculado a uma prática social, útil à vida e à convivência em grupo. As grandes festas e concentrações orfeônicas formadas por estudantes secundaristas serviram como finalidade socializadora da escola. (49)
2.5.2 O abandono da prática do canto orfeônico e suas consequências
Por terem surgido nos anos do Governo Vargas e, mais tarde, pela obrigatoriedade das festas cívicas durante o regime militar, os cantos orfeônicos foram alvo de preconceitos. Paz, esclarece importantes pontos sobre essa questão e apresenta alguns relatos:
A questão política, ou seja, o envolvimento de Villa-Lobos com o Estado Novo, com Getúlio, que muitas vezes foi suscitada por aqueles que não estavam à altura de compreender as verdadeiras razões que levaram um homem da notabilidade de Villa-Lobos a se ocupar de tão espinhosa missão, cremos que já foi mais do que esclarecida. Homero de Magalhães, primeiro pianista a gravar as Cirandas de Villa-Lobos, declarou ao Jornal do Brasil em 8 de março de 1987: Considero uma idéa Considero uma idéia barata associar o nome de Villa-Lobos ao totalitarismo: ele tinha a cabeça muito cheia de música para pensar em outra coisa.”Na mesma reportagem, lemos a opinião do musicólogo e professor José Maria Neves: “Villa-Lobos tirou proveito de sua relação com Vargas, mas também foi usado pelo Estado Novo, por causa de sua capacidade de organizar concentrações orfeônicas, que serviam ao objetivos do populismo. Sobre o assunto, a opinião de Mozart de Araújo, conhecido musicólogo: Getúlio se utilizou do gênio, do temperamento de Villa-Lobos para reforçar sua idéia de populismo, educando o Brasil pela música.”A finalidade de Villa-Lobos era interessar o Governo em prestigiar a educação musical nas escolas. Ele se preocupava com a educação do povo. Não queria formar músico, e sim público.” É a informação de D.Mindinha Villa-Lobos, em depoimento prestado no Museu da Imagem e do Som. “Villa-Lobos era apolítico: sua única política era o progresso da música e da educação musical. (PAZ, 2004, p.29)
Infelizmente, o canto orfeônico após três décadas de sucesso, veio a desaparecer das escolas públicas brasileiras; e com a sua supressão também se foram os hinos e as canções populares e folclóricas. Algumas gerações perderam a oportunidade de ouvir e aprender boa música e com isso milhões de brasileiros mal sabem cantar o Hino Nacional Brasileiro (50) na escola.
Amaral Junior (51), expressa seu descontentamento com nossa realidade atual brasileira e o descaso com o sonho do Maestro Villa-Lobos de ver uma nação mais desenvolvida culturalmente e com orgulho de suas raízes e tradições:
Hoje, passados 122 anos do nascimento deste genial brasileiro, sobram inquietações e indignações ao relembrar o esforço realizado por ele, há quase meio século atrás. A educação no país, pelo qual tanto se dedicou, está degradada. Embora tenhamos elevado o número de crianças matriculadas, massificando o ensino, a evasão é muito grande e a qualidade vai abaixo da média dos países desenvolvidos. Os professores são mal remunerados e estão desiludidos. Há um déficit no magistério de 710 mil profissionais: 235 mil no ensino médio e 475 mil do fundamental (MEC). A Secretaria Geral da Presidência diz que dos 50,5 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos, 4,5 milhões são considerados de risco, isto é, em potencial situação de marginalidade, alvos de cooptação por parte do crime organizado, porque estão sem ensino, desempregados, desassistidos. Um triste desperdício, num Estado há anos sem rumo de navegação. Além disso, a cultura popular carece de divulgação e compete em desigualdade com a poderosa indústria de entretenimentos, dominada pelas multinacionais. O poeta e estudioso da MPB Hermínio Bello de Carvalho destaca palavras de maestro: “Interesses industriais de uma terceira categoria social, explorando a exteriorização das circunstâncias oportunas da confusão do após a grande guerra, a parte mais acessível à compreensão da incultura alheia, sacode para o ocaso e deixa cair impiedosamente o nível da opinião pública, como se se projetasse, na superfície da terra, um gás asfixiante.” E mais: “O mercantilismo atinge também as artes, e, quando a música se subordina a uma ambição, deixa de desempenhar sua função orientadora da opinião pública”. O sonho do modernista Villa-Lobos, de uma nação escolarizada, com orgulho de suas raízes e tradições folclóricas, é cada vez mais ponto fundamental a ser resgatado neste mundo globalizado. Afinal, seu objetivo através da música
era promover e fortalecer nossa identidade. Ora, para podermos refletir sobre nós, nos questionarmos e assim construirmos saídas, projetos autênticos e próprios de país para resolvermos nossos problemas, precisamos exatamente nos compreender, nos enxergar como povo, como história. Só assim é que poderemos nos relacionar em bons termos com as demais nações, participando com equilíbrio e consciência de nosso papel nos intercâmbios do mundo contemporâneo. Universalizar a educação verdadeiramente de qualidade, incluindo aí o ensino das artes, seria a primeira grande revolução nacional com vistas ao benefício popular. Um país que teve Villa-Lobos, não pode eterna e mesquinhamente dar errado.
Atualmente a questão educacional da música se apresenta como um grande desafio nacional; sua ausência das escolas fez com que as novas gerações não saibam mais cantar os hinos pátrios e perderam a referência da nossa música de raiz, das canções folclóricas, das mais diversas regiões brasileiras estão se perdendo no esquecimento e na falta de prática, sendo substituídas pelas músicas impostas pelos meios de comunicação de massa.
2.5.3 Importância do apoio aos projetos de lei 330/2006 e 343/2006
Um respeitável grupo de educadores musicais, dentre eles o Prof. Dr. Carlos Alberto Figueiredo, decidiu encaminhar ao Senado Federal, uma Proposta de Contribuição ao Projeto de Lei 343/200652, onde se enfatizou o papel socializador do canto coral:
A nosso ver, uma das principais finalidades do ensino da música na escola é ser um veículo de socialização e formação integral do aluno, dando a todos igualmente a oportunidade de desenvolver e aprimorar os princípios de cidadania, a sensibilidade, a auto-estima, a disciplina responsável, a solidariedade, o senso crítico, o gosto pelas atividades culturais e, em decorrência, formar platéias e despertar vocações artísticas. Ocorre que uma das modalidades musicais mais peculiares e que atende a todas as finalidades do ensino da música na escola é o Canto Coral. Com sua dinâmica própria, abrange a totalidade da escola da forma mais barata, mais imediata e simples, porque o instrumento utilizado é a própria voz. Trabalha o indivíduo em função do coletivo, sem excluir ninguém. Esta
proposta está centrada na urgente necessidade de devolver à Escola sua função precípua de formadora de uma sociedade mais solidária. Cantando a 1, 2, 3 e 4 vozes, conforme o desenvolvimento gradativo da classe, chegase concretamente à conclusão de que a soma das diferenças pode produzir um resultado harmonioso e enriquecedor e que é possível viver a utopia de uma socialização sem barreiras. O Canto Coral realiza assim sua primordial finalidade socializadora e includente, alternativa sadia para minimizar o individualismo e a competição exagerada, tão estimulados na nossa sociedade.
A Senadora Roseana Sarney havia apresentado o PLS - Projeto de Lei do Senado, de n. 330 em 14 de dezembro de 2006, ou seja, apenas seis dias antes do PLS 343/2006 de autoria do Senador Roberto Saturnino Braga que foi prejudicado por questões regimentais, entretanto, curiosamente é absolutamente igual ao PLS 330/2006, até a última vírgula.
Em 2006, os músicos Felipe Radicetti (53), Cristina Saraiva, Fernanda Abreu, Ivan Lins, Francis Hime, Alexandre Negreiros e Dalmo Mota se articularam para criar o Núcleo Independente de Músicos – NIM, para tratar das questões da música no âmbito legislativo. Em associação com outras entidades do setor, estava criado o Grupo de Articulação Parlamentar Pró-Música – GAP, que em parceria com a Comissão de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal, estabeleceu uma pauta política para a música no Congresso. A campanha "Quero Educação Musical na Escola" (54) foi um sucesso e contou com a adesão de 94 entidades do setor da música e educação do Brasil e do exterior e a participação de muitos artistas de expressão com Daniela Mercury, Frejat, Gabriel Pensador, Zé Renato, Francis e Olivia Hime, dentre outros.
Enfim, o Projeto de Lei 330/2006 visando à volta da educação musical às escolas destacou-se e foi aprovado por unanimidade nas duas casas: em dezembro de 2007 no Senado Federal e em junho de 2008 foi aprovado na Câmara dos Deputados sob o número 2732/2008.
2.5.4 O sonhado retorno do ensino musical nas escolas brasileiras
Atendendo o anseio de milhares de músicos e educadores musicais brasileiros, após 37 anos (55) o ensino musical voltou a ser obrigatório nas escolas brasileiras. O Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, que foi publicada no Diário Oficial da União.
A Lei 11.769/2008 alterou a Lei 9.394/1996, dispondo sobre a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. Com a Lei sancionada, as escolas públicas e privadas terão o prazo de três anos para se adequarem.
Cumpre observar que antes da lei 11.769 ser sancionada, houve uma incrível mobilização para que isso se concretizasse: foi encaminhado ao Ministro da Educação Fernando Haddad, um Manifesto contendo mais de dez mil assinaturas expressando o desejo que o PLS 330/2006 fosse convertido em lei e levado finalmente a efeito o ensino musical nas escolas, vez que a música, em especial o canto coral, contribui para uma possível transformação social ao ressaltar o valor cultural e, socializador na formação de crianças, jovens e adultos:
O [canto coral] é uma prática social, produzida e vivida por pessoas, constituindo instância privilegiada de socialização, onde é possível exercitar as capacidades de ouvir, compreender e respeitar o outro. Estudos e pesquisas mostram que a aprendizagem musical contribui para o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo e, principalmente, para a construção de valores pessoais e sociais de crianças, jovens e adultos. A educação musical escolar não visa a formação do músico profissional, mas o acesso à compreensão da diversidade de práticas e de manifestações musicais da nossa cultura bem como de culturas mais distantes. Pelo seu potencial para desenvolver diferentes capacidades mentais, motoras, afetivas, sociais e culturais de crianças, jovens e adultos, a música se configura como veículo privilegiado para se alcançar as finalidades almejadas pela LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (56)
Na visão de Goldemberg (57), “o projeto de disseminação de uma cultura musical através do canto em nosso país estagnou e foi praticamente esquecido”. Por essa razão, na opinião de Oliveira (58), a Lei 11.769 é uma conquista e pretende resgatar o grande projeto orfeônico (59) outrora implantado por Heitor Villa-Lobos:
A Lei irá resgatar a peleja de Villa-Lobos na década de 1930 pela inclusão da música na grade curricular, que resultou na implantação da disciplina canto orfeônico, que eu amava! A reforma do ensino, em 1974 (ditadura militar de 1964), o aboliu, por considerá-lo inútil! Não encontro palavras que expressem o significado em minha vida do aprendizado do canto orfeônico e da participação em corais, desde criança até a universidade (fui a primeira inscrita no Coral da UFMA). É fato: a música amplia horizontes e a nossa compreensão de mundo. Devo muito à música. (60)
Para Ribas (61), a lei em questão “acrescenta muito no ensino dos alunos e é uma conquista para a classe; a música se bem empregada é socializadora”. (62)
Por outro lado, a aprovação da lei, tem gerado uma série de questionamentos, dúvidas e, também, preocupações e críticas. Parte dos questionamentos e dúvidas está diretamente vinculada ao fato de ter sido vetado o Artigo 2º que fazia parte no Projeto de Lei e previa acertadamente que o ensino de música deveria ser ministrado por professores com formação específica na área.
Foram apresentadas duas razões63 para o veto do artigo em questão. A primeira delas é que parece estar gerando dúvidas, haja vista que vem a afirmar o seguinte:
No tocante ao parágrafo único do art. 62, é necessário que se tenha muita clareza sobre o que significa ‘formação específica na área’. Vale ressaltar que a música é uma prática social e que no Brasil existem diversos profissionais atuantes nessa área sem formação acadêmica ou oficial em música e que são reconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados de ministrar tal conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto.
A justificativa da segunda razão para o veto presidencial é:
Adicionalmente, esta exigência vai além da definição de uma diretriz curricular e estabelece, sem precedentes, uma formação específica para a transferência de um conteúdo. Note-se que não há qualquer exigência de formação específica para Matemática, Física, Biologia etc. Nem mesmo quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define conteúdos mais específicos como os relacionados a diferentes culturas e etnias (art. 26, § 4o) e de língua estrangeira (art. 26, § 5o), ela estabelece qual seria a formação mínima daqueles que passariam a ministrar esses conteúdos.
Na verdade, isso vem a reforçar o pressuposto de que a lei por si só não é suficiente para assegurar o espaço efetivo da educação musical em âmbito escolar. Oportuna a citação de Hentschke:
Infelizmente o acesso à educação musical no Brasil, continua sendo privilégio das elites, atitude que contradiz todo e qualquer princípio educacional. Penso que nós profissionais da educação musical, não podemos nos esconder atrás de argumentos do tipo ´é impossível implantar educação musical nas escolas, pois não dispomos de profissionais ou mesmo de recursos´. Temos, isto sim, que iniciar um processo de reversão do círculo vicioso, não importando que o mesmo seja a nível regional ou mesmo municipal, através da implantação gradual em séries iniciais, ou mesmo através de treinamento de professores. (HENTSCHKE, 1993, p.52)
Neste contexto, a Professora Doutora Heloísa de Araújo Duarte Valente (64), à qual tive o privilégio de manter contato, expressou sua opinião, sendo que em sua visão, não podemos oferecer migalhas aos jovens; precisamos de profissionais engajados e que não banalizem o ensino musical:
Há muita coisa se falando atualmente sobre práticas `artísticas´ apenas com a finalidade de tirar os jovens do mundo das drogas - mas, às vezes, oferece-se uma droga talvez pior: a da má-formação com vícios. Faço questão de frisar que sou a favor do ensino de música em todos os níveis, mas "vamos brigar" bastante para que música não se confunda com terapia ocupacional ou artesanato simplório. Não podemos minimizar a inteligência das pessoas, oferecendo apenas o banal, a se engolir sem o menor esforço.
O Prof. Dr. Sérgio Luiz de Figueiredo, Presidente da ABEM, manifesta seu parecer sobre a aprovação da Lei n. 11.769 e o veto do Artigo 2º:
O que vale é a lei e não o veto. Isto quer dizer que nós hoje temos a música como componente curricular obrigatório na educação brasileira. Isto é uma vitória. Com relação à titulação, eu não tenho dúvida sobre a necessidade de curso de licenciatura para atuar na educação básica, conforme diz a LDB (Art.62). Mas todos nós sabemos que as leis no Brasil não são plenamente cumpridas e muitos sistemas educacionais não seguem esta normatização. Foi uma pena que esta parte da justificativa ao veto foi confusa permitindo diversas interpretações (...) Nosso trabalho vai continuar nesta mobilização para que gradativamente se tenha professores habilitados nas escolas. Isto não quer dizer que a escola não possa ter atividades extra-curriculares contratando pessoas que não possuem graduação em música. Temos visto muitos trabalhos em parceria escola-comunidade que apresentam resultados muito positivos para a sociedade. Portanto, este trabalho de conscientização da necessidade do professor especialista no currículo da escola deve continuar. Afinal, temos feito isso durante toda a história da ABEM. Todas as diretorias se manifestaram através de documentos sobre esta matéria envolvendo secretarias de educação e outros órgãos. A ABEM continuará seu trabalho e todos nós precisamos estar muito unidos para que o discurso pessimista não atrapalhe nossas ações. Em São Paulo há muitas pessoas contrárias à lei, ao movimento, e fazem declarações a este respeito, sempre considerando que é impossível ter música na escola com qualidade. Este pessimismo também está em outros contextos. Aqui em Florianópolis ouvi alguns comentários absurdos com relação às implicações da nova lei. Mas isto não me enfraquece. Da minha parte estou muito satisfeito com esta conquista da lei e, todos da diretoria continuarão trabalhando com empenho para que esta etapa conquistada frutifique ainda mais no futuro que virá. E desejo que a ABEM esteja fortalecida para que juntos possamos empreender novas conquistas para a educação musical. (...) Decidi escrever esta mensagem para manifestar meus sentimentos atuais com relação a todo este processo e dizer que me sinto privilegiado por poder participar de um momento tão significativo para a educação musical no Brasil. Espero que minhas palavras não soem demagógicas ou artificiais. Não estou iludido com a nova lei, estou satisfeito porque realmente a considero uma conquista. (65)
O fato é que está se tornando cada vez mais pública a eficácia da atividade musical no desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e social do ser humano; ressalto o entendimento de Villa-Lobos: “o ensino e a prática do canto orfeônico nas escolas impõe-se como uma solução lógica." (VILLA-LOBOS, 1946 apud GOLDEMBERG, 2002); Sim, as práticas musicais se mostram como solução para a transformação social dos grupos e indivíduos. Felizmente o panorama geral no Brasil sobre a importante função socializadora do canto coral se estabelece sob uma atmosfera promissora. Dentro do quadro aqui apresentado, é possível avistar uma expectativa favorável para os próximos anos nos vários segmentos da sociedade brasileira: nas escolas, universidades, empresas, igrejas, associações, organizações não governamentais e outras instituições. Importante frisar que Villa-Lobos tinha muita esperança nas crianças, nos jovens, enfim, acreditava que seu povo merecia receber aquilo que ele chamava de educação social pela música:
Eu tenho uma grande fé nas crianças. Acho que delas tudo se pode esperar. Por isso é tão essencial educá-las. É preciso dar-lhes iniciação para uma futura vida artística. Minha receita é o canto orfeônico. Mas o meu canto orfeônico deveria, na realidade, chamar-se educação social pela música. Um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade; é preciso ensinar o mundo inteiro a cantar. (VILLA-LOBOS, 1987, apud FUCCIAMATO, 2007, p.217)
Com isso, nós como nação poderemos vir a reconhecer e dar o devido valor à música e aos benefícios que o canto coral propicia ao ser humano em todos os ambientes sociais, sobretudo como ferramenta apta a propiciar a socialização e a integração inter pessoal.
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NOTAS DE RODAPÉ
(06) “Processos de socialização”, no plural, e não no singular, e nem simplesmente “socialização”, é uma concepção de George Simmel (1858-1918), um dos fundadores da sociologia alemã. Apesar de pensador plural e instigante, é pouco conhecido no ambiente acadêmico brasileiro – Na visão de Simmel o entendimento correto é da ocorrência de processos sociais, que, pensados no plural, enfatizam o caráter de mobilidade e dinâmica das interações sociais.
(07) Dalmo de Abreu Dallari é um notável jurista. Professor Emérito da Faculdade de Direito da USP. Publicou livros, artigos em periódicos especializados, artigos em jornais, capítulos de livros e trabalhos em eventos. Possui palestras e conferências no Brasil e exterior. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da Produção Científica são: Sociedade, Direitos Humanos, Constituição, Teoria do Estado, Cidadania, Poder Judiciário, Estado de Direito, Autodeterminação, Democracia e Direito Constitucional.
(08) No original: “cabe poner de manifiesto la enorme contribución de la [musica coral] a los valores sociales que fomenta, siendo instrumento de socialización, de comunicación, de inclusión, y, en definitiva, de cohesión social, al constituir un lenguaje universal e intercultural que puede ser vehículo de relación y patrimônio de todos y cada uno de los miembros de una sociedad. Las artes son un elemento fundamental para el crecimiento económico y sócial”. O documento conhecido como “Las Enseñanzas Artísticas”, encontra-se disponível em:
http://www.edu.xunta.es/ftpserver/portal/Conselleria/CEG/artisticas.pdf. Acesso em: 15.fev.2009.
(09) http://www.cantapueblobrasil.com.br/port/cantapueblo/index.php
(10) No original: “El canto coral ha sido una de las manifestaciones más antiguas del ser humano, en su necesidad de expresar sus sentimientos y vivencias en forma colectiva, a través del instrumento más cercano e inmediato que posee: su propia voz. Tal actividad, que moviliza millones de personas em todo el mundo por su efecto multiplicador, de hondas raíces socio-culturales, se ha convertido en una de las mejores herramientas de que disponen las naciones progresistas para estimular el restablecimiento del equilibrio del ser humano, seriamente afectado en los últimos tiempos por el avance desmesurado de la tecnología y el insaciable afán consumista de la sociedad moderna, abriendo así nuevas perspectivas a la formación cultural, en especial de la niñez y juventud; La práctica coral ha sido históricamente una actividad esencialmente sociabilizadora, creativa y un medio de expresión de los valores estéticos y espirituales de más profundo contenido de la persona humana. Particularmente en los jóvenes se revela como uma alternativa atractiva, enriquecedora y formativa que enseña a convivir, compartir y respetar al otro comunicando vivencias que nacen desde lo profundo y disciplinando el interior mismo del individuo. Dentro de la problemática que aqueja a nuestra sociedad, donde la falta de ejemplos, valores y alternativas llevan a la decadencia y a la búsqueda de escapismos fáciles y riesgosos, aparece la actividad coral como una propuesta válida dentro de la educación por el arte, donde canalizar inquietudes, emplear útil y creativamente el tiempo y realizar en el individuo uma elevación ética en el camino hacia la excelencia.Si bien en nuestro país, en comparación con los países europeos, no existe una tradición de canto comunitario, em los últimos cuarenta años y con la aparición de miles de agrupaciones en los diversos sectores y estamentos de la sociedad -integradas en su inmensa mayoría por personas de diversas ocupaciones, edades y extracción social-, el movimiento coral ha cobrado una magnitud e importancia que no puede soslayarse. En este contexto debe señalarse que según algunos indicadores existen en nuestro país más de 18.000 coros los cuales movilizan aproximadamente entre 1.500.000 y 2.000.000 entusiastas de la música coral”. Disponível em: .
(11) Disponível em: http://www.mds.gov.br/noticias/coral-do-peti-melhora-a-auto-estima-de-jovens-nomato-grosso-do-sul/view. Acesso em 25.02.2009.
(12) Disponível em:
www.mds.gov.br/servicos/Coordenacao/boletim...jovens/...fome.../informativo_mds_especial_agosto.p
df. Acesso em: 25.fev.2009.
(13) Disponível em: http://www.pucsp.br/paginas/academico/cultura_lazer.htm. Acesso em: 25.fev.2009.
(14) Disponível em:
<>. Acesso em:
25.fev.2009
(15) Disponível em:<>. Acesso em:
26.fev.2009.
(16) Disponível em: <>. Acesso em: 26.fev.2009.
(17) Associação Brasileira de Regentes de Coros, Brasília DF, v. 1, n. 1, p. 39-41, 2001. O Movimento do Canto Coral no Brasil. In: I Convenção Nacional da Associação Brasileira de
Regentes de Coros - ABRC, 2001, Brasília.
(18) O grupo coral convidado para participar do 18º Festival Corale Internazionale "La Fabbrica Del Canto" é representar o Brasil é a Camerata Antiqua de Curitiba, com 27 componentes, sob a
regência de Helma Haller. Disponível em:
13.mai.2009.
(19) No original: Each four years, in collaboration with the International Federation for Choral Music, a Latin American country is honoured to invite all the choral conductors and singers of the world to participate in the América Cantat Choral Festival and discover the Latin American choral music.
Recently the same concept was created in the Asia Pacific region. During one week, renowned choirs of local and international prestige are engaged in artistic and academic activities, meeting colleagues and building and exchanging friendship. In each edition of this festival, several workshops and studytours take place under world renowned conductors and composers. America Cantat took place in Argentina, Venezuela, Mexico and Cuba. The next festival is planned in 2010 in Brazil. Disponível em: < m="34">. Acesso em: 30.fev.2009.
(20) As respostas destes profissionais, todos professores de renomadas instituições de ensino superior no Brasil, me foram concedidas através de e-mails os quais foram devidamente impressos e arquivados.
(21) Luciana Monteiro de Castro Silva Dutra é graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987), graduação em Música (canto) pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996) e mestrado em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001). Cursa Doutorado em Letras - Literatura e outros sistemas semióticos na UFMG. É professora da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Canto, atuando principalmente nos seguintes temas: técnica vocal, canção brasileira, canção e literatura, ópera, música vocal sinfônica, música colonial brasileira.
(22) Ângela Barra da Veiga Jardim é Doutora em Musica pela Indiana University (2006). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música, atuando principalmente nos seguintes temas: música brasileira vocal, espetáculo operístico, música de câmara, recital de canto e cantata sacra e oratório.
(23) Martha Herr possui graduação em Bachelor's Of Fine Arts Music - State University Of New York At Buffalo (1977), mestrado em Master Of Fine Arts - State University Of New York At Buffalo (1983), doutorado em Música - Michigan State University (1996) e Livre-Docência da Universidade Estadual Paulista (2007). Atualmente é professor assistente doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, autando na pós-graduação e coordenadora da área de Canto. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música, atuando principalmente nos seguintes temas: canto, performance, música de câmara, música brasileira e canto e piano. Tem participado de concertos e óperas e realizado gravações no Brasil, Estados Unidos e Europa, como solista e integrante de vários conjuntos de música brasileira e de música contemporânea, como o Rio Cello Ensemble, Mestres Cantores de São Paulo e Grupo Novo Horizonte. Recebeu, em 1998, o Prêmio Carlos Gomes, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e foi nomeada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) Cantora do Ano em 1990. Em 2005, participou da primeira produção brasileira do Anel dos Nibelungos de Richard Wagner, durante o IX Festival Amazonas de Ópera. Nutrindo especial admiração pela música brasileira, tem apresentado desde música colonial até primeiras audições de compositores contemporâneos. Publicou em 2008 as Normas para o Português Brasileiro Cantado em conjunto com mais seis professores de canto brasileiras. Também foi publicado em inglês nos Estados Unidos. Sua atuação como regente de coro frente ao Coral do Estado de São Paulo (1983-1987) e o Coral da Cultura Inglesa (1990-1994) serviu como base para o desenvolvimento de técnicas de trabalho com corais, incluindo a docência na disciplina Técnica Vocal para Regentes de Coro na UNESP. Ela tem ministrado regularmente workshops com coros de São Paulo e para a Associação Paulista de Regentes de Coro. Durante as temporadas de 2004 e 2005, ela trabalhou com os coros locais em Manaus durante os Festivais Amazonas de Ópera.
(24) Renate Stephanes Soboll possui Mestrado em Música pela Universidade Federal de Goiás (2007) e Graduação de Bacharel em Música - Modalidade Regência pela Universidade Estadual de Campinas (1992). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Regência, atuando principalmente nos seguintes temas: Canto Coral, Arranjo Coral, Música Regional Brasileira e Música Caipira.
(25) Wladimir Farto Contesini de Mattos é Mestre em Música, na linha de Teoria, Interpretação e Composição, pela UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mesma instituição na qual concluiu o Bacharelado em Música com Habilitação em Canto. Além da pesquisa e das atividades de performance musical, atua como docente de graduação e extensão universitária, nesta última, com experiência na produção de eventos científicos, educativos e artísticos de caráter multidisciplinar. É professor das disciplinas de Prosódia, Fisiologia da Voz e Técnica Vocal junto à FASM - Faculdade Santa Marcelina e, no Instituto de Artes da UNESP, vem atuando como professor das disciplinas de Prosódia, Dicção, Fisiologia da Voz. Entre os principais temas de seu interesse, destacam-se: a escuta e a expressão vocal - aspectos físicos, psíquicos e sociais; apreciação e expressão musical como recurso de interação entre indivíduos, objetos e meios; modelos de canto - elementos técnicos e estéticos das diversas formas de expressão vocal na música; epistemologia e praxis dos processos de criação e interpretação musical, com ênfase na performance do canto; prosódia musical, interpretação e improvisação nas práticas de composição e performance da música vocal.
(26) Rosane Cardoso de Araújo é Doutora em Música pela UFRGS (Universidade Federal do Rio
Grande do Sul). Foi professora da Escola de Música e Belas Artes, onde atuou no Departamento de Instrumentos Polifônicos durante 11 anos. No Departamento de Artes UFPR, ministra várias disciplinas nos Cursos de Educação Musical e Produção Sonora e também atua no Mestrado em
Música. É Membro da ISME (International Society for Music Education) e da ABEM (Associação
Brasileira de Educação Musical), na qual atualmente é Diretora Regional / Região Sul. Seus temas de interesse são voltados para pesquisas relacionadas à Cognição, Formação Docente e Educação Musical.
(27) Marília Vargas Paes Laboissière Barreto possui graduação em Música pela Universidade Federal de Goiás (1964) , graduação em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (1966), especialização em Música pela Universidade Federal de Goiás (1972) , especialização em Virtuosidade pela Escola Magda Tagliaferro (1968) , mestrado em Artes Musica pela Universidade Federal de Goiás (1998) , doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002) , pós-doutorado pela Universitat de Valencia (2005), aperfeiçoamento em Música de Câmera pela Academie D'ete (1973) e aperfeiçoamento em Piano pela Academie D'ete (1973) . Atualmente é Em 2006, de prof. Adj. IV a professora associada da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência na área de Artes com ênfase em Música. Atuando principalmente nos seguintes temas: Semiótica da Música, processos interpretativos, interpretação musical, linguagem musical.
(28) Wellington Gomes da Silva é Doutor em Composição pela Universidade Federal da Bahia
(conclusão em 2001), onde também concluiu a Graduação em Composição e Regência, em 1985. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal da Bahia. Como compositor tem recebido vários prêmios e participado de diversos eventos e concertos dedicados à música contemporânea brasileira. Suas obras têm sido executadas por diversas orquestras e conjuntos no Brasil, Alemanha, Polônia, Noruega, Dinamarca, França, Espanha, Itália e Estados Unidos. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Composição Musical, atuando principalmente nos seguintes temas: composição, orquestração, Bahia, música vocal, harmonia e arranjo.
(29) Mario Ficarelli, Doutor em Artes pela Universidade de São Paulo (1995) é Professor da USP - Universidade de São Paulo. Possui experiência na área de Artes com ênfase em Música.
(30) Silvia de Lucca é mestre em Artes pela ECA-USP, graduou-se em piano e Psicologia em 1982 e 1983, respectivamente. Residiu em Zurique e Genebra (1989-1993), onde se especializou em Composição. Atualmente dedica-se também às atividades de docente em diversas disciplinas musicais. Empenha-se na valorização do humano, das diferentes culturas e do indivíduo por meio de realização de pesquisas, palestras, criação de textos, elaboração de projetos sócio-educativosculturais e, sobretudo, ao projeto Arte dos Sons, por ela idealizado e ministrado desde 1992 e que é destinado ao público leigo. Entre seus maiores objetivos está a conscientização do papel que os meios de comunicação de massa exercem na concepção musical brasileira.
(31) Paulo Augusto Castagna é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2. Possui Licenciatura Plena e Curta (1981) e Bacharelado (1982) em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Música pela Universidade de São Paulo (1987), Mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1992) e Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2000). É Professor Assistente Doutor Efetivo da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), instituição na qual ingressou em 1994. Tem experiência na área de Música, com ênfase em Musicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: musicologia, história da música, Brasil, música, música religiosa. Trabalha principalmente com a música brasileira anterior ao século XX, com destaque para a música religiosa mineira dos séculos XVIII e XIX, priorizando as atividades editoriais e arquivísticas, a pesquisa histórica e litúrgica e a organização de textos, documentos e informações. Líder do grupo de pesquisa "Musicologia Histórica Brasileira" do CNPq, sediado no Instituto de Artes da UNESP, atua também na formação de pesquisadores e na organização de eventos científicos em musicologia.
(32) Jon Flydal Blichfeldt, born 1977. Daily work as a choral conductor, for the time with the choir
Vokalensemblet Skrik (website: www.skrik.org). In addition a work as a musical adviser for the western department of the Norwegian Choir Association. (With about 250 choirs.) A also work as a freelance cellist. Your education is in cello playing and choral conducting.
(33) Resposta que recebi no e-mail original: Yes, I do definitely think that choir singing have a social function. This goes two ways: First: To sing together and work together as a choir, is a form that demands people to interact with other people. It is a great contrast to for instance solo singing. If you sing in a choir you always have to adjust to other people, and at the same time stand up for your self with your own voice. In solo singing you have a much more free approach and can do as you please. It forces you into a social frame. As a result of the work, you hopefully will have great experiences with concerts and performances, and in my opinion, it is a very rich experience if you have been working as a team to come to the goal. In that matter it is quite similar to sports. In addition to that, you have the artistic aspect, that is quite impossible to define. To achieve an artistic goal together with other people, is a great experience, and can in my opinion make people socially better people. People that appreciate the value of others and open for a greater understanding of other cultures, and other religions and so on. You can also turn this around, and say that a bad lead choir can make bad people, of course, and bad leadership can make things go really wrong. But, I do not think this is a great danger, at least not in the amateurchoirs. This is because the amateurchoirs are based on volunteers. This means that if you do not have a good time in a choir, you will quit, and find an other choir to join. Second: I think having a choir that works socially good, makes the choir a better choir. This means that if people actually know eachother, they will sing better. This is because singing is avery personal thing. You can never blame the instrument. It is your own voice. If you can relax in other peoples company, you will be able to sing better, and you will also work harder to make the result good. I once joined a choir, put together by a choral conductur, where nobody had met before. We met the first time with a weekend reherseal, and started practicing together Friday evening. Saturday evening the conductor forced (in the mildest way of forcing) all to join to the local pub. To talk, and get to know eachother better. He thought, as do I, that if we were better aquainted, we would perform better. I do as a choral conductor myself, work at these premises. Good social relationships can make better choirs, and having great artistic experiences together as a choir, will make the social relationships stronger!! I think this gives a brief insight in my opinion on the matter.
(34) Lúcia Teixeira é graduada em Regência e Mestre em Educação Musical pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tem participado de diversos cursos em sua área no Brasil e exterior, destacando-se sua participação no Kurt Thomas Course, Holanda, em 1993 e 1998, tendo sido convidada a reger o coro, a orquestra e os solistas nos concertos de encerramento. Foi regente do Coral Porto Alegre, com o qual gravou o CD Novenas, em 1999, prêmio Açorianos de Música Erudita. Com o mesmo coro realizou diversos concertos na cidade de Porto Alegre, com destaque para a primeira audição mundial da obra Dois Cantos Quintanares do compositor carioca Ernani Aguiar, em 1999. Em 2000, gravou, também com o Coral Porto Alegre, uma obra para coro e violão no CD intitulado Sons Perdidos – o violão na obra musical de Bruno Kiefer, do violonista Márcio de Souza. De 1994 a 2002 foi professora de música na Escola de Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) e trabalhou como regente do coro e da orquestra dessa escola. Com a Orquestra Sinfônica realizou quatro concertos e foi, também, durante dois anos, responsável pelo Coro Sinfônico da referida instituição. De 1998 a 2000 atuou como presidente do Conselho de Assessoramento da Federação de Coros do Rio Grande do Sul (FECORS). Em 2001 gravou, com o Coro Feminino do Hospital Moinhos de Vento, o CD intitulado Cantando ao Pôr-do-Sol. Foi professora convidada do curso de regência no Carpe Verão, em Itajaí, SC, em 2001 e 2002. Em 2003, foi convidada pela coordenação do XII Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) a ministrar o curso Vivenciando Atividades Vocais e a trabalhar com o coro formado durante o evento realizado na UDESC – SC. Em 2003 e 2004 participou, como jurada, do Festival Internacional de Coros de Criciúma – SC. Atualmente, Lúcia Teixeira trabalha com o Coro Feminino Hospital Moinhos de Vento, Coro Oficina Feevale e Coro Feevale. É professora do Curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Metodista, do IPA. Participa, também, do grupo de estudos Cotidiano e Educação Musical, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS.
(35) Rosemeri Paesi é Maestrina do Coral Champagnat, da PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
(36) Emanuel Martinez tem atuado como maestro convidado à frente de diversos coros e orquestras, assim como em diversos países, como França, Portugal, Espanha e Japão. No Brasil, está sendo convidado a dirigir coros e orquestras em diversos pontos do país. Paralelamente à atividade de maestro, desenvolve atividades didáticas junto a escolas de música, cursos, seminários e festivais de música. Na área da composição, possui diversas obras publicadas e, como articulista, escreve com frequência para diversos periódicos e revistas especializadas. Já atuou como diretor artístico de alguns festivais, como: Festival de Corais no Teatro Paulo Eiró, S. Paulo (1974-1976), I Semana de Arte de Belo Horizonte (1978), Festival de Coros em S. Luiz do Maranhão (1981-1983) e Festival de Música de Câmara de Curitiba - Edição 1999 e 2000. Em seu repertório, constam algumas primeiras audições, como a MISSA SOLEMNIS, de Antônio Rayol, gravado em disco e em vídeo para a FUNTEVÊ; CONCERTO PARA VIOLÃO e orquestra em RE MAIOR, Op. 99, de Mário Castelnuovo-Tedesco (1990); CONCERTO PARA DOIS VIOLÕES e orquestra em SOL MAIOR, Op. 201 de Mário Castelnuovo-Tedesco (2001); primeira audição sul-americana do REQUIEM de Andrew Lloyd Webber (1991) e LIVERPOOL ORATÓRIO de Paul McCartney (1993). Seu trabalho vem sendo reconhecido pela crítica especializada em todo o país. Foi homenageado pela Câmara dos Vereadores de Curitiba (1987 e 1996), Assembléia Legislativa do Estado do Paraná (1991), e pelo Exército Brasileiro (1992), além de ser indicado para receber, a nível nacional pelo Ministério da Cultura do Brasil, o prêmio de “MELHOR DO ANO de 1995”, na qualidade de maestro de coro. Desde 1986 até o presente, tem atuado como maestro titular do Coral do Teatro Guaíra (hoje chamado de Nova Philarmonia), Curitiba - Paraná; de 1990 a 1998, como maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Paraná e, desde 1991, é o maestro assistente da Orquestra Sinfônica da Oficina de Música de Curitiba. Desde 1999, é maestro da Orquestra da Escola e Música e Belas Artes do Paraná, assim como professor do Curso Superior de Regência. Escreveu 8 livros, estando 2 já publicados, e há mais um no prelo. Em 1986, foi publicado pela editora VP (Rio de Janeiro) uma coletânea de obras para orgão: REFLEXÕES. Em 2001, foi lançado o livro REGÊNCIA CORAL: princípios básicos. Em 2009 será publicado mais um livro intitulado TÉCNICAS DE REGÊNCIA - Aspectos técnicos do gestual (para coral, orquestra e banda) - atualmente no prelo. Como maestro convidado tem regido concertos e óperas com algumas orquestras brasileiras, assim como algumas orquestras no exterior. Como professor de regência tem ministrado, como professor convidado, cursos em diversas universidades. Em fevereiro de 2008, em concurso internacional, foi selecionado como maestro assistente da Orquestra UNINORTE - Asunción - Paraguay. Realizou turnê pelo Brasil com o Madrigal Paidéia de Curitiba, participando do Projeto Sonora Brasil 2008, com obras para coro "a cappella" de Heitor Villa-Lobos.
(37) Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo é Bacharel em Composição e Regência pela Faculdade de Artes Alcântara Machado – SP (1981), Mestre em Música (Educação Musical) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990) e Doutor (PhD) em Educação Musical pelo Royal Melbourne Institute of Technology - RMIT University, Melbourne, Austrália (2003). Atualmente é professor da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC nas áreas de canto coral, regência e educação musical. Tem experiência como instrumentista, regente e educador musical em diversos contextos. Desenvolve pesquisas nos seguintes temas: educação musical, formação de professores, música no ensino fundamental, professores generalistas, legislação educacional, canto coral e regência. É membro do Corpo Editorial da Revista Educação da UFSM, e parecerista ad hoc da Revista Musica Hodie e da Revista da ABEM. É parecerista ad hoc da CAPES. É representante da América Latina e do Caribe na Comissão de Pesquisa (ISME Research Commission) da International Society for Music Education - ISME.on Group. É coordenador da Comissão de Avaliação da área de música do ENADE junto ao INEP. É coordenador do Programa de Pós-Graduação em Música - Mestrado da UDESC. Membro da Comissão Nacional de Incentivo 'a Cultura - CNIC, do Ministério da Cultura (2009-2010). Atualmente é presidente re-eleito da Associação Brasileira de Educação Musical - ABEM.
38 Helma Haller é maestrina e trabalha com o Coro da Camerata Antíqua de Curitiba e Collegium
Cantorum - Coro Feminino.
(39) Samuel Moraes Kerr é professor aposentado do Instituto de Artes da UNESP, marcou sua carreira artística em trabalhos corais, onde experimentou novos recursos de expressão, seja no repertório, seja da maneira de cantar. Nesse sentido foram marcantes seus trabalhos com o Coral da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, Coral da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Associação Coral Cantum Nobile, Cia. Coral, Madrigal Psichopharmacom, Coral da Unesp e em muitos corais comunitários que tem organizado. Organista da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo de 1955 a 1960, organista da Fábrica de Órgãos Whinner de 1960 a 1964, regente da Orquestra Sinfônica Jovem Municipal de São Paulo, de 1972 a 1982, e Diretor da Escola Municipal de Música da Prefeitura de São Paulo de 1972 a 1975. Regente Titular do Coral Paulistano, de 1979 a 1983 e de 1990 a 2001. Premio APCA 1974 pelo seu trabalho à frente da Escola Municipal de Musica e, em 1992, como Regente Coral. Curador da área de música das Casas de Cultura e Cidadania da AeS Eletropaulo, desde 2008 e atual Presidente da Sociedade Amigos do Museu Paulista – SAMPA.
(40) Eduardo Lakschevitz Xavier Assunção é professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). É bacharel em música (Clarineta) pela mesma instituição (1989) e Mestre em Música (Regência Coral) pela University of Missouri-Kansas City (1993). Cursa atualmente o Doutorado em Música pela UNIRIO (área de ensino-aprendizagem).
(41) Rubens Russomano Ricciardi cursou Licenciatura em Música pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (1982-1985), com especialização em Musicologia pela Universidade Humboldt de Berlim (1987-1991). Seus principais mestres foram Olivier Toni (teoria musical), Gilberto Mendes e Stephen Hartke (composição) e Günter Mayer (musicologia). Concluiu o Mestrado (1995) sobre Hanns Eisler (Estética Musical), Doutorado (2000) sobre Manuel Dias de Oliveira (Musicologia Histórica) e Livre-docência (2003) em Composição e Linguagem Musical pela ECA-USP. Desde 1999, é professor da ECA-USP, Atuou como musicólogo junto à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), de 1997 a 2001, responsável pelo Projeto Criadores do Brasil (programação de música brasileira, edição crítica de partituras com revisões musicológicas incluindo-se gravações de CDs). Ainda como musicólogo pesquisador trabalha com os seguintes temas: Composição e Poética Musical, Musicologia Histórica (principalmente Brasil), Edição Musical, Teoria Musical, Relações Filosóficas da Música, com publicação de capítulos de livros e artigos no Brasil, Portugal e Alemanha. Em 1993, fundou, em Ribeirão Preto, o Ensemble Mentemanuque (voltado à música contemporânea). Foi diretor artístico do Festival Música Nova (1998-1999), ao lado de Gilberto Mendes. Atuou também como membro da diretoria e presidente do Conselho da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (1995-2003). Redator do projeto, professor decano e primeiro coordenador do Curso de Música pela ECA-USP em Ribeirão Preto, fundado em 2002, atua hoje nesta faculdade como professor titular. Entre os CDs gravados, destaca-se a parceria como pianista com Fernando Portari (tenor) e Rosana Lamosa (soprano) interpretando a integral para canto e piano de Gilberto Mendes (2006, CD-Petrobrás-CCSP). Atua como intérprete (regente e pianista) e principalmente como compositor em concertos sinfônicos e de câmara no Brasil, América do Norte e Europa. Sua obra sinfônica "Candelárias - uma abertura trágica" foi premiada no México.
(42) Sergio Igor Chnee estudou piano, canto e composição em São Paulo. Em 1993 mudou-se para a Rússia onde estudou regência com Iliá Mússin e Mihail Kukúshkin no Conservatório de São Petersburgo. Mudou-se para o Conservatório de Novossibirsk, graduando-se como Regente Sinfônico e de Ópera em 1996, sob orientação de Arnold Katz. Realizou turnês internacionais acompanhando o soprano russo Etéri Gvazáva ao piano, e dirigindo a Orquestra de Câmara Jovens Virtuoses da Sibéria. Participou de projetos de cooperação cultural regendo na República Dominicana e Colômbia, além de diversos grupos e orquestras no Brasil. Tem tido suas composições interpretadas em vários países. Chnee também tem ministrado cursos nas áreas de regência, composição e música de câmara. Atualmente é Regente da Camerata Cantareira, Principal Regente Convidado da Wasa Sinfonieta (Finlândia), Principal Regente Convidado da Lira Padre Anchieta, Diretor Artístico do Festival Música das Esferas de Bragança Paulista e do Festival Ars Viva de Serra Negra.
(43) Júlio César Ferraz Amstalden é mestre em música pela University of Alberta, U.A., Canadá. Título: The in-concert situation: its pedagogic possibilities and its contributions to the musical education of the publucum e teve como seu orientador o Prof.Dr. Marnie Giesbrecht.
(44) Alberto Cunha é pós-graduado em Música pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com mestrado na área de Canto Coral. É também bacharel em Física pelo Instituto de Física da USP, tendo realizado diversos projetos na área de Acústica Musical. Desde 1986 é regente do CoralUSP, onde ingressou como cantor em 1980. Estudou harmonia com Elizabeth Rangel, contraponto e orquestração com Damiano Cozzella e regência com Benito Juarez. Participou do curso de Regência Orquestral do 2º Manfredonia Festival Arte (Itália), e do Curso Internacional de Interpretação de Música Antiga de Cambridge, Inglaterra. Desempenha intensa atividade como compositor e arranjador. Seus mais de oitenta arranjos corais, principalmente de música popular brasileira, são cantados por coros de todo o Brasil. Em 1997, foi convidado a compor a peça de confronto do I Concurso Nacional de Coros, realizado em São Paulo. Como regente, à frente do CoralUSP, do Madrigal Levare, do Instituto Teuto e do Coral Paulistano, realizou importantes obras do repertório coral, como a Missa K.139, de Mozart, a "Paukenmesse", de Haydn, o "Te Deum", de Charpentier, “As Sete Palavras de Cristo”, de César Franck, e "O rei Arthur" e “Dido e Enéas”, de Purcell. Na área de música popular, apresentou os projetos "Paulistano canta Beatles" e " Paulistano canta Queen", com ampla aprovação do público e da crítica. Com o CoralUSP, realizou ainda diversas primeiras audições em São Paulo, como o "Pai Nosso", de Janatchek, "Unum Deum", de Charles Camileri, e o "Réquiem", de Joseph Rheinberger. Entre 2003 e 2007, foi assistente técnico-artístico do Coral Paulistano, do Teatro Municipal de São Paulo. É coordenador artístico do CoralUSP ? Coral Universidade de São Paulo, onde rege dois grupos corais.
(45) Maestro Dr. Sérgio A. Canedo é graduado em composição e regência pela Escola de Música da U.F.M.G., tendo por mestres Guerra-Peixe e Maestro David Machado. Estudou também com Oiliam Lanna, H. J. Koelreutter, Dante Grela, Eduardo Bértola e Carlos Alberto Pinto Fonseca, entre outros. É regente, compositor, arranjador, pianista e violonista. Foi regente titular da Orquestra Jovem de Belo Horizonte e também da Orquestra Sinfônica de Tolima (Colômbia), atuando como convidado diante das principais orquestras em Minas Gerais. Foi regente de diversos corais, como os do Modern American Institut, Minas Tênis Clube, Cia.Vale do Rio Doce, USIMINAS -Ipatinga, UNIMED-BH, etc. Rege, na atualidade, o Coral dos Correios, “Vozes de Minas”, de Belo Horizonte. É doutor em literatura e música medievais, tratando de Afonso X e suas Cantigas de Santa Maria. É professor de graduação e pós-graduação da Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais.
(46) A primeira análise sistemática do conceito de capital social surgiu num artigo de Pierre Bourdieu, que o definiu como “o conjunto de recursos atuais e potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de conhecimento e reconhecimento mútuo” (Bourdieu, 1980:2); ou seja, o capital social seria um atributo do indivíduo num contexto social. (MATOS, 2007, p.7)
(47) MOREIRA, Irene; Silva, PAULA. Educação da juventude: carácter, liderança e cidadania. Inquérito às Escolas. Disponível em: . Acesso em: 15.mar.2009.
(48) Com o Decreto n° 19.890, de 18 de abril de 1931, sobre a reforma do ensino, referendado por Getúlio Vargas, tornou-se obrigatório o ensino do canto orfeônico nas escolas.
(49) CARDOSO, Maria Izabel Vieira; GÓES, Sheila da Silva Santos; SILVA, Marcos Vicente Almeida. BRASIL NOVO, COMPOSTO POR VILLA-LOBOS NOS ANOS DE 1937-1945: matéria de estudos historiográficos. Artigo disponível em: . Acesso em: 06.mar.2009.
(50) Em momentos como cerimônias cívicas, competições nacionais e internacionais e premiações esportivas, fica claro que os brasileiros de modo geral apresentam dificuldades em cantar corretamente a letra do Hino Nacional Brasileiro. Diante da constatação dessa triste realidade nacional, tramita na Câmara dos Deputados, em Brasília, um projeto de lei que pede a execução diária do Hino Nacional Brasileiro, no início das aulas. O projeto nº 4627 apresentado à Câmara em 10 de fevereiro de 2009 prevê a regra para escolas do ensino fundamental e médio. A seguir, a justificativa do projeto: “Geralmente, como regra, o Hino Nacional Brasileiro é executado em continência à Bandeira Nacional, ao Presidente da República, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, bem como em outros casos especificados pelos regulamentos de continência ou cortesia internacional. A execução do Hino Nacional tem sido vista em abertura de sessões cívicas, cerimônias religiosas de caráter patriótico e antes de eventos esportivos internacionais, quando deveria ser mais amplamente executado, vez que constitui um dos três símbolos máximos da nação, ao lado da Bandeira e do Brasão das Armas Nacionais. Representa o próprio povo, que com ele se identifica, se emociona com a musicalidade de sua melodia e poesia. Porém, muitos não sabem cantá-lo, embora seja a exteriorização musical que proclama e simboliza a nação. O desconhecimento da letra do Hino Nacional Brasileiro evidencia-se em momentos significativos para o País, como: competições nacionais e internacionais, e premiações esportivas. Os atletas demonstram publicamente não saberem cantar o Hino Nacional na íntegra, expondo uma das grandes vergonhas nacionais, ou seja, a demonstração inequívoca de que os brasileiros não conhecem seu próprio Hino, titubeando, errando a letra, por falta de compreensão, alterando a ordem das estrofes ou permanecendo calados enquanto ouvem a sua execução solene, orquestrada ou cantada, quando deveriam sabê-lo integralmente, pois ele é símbolo marcante de nossa história e de nossa identidade como brasileiros. Frise-se que, na maioria das vezes, o contato com letra e música do Hino Nacional Brasileiro se resume aos primeiros anos de vida escolar, nos estabelecimentos de
ensino que prezam em inculcar nos alunos o patriotismo. Isto acontece em horas cívicas, competições, gincanas, quando há o hasteamento da Bandeira Nacional, acompanhado da execução do Hino, nem sempre cantado por todos. Há escolas que sequer estimulam os alunos ao nacionalismo, daí a dificuldade de memorização da letra do Hino e de sua correta interpretação. Dessa forma, quanto mais amplamente a sua letra e música venham a ser divulgadas, maior a possibilidade de que o povo brasileiro tenha a oportunidade, não só de aprender a cantá-lo, mas também de aprender a amar e preservar os valores patrióticos que ele simboliza para o nosso País. Há exemplo de países e nações mais prósperas que incentivam grandemente a exposição da sociedade aos seus símbolos pátrios, não somente em eventos esportivos, mas em tantos outros que podem ser realizados no seu âmbito e, com a promoção dos órgãos públicos e privados. Aliás, já em 1936, o então Presidente Getúlio Vargas determinou, através da Lei nº 259, de 1º de outubro, a obrigatoriedade da execução do Hino Nacional em todos os estabelecimentos de ensino, públicos ou privados, de ensino primário, normal, secundário e técnico profissional e associações desportivas, de radiodifusão e outras de finalidades educativas. Sala das Sessões, em 09 de fevereiro de 2009. Deputado Vital do Rêgo Filho. Disponível em: .
(51) José de Almeida Amaral Júnior é graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1986) e mestrado Capes 4 em Educação - Políticas pelo Centro Universitário Nove de Julho (2003). Pós-especialização em Sociologia pela Escola de Sociologia e Política de S. Paulo (1990).
(52) O Projeto de Lei 343/2006 é de autoria do Senador Roberto Saturnino Braga, que altera a Lei 9394/1996, e dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Foi interposto no Senado Federal em 20 de dezembro de 2006.
(53) Em 24.nov.2008, o músico Felipe Radicetti recebeu em São Paulo o Prêmio Top of Mind em
reconhecimento ao seu trabalho na Campanha "Quero Educação Musical na Escola”.
(54) Disponível em: <>. Acesso em: 26.fev.2009.
(55) Entre 1932 e 1971 a educação musical era disciplina obrigatória nas escolas brasileiras.
(56) Disponível no Site da Associação Brasileira de Educação Musical:
2006.pdf>. Acesso em: 26.fev.2009.
(57) GOLDEMBERG, Ricardo. Educação musical: a experiencia do canto orfeônico no Brasil. Disponível
em: . Acesso em: 04.mar.2009.
(58) Fatima Oliveira, médica e escritora. Faz parte do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Foi indicada ao Prêmio Nobel da paz em 2005.
(59) Considerado o maior movimento de Educação Musical de massas já ocorrido no Brasil, o Canto Orfeônico ligava-se ao ideário escolanovista e tem sua imagem profundamente ligada ao governo de Getúlio Vargas. Foi durante o Estado Novo que o Canto Orfeônico se constituiu enquanto movimento, tendo à frente, o maestro Heitor Villa-Lobos. O Canto Orfeônico esteve presente nas escolas brasileiras até o final da década de 1960, momento em que desaparece paulatinamente da educação. Isto aconteceu, entre outros motivos, depois da promulgação da Lei 5.692/1971, a qual tornou obrigatório o ensino de artes e também criou a chamada polivalência: A polivalência no ensino de artes refere-se à idéia de que um mesmo profissional poderia dar conta de ensinar Artes Visuais, Teatro, Música e Dança. Alie-se a isto uma formação superior precária deste profissional no chamados cursos de "Licenciatura Curta" e o quadro estará completo. Como resultado desta política e do caráter tecnicista da educação no período da Ditadura Militar, vamos perceber a predominância do ensino das Artes Visuais e o desaparecimento das artes coletivas, como o Teatro, a Dança e a Música.
(60) Disponível em:< texto="42469">. Acesso em: 26.fev.2009.
(61) Geraldo Ribas, coordenador do curso técnico da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
(62) Disponível em: . Acesso em: 26.fev.2009.
(63) Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2007-2010/2008/Msg/VEP-622-08.htm
(64) Heloísa de Araújo Duarte Valente, é pesquisadora do CNPq; doutora em Comunicação e
Semiótica, junto à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com pós-doutoramento junto ao Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) tendo, como área de pesquisa a música, a partir das mídias. Atuante nas áreas de nas áreas de Musicologia, Comunicação e Semiótica, participa de eventos científicos organizados pelas associações nacionais e internacionais (Anppom, Intercom, ICMS, IASS, ABET, IASPM-LA). É autora de Os cantos da voz: entre o ruído e o silêncio (São Paulo: Annablume, 1999) e As vozes da canção na mídia (Via Lettera/Fapesp, 2003), organizadora dos volumes Música e mídia: novas abordagens sobre a canção Via Lettera; Fapesp, 2007), Canção de Além-Mar: o fado e a cidade de Santos (Realejo/ CNPq, 2008), além de artigos publicados em revistas especializadas. Coordena o Centro de Estudos em Música e Mídia (MusiMid), com o qual desenvolve o projeto de pesquisa A canção das mídias: memória e nomadismo junto ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (CMU/ECA-USP), com financiamento do CNPq (Edital Universal) e da Fapesp (Jovem Pesquisador). No âmbito desse projeto, produziu o documentário Canção d Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas (2008). Paralelamente a essas atividades, é parecerista ad hoc junto às agências de fomento à pesquisa e publicações especializadas. É idealizadora e coordenadora geral dos Encontros de Música e Mídia: As múltiplas vozes da cidade (2005) e Verbalidades, musicalidades:temas, tramas e trânsitos" (2006), "As imagens da música"(2007) e "O Brasil dos Gilbertos: Gilberto Freyre, João Gilberto, Gilberto Gil e Gilberto Mendes" (2008).
(65) Palavras do presidente da ABEM – Associação Brasileira de Educação Musical, sobre a aprovação da Lei n. 11.769, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música na escola. Disponível em:
3. CASE ILUSTRATIVO DO TEMA INVESTIGADO: ESTUDO DO IMPACTO DO CANTO CORAL NOS EUA
Considerei bastante oportuno trazer para o presente trabalho um importante estudo realizado pelo Choir America (66) no ano de 2003 o qual levantou importantes constatações a respeito do impacto do canto coral na vida dos participantes e em suas comunidades. O estudo verifica que se devidamente alavancado, o canto coral pode desempenhar um papel ainda mais importante e significativo.
Foi realizada uma ampla sondagem em todo o território americano a fim de coletar dados sobre todos os tipos de coros e através de estatística o Choir America objetivou chegar ao número de corais e de coralistas existentes neste país. O estudo foi conduzido pela Muenster Robinson & Associates, Inc., que cuidou da investigação quantitativa e a SGC Communications, Inc., ficou responsável em pesquisar os aspectos qualitativos.
O relatório final foi editado e supervisionado pelo Chorus América e os resultados, no mínimo nos chamam atenção. O principal objetivo da investigação foi o de documentar o nível de participação dos coralistas, analisar certas atitudes e motivações que os levam a cantar num coral e comparar estes dados com comportamentos específicos do público em geral; em suma, o estudo estabelece algumas características gerais que distinguem aqueles que participam num coral do restante da sociedade e ainda analisa qual o impacto que os coralistas exercem em suas comunidades.
Foi o primeiro estudo a nível nacional realizado nos Estados Unidos no campo do canto coral e despertaram o interesse de outras organizações interpretarem os dados colhidos pelo Choir America, pois estabeleceu uma base importante para futuras investigações. A instituição tem reafirmado que pretende manter seus esforços para recolher e disseminar informações acerca do canto coral, haja vista que este campo apresenta nos Estados Unidos uma enorme diversidade
de organizações e pessoas envolvidas.
O relatório original encontra-se no Documento Anexo ao presente trabalho e embora apresente a realidade americana, pode ser bastante útil para nós brasileiros, uma vez que o estudo foi idealizado no sentido de propiciar aos líderes, a comunidade, regentes, coralistas, educadores e outros interessados uma possibilidade de melhor visualizar a prática coral como ferramenta de integração social.
3.1 O número de coralistas nos EUA
Existe nos Estados Unidos mais de 28 milhões de crianças e adultos que cantam regularmente em grupos corais americanos, esse número é maior do que em qualquer outra atividade artística. O estudo estima que existem 250 mil corais na América do Norte.
A maioria dos entrevistados começou a cantar em um coro da escola. Cerca de 70 por cento das pessoas que cantam atualmente em corais, afirmam que já cantavam em um coro quando estavam na escola no ensino básico. Mais de 50% dos coralistas entrevistados disseram que cresceram em uma casa onde outro membro da família havia cantado regularmente num coro. Estas conclusões têm importantes implicações de longo prazo para o papel da educação e das famílias no início da exposição às artes. O estudo mostra que uma rápida introdução às artes do espetáculo é um alicerce para a aprendizagem ao longo da vida - ela ajuda a desenvolver habilidades sociais, a participação da comunidade e reforça competências acadêmicas em geral.
O amplo apelo do canto coral é baseado na oportunidade que a atividade proporciona do coralista estar envolvido artisticamente, constrói relacionamentos, reforça as suas competências, e resulta em um produto de grande beleza. Nos postos de trabalho em direção a um belo som coral, as pessoas que contribuem para um produto artístico superior para si mesmas e desenvolvem amizades que mudam o curso das suas vidas. Tal sinergia promovida pela organização coral aos participantes trás efeitos que resultam em contribuições extraordinárias para as suas comunidades.
3.2 O número de corais nos EUA
O Choir America recolheu dados de várias organizações que apóiam o canto coral, tais como a Associação Americana de Corais; empresas; coros independentes, coros de igrejas, regentes, organistas da Liga Americana de Organistas; educadores e diretores de escolas públicas e privadas. Da análise destes dados, estima-se que dos 250.000 corais, 12 mil são coros profissionais, 38 mil são coros de escolas e 200 mil são coros formados em igrejas.
3.3 A escola e experiências familiares influenciam o ingresso num grupo coral
O estudo do Chorus America demonstra que as raízes do canto coral são plantadas no ensino pré-escolar ou ainda através de experiências familiares. Os resultados apontaram que 56 por cento dos coralistas tiveram em sua família alguém que cantou num coro, cerca de dois terços dos coralistas disseram que ouviam grupos corais em rádios ou tinham discos em suas casas. Três quartos disseram que seus pais ou irmão(s) haviam participado de corais. Muitos coralistas
recordaram experiências familiares como esta: "Cantar em um coral faz parte da nossa vida familiar e faz parte da minha educação".
Também foi revelado que quase 69 por cento dos entrevistados tiveram sua primeira experiência em corais de escola e quase 92% aprenderam a tocar um instrumento musical em um momento de suas vidas. Estes números têm fortes implicações. Para nós brasileiros, por exemplo, esses números são animadores, uma vez que a Lei 11.769 torna obrigatório o ensino musical em escolas públicas e privadas, podendo assim que for devidamente implementada ser uma importante estratégia para fomentar oportunidades de educação às nossas crianças e adolescentes, melhorando a apreciação do público estudantil para a boa música e outras formas de artes, resgatando o projeto de Heitor Villa-Lobos.
O estudo do Chorus America delineou importantes relações entre arte e educação de estudantes universitários e seu desenvolvimento social. As crianças que participam em atividades artísticas demonstraram melhoria na leitura, na escrita e tiveram um bom desenvolvimento lingüístico. Também foram observadas melhorias na capacidade de concentração, bem como no desenvolvimento de outras competências tais como expressão, persistência, imaginação, criatividade e resolução de problemas. Além disso, as melhorias foram observada em competências sociais, comportamentais, capacidade de expressar emoções, cortesia, tolerância, resolução de conflitos e atenção ao desenvolvimento moral.
A National Governors Association (NGA), com base em pesquisas anteriores, divulgou em Maio de 2002 que os estudantes que tem acesso as artes apresentam comportamentos bastante positivos. Afirmou, por exemplo, que os estudantes que participam na área das artes, pelo menos, nove horas por semana durante pelo menos um ano tendem a ter: Quatro vezes mais chances de ser reconhecido por seu desempenho acadêmico; Três vezes mais chances de serem eleitos para um diretório acadêmico; Quatro vezes mais chances de ganhar um prêmio assiduidade escolar; Quatro vezes mais propensos a terem êxito com matemática e ainda quatro vezes mais probabilidades de ganhar um prêmio por escrever um ensaio ou poema.
O estudo do Chorus América, quando combinados com outros dados como os apresentados no parágrafo anterior, mostra para os pais a importância de uma exposição precoce a experiências artísticas e o papel das escolas e da vida familiar no fornecimento destas oportunidades de aprendizagem e enriquecimento do ser humano.
3.4 Coralistas fortalecem a comunidade e estabelecem “pontes sociais”
Todas as atividades que promovem envolvimento e integração da comunidade resultam na geração de mais redes de apoio e na redução dos problemas como a violência, o crime, o abuso de drogas e a degradação social. Mas a maioria dos dados coletados por cientistas sociais da atualidade sugerem que essas redes estão diminuindo, que mais pessoas estão se isolando. Em uma busca por soluções que possam travar a erosão da comunidade e das redes de apoio social, o Professor Putnam da Harvard University e sua equipe composta por renomados sociólogos entendem que as artes proporcionam um "poderoso meio para transcender as fronteiras culturais e sociais”. Esta conclusão foi de especial interesse para o Chorus America. Cantar em um coral ajuda a construir redes sociais. O estudo pretendeu descobrir como os coralistas se comportam em suas comunidades. Será que eles participam efetivamente como voluntários em suas comunidades? Desenvolvem habilidades que lhes permitam ser mais engajados socialmente? Em muitos casos, o Chorus America descobriu que a resposta é afirmativa. Para determinar seu nível de envolvimento da comunidade, profissionais fizeram uma bateria de perguntas para os coralistas pesquisados sobre a questão do voluntariado, filiação em organizações cívicas, quais competências desenvolveram que poderiam ser úteis no trabalho comunitário, sua capacidade de interagir com pessoas de diversas origens, sua sociabilidade, e seu nível de ativismo político; com que freqüência eles trabalham como voluntários. Quarenta por cento disseram que muitas vezes ou frequentemente atuam como voluntários e outros 36 por cento disseram que sempre que tem oportunidade trabalham como voluntários, perfazendo um total de 76 por cento dos coralistas entrevistados. Quase 20 por cento dos coralistas também atuam como líderes ou participam como membros de uma organização cívica. Além disso os coralistas americanos costumam apoiar financeiramente ONGs – Organizações não Governamentais sem fins lucrativos e organizações artísticas, incluindo o seu próprio grupo coral. Estas contribuições são para cobrir as despesas do coro com encargos, taxas, vestuário e outras despesas.
O comportamento social é um aspecto importante do envolvimento da comunidade e na construção de redes sociais. Os números obtidos pelo Chorus America sugerem que os coralistas são socialmente muito ativos. 87 por cento deles afirmou que saem regularmente com amigos ou se reúnem em casa com eles. 58 por cento concordam que é muito importante se socializarem com outros coralistas fora dos ensaios ou apresentações do grupo e outros 26 por cento concordaram que é importante. E 74 por cento, concordou plenamente com a afirmação de que elas de fato desenvolvem novas amizades e relacionamentos através de sua participação efetiva no grupo coral; que a sua adesão ao coro lhes deu auto confiança para ampliar a sua rede social em outros países. Diversos coralistas observaram que cantar em um coro lhes deu suporte em momentos de crise pessoal; Que abriu a possibilidade de se correlacionar com pessoas diferentes que eles, o que os cientistas sociais chamam de "ponte" e afirmam ser fundamental para a construção de redes sociais.
A seguir, passo a transcrever alguns comentários coletados pelo Choir America a partir dos coralistas sobre as suas experiências:
"Pessoas que eu admiro muito são politicamente ou religiosamente diferentes de mim.""Cantar em um coral possibilita a construção de uma consciência cultural e contribui para um relacionamento com outras pessoas, não importando qual seja a sua etnia.""Essa ligação com as pessoas nos expõe a outras idéias e abordagens que não se encontram disponíveis e dificilmente teríamos acesso”. ...“O tratamento cordial e respeitoso desenvolvido no coro me tornou mais tolerante e menos propenso a pré-julgar homossexuais, apesar da minha religião e ensinamentos doutrinários instruírem que a homossexualidade é pecado.”"O nosso coro é um enorme caldeirão social. Você tem a oportunidade de conhecer pessoas de todos os grupos etários, origem social e etnia.”
3.5 Coralistas são bem informados e politicamente conscientes
Uma das questões que preocupa os cientistas sociais que estudam as comunidades é que as pessoas estão cada vez menos interessadas no funcionamento do seu governo, na situação política atual ou em outras questões que afetam a sua comunidade. Os cidadãos que não têm interesse nestas questões e não tomam medidas para informar-se não conseguem exercer de forma adequada a sua cidadania.
A pesquisa apontou que após o fenômeno baby boomers (67) aqueles que nasceram após 1964, são significativamente menos conhecedores sobre política que as gerações anteriores.
Um elevado percentual de coralistas (93 por cento) responderam que votam regularmente em eleições locais e nacionais, é um número expressivo, considerando que nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório como no Brasil.
Dados publicados pela Harvard University Press apontaram que 23% dos cidadãos americanos contribuem financeiramente em causas políticas, fazendo doações para campanhas, partidos ou para políticos. Já a pesquisa do Choir America descobriu que os coralistas são muito mais abertos a questões políticas e a contribuirem financeiramente: cerca de 42 por cento dos coralistas entrevistados afirmaram ter contribuído em causas políticas ou tenham trabalhado para um partido político ou até mesmo concorrido para um cargo político.
3.6 Quantitativamente coralistas são os maiores consumidores de arte e cultura.nos EUA
A pesquisa do Choir America demonstrou que juntos os coralistas são consumidores bastante ativos e atentos ao que ocorre no mundo da cultura e das artes, em percentuais mais altos do que o público em geral.
82% dos coralistas entrevistados relataram que visitam museus, galerias de artes, assistem apresentações teatrais, danças, orquestras e shows de grupos e bandas entre 3 a 10 vezes por ano.
3.7 Coralistas são motivados a fazer boa música e a se auto-realizarem
A pesquisa realizada pelo Chorus América nos auxilia a compreender o que motiva as pessoas a ingressarem em um coro. A principal razão para participar de um coro é a música. Nos grupos entrevistados descobriu-se que os coralistas não cantam apenas como um hobby, mas encaram a atividade com seriedade, e demonstram interesse em desenvolver suas habilidades mesmo que isso signifique esforço e trabalho árduo. A maioria dos coralistas tem aulas de canto. Embora
alguns cantores sejam capazes de executar solos a maioria prefere cantar em grupo, combinando suas competências com as habilidades de outras pessoas talentosas. "O todo é maior do que as partes", observou um coralista. "Quando ficamos juntos como um grupo, há uma emoção completamente diferente de cantar sozinho. A emoção de um grupo que está fazendo algo bem feito é incrível”.
Cantar em um coral motiva o cantor a aprimorar suas habilidades, encaminha a pessoa para se auto realizar em causas nobres e é artisticamente compensador.
"Quanto mais você canta, melhor a sua voz se torna”, observou outro coralista. "Eu também amo estar cantando ao lado de um grande cantor, me motiva a cantar melhor." Outro disse: "Eu me sinto como um artista responsável pela arte que está a minha volta”
Coralistas também se sentem impulsionados a trabalhar em prol de suas comunidades. Eles acreditam que acrescentam beleza e dão vida às comunidades a qual pertencem.
A seguir estão alguns dos comentários coletados pelo Choir America sobre este assunto:
"Quando as coisas correm bem, há uma incrível comunhão com o público”.“Gosto de sentir que estou convertendo algumas pessoas e levando-os a refletirem sobre o que cantamos”.“Participando de um coral me sinto elevado como pessoa, pois quando canto consigo transmitir uma mensagem do meu coração para o coração da platéia”."Fizemos muitos concertos em que nós vimos o público vibrar, porque o que nós fizemos foi tão emocionante, tão bem feito, que as pessoas não conseguiam se conter”."Quando eu sei que o trabalho foi bem executado, que tocou as pessoas, isso significa muito para mim."“É pessoalmente gratificante cantar em um coral. É uma experiência intelectual e espiritual muito estimulante que enriquece minha vida”.
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NOTAS DE RODAPÉ
(66) Chorus América é uma importante instituição americana, com sede em Washington, DC. Foi criada para fortalecer grupos corais e proporcionar aos seus dirigentes informação, treinamento, desenvolvimento de liderança, formação profissional adequada e apoio jurídico, visando com isso contribuir com o fortalecimento da arte coral e das comunidades envolvidas.. O Chorus América é uma instituição reconhecida e que tem uma voz forte, vem trabalhando arduamente desde 1977 paraque o canto coral seja cada vez mais reconhecido como essencial para a sociedade. O ChorusAmerica conta com renomados regentes, cantores, empresários e administradores do segmento coral para valorizar e expandir a arte coral na América do Norte. Informações disponibilizadas em:
(67) Baby Boomers, denominação usada para as pessoas que nasceram logo após o término da Segunda Guerra Mundial e, portanto, chegaram aos 60 anos (NERI, 2006). Nessa época houve grandes registros de Baby Boom nos Estados Unidos. O termo "Baby Boomer" refere-se às crianças nascidas a partir da década de 40. Manteve-se a expressão para todo crescimento populacional semelhante, termo também conhecido no Brasil. Durante a década de 1970, quando mais boomers tornaram-se jovens adultos, eles estavam cercados pelas incertezas de estabelecer seus próprios valores pessoais, sendo de identidade nova e madura distinta dos pais. Não é por acaso, que questões de autodescoberta, auto-estima e experimentação de novos estilos de vida se tornaram os temas sociais e comerciais na época. Por conta disso, surgiram no mercado uma série de novas franquias, grupos de encontros e meditação transcendental, para ajudá-los a dar um sentido a suas incertezas.
Disponível em: . Acesso em: 12.mar.2009.
4. DISCUSSÃO DE DADOS
A metodologia adotada baseia-se no delineamento da pesquisa de caráter exploratório com a finalidade de fundamentar a hipótese do canto coral como ferramenta peculiar de integração entre indivíduos, aplicável nas mais diversas organizações sociais.
4.1 Minha experiência pessoal com o canto coral
O tema do presente estudo foi escolhido em razão de estar relacionado à experiência e atividades que venho exercendo com o canto coral há mais de trinta anos dentro da comunidade à qual pertenço.
Desde criança tive a oportunidade de cantar em corais infantis na igreja e posteriormente atuar como pianista, preparadora vocal e até mesmo regente em corais de crianças, jovens e adultos. Tais atividades foram a grande inspiração que me levou a buscar conhecimentos musicais mais aprofundados para oferecer um trabalho de maior qualidade às pessoas com as quais estava envolvida.
Iniciei meus estudos em casa aos três anos de idade com minha mãe que também trabalhava com o canto coral na Igreja e naquela ocasião estudava canto na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Percebendo o gosto que eu desenvolvi pela música através do canto coral, me inscreveu no teste seletivo para crianças nesta mesma instituição de ensino musical. Lá estudei dos sete aos vinte e um anos quando conclui o curso de Licenciatura em Música.
Durante toda essa trajetória acadêmica, eu sempre mantive uma forte ligação com o canto coral na igreja, chegando a reger coros de trinta até duas mil e duzentas vozes.
O que me chamou atenção ao longo do tempo foi perceber o caráter socializador do canto coral; notei que as pessoas gostam de se encontrar e estabelecer relacionamentos e laços sociais; muitas amizades são formadas ou fortalecidas por conta destes contatos; algumas pessoas que conheci em corais da igreja chegaram a se conhecer, namorar e até mesmo casar.
Essa experiência que eu tive foi vivida exclusivamente no ambiente da igreja (68) a qual pertenço, onde o contato dos membros do coro não se limita aos ensaios e apresentações, pois nos encontramos em várias outras reuniões durante a semana e aos domingos, fortalecendo ainda mais o processo de socialização e integração entre as pessoas. Desta forma, o propósito do presente trabalho foi averiguar até que ponto o canto coral funciona como ferramenta de integração social capaz de desenvolver a socialização de pessoas envolvidas com grupos corais de outras instituições, tais como: escolas, universidades, empresas, organizações não governamentais e instituições públicas ou privadas.
Em 2008 tive oportunidade de cantar com o grupo Madrigal Paidéia, onde com outros quinze cantores, sob a regência do Maestro Emanuel Martinez, realizamos uma série de apresentações em todo o território nacional, totalizando 75 concertos para as mais diferentes platéias. O projeto foi patrocinado pelo Sesc Nacional, com o objetivo de propagar a música vocal do grande mestre Villa-Lobos.
Essa tournée me fez refletir sobre a vida e obra de Villa, sua luta para implantar o canto orfeônico em nosso país. Pude também refletir muito a respeito da importância do canto coral em minha vida pessoal e profissional, o que me instigou a escrever sobre o assunto.
Dentre as mais diversas e positivas experiências que envolveram o grupo, naturalmente enfrentamos momentos difíceis no que diz respeito à socialização e integração. Durante os três meses que viajamos juntos cantando pelo país, houveram brigas e discussões entre coralistas, conflitos entre líderes e liderados ocasionados por falta de humildade e orgulho exposto, arrogância por parte das pessoas que hierarquicamente estavam de posse da autoridade maior, recusas em cumprir horários e dificuldades em assumir deliberadamente o compromisso de preservar e cuidar da voz apropriadamente, dentre outros conflitos gerados por gostos e padrões diferentes.
Ocorre que isso é perfeitamente compreensível, considerando que foi um trabalho que nos afastou da nossa rotina normal, pois estivemos cem dias distantes de nossas famílias e entes queridos e como em um “Reality Show”, tentamos com dificuldades manter a compostura diante de 17 pessoas com hábitos, costumes e pensamentos bastante distintos. Em algumas situações, ocorreram inclusive problemas de ordem técnica por falta do bom entrosamento. Isto realmente
aconteceu mesmo estando cientes da grande e talvez única oportunidade que poderíamos ter neste contexto.
Diante dessa experiência pessoal e outras que já vivi, percebo que o canto coral se propõe a oferecer as melhores oportunidades de crescimento, desenvolvimento e amadurecimento em todas as áreas que o ser humano possa desfrutar como cidadão nobre e responsável pela sua parcela de contribuição perante a sociedade em que vive. Porém, como somos imperfeitos e muitas vezes enfrentamos situações inesperadas que nos fragilizam como seres imperfeitos que
somos, em alguns casos, não conseguimos usufruir da real proposta que o canto coral nos traz como ferramenta de socialização e integração social.
Estando ciente desse panorama que na verdade pode estar presente em muitos outros grupos e denominações com propostas, natureza e gênero similares, concluo este trabalho satisfeita por confirmar através da minha experiência pessoal, aliada a experiência de tantos profissionais renomados na área e bibliografias contemporâneas, que o canto coral exerce uma poderosa influência na vida do ser humano como ferramenta de socialização e integração social, desde que haja a preocupação em trabalhar a proposta socializadora e integradora através de uma atitude pessoal, ou seja, da reação e aceitação frente ao que se busca como indivíduo e como seres sociais que somos. Se nos propomos a viver em sociedade, então nos predispomos a sermos condescendentes e longânimos. Assim, creio sinceramente ser o canto coral uma prática social útil à convivência em grupo.
4.2 Literatura especializada
Recorri à bibliografia especializada a fim de desenvolver a revisão de literatura deste trabalho e dar um melhor embasamento ao tema proposto. Afirmo que foram realizadas ao longo de dezoito meses, leituras, releituras, análises e reflexões; desta forma, o trabalho foi tomando forma, sendo construído com o auxílio da bibliografia, citações, conceitos, estudos, vivências e relatos colhidos de profissionais sérios e compenetrados, possuidores de uma vasta experiência e interesse na área do canto coral.
Embora eu tenha me deparado com um “tsunami” de novas informações, idéias e possibilidades no âmbito deste trabalho, senti com satisfação que o caminho que percorri para elaborá-lo, foi silenciosamente aprovado por muitos desses renomados autores, haja vista que seus estudos e experiências registradas nos livros, confirmam quão importante é a atividade do canto coral.
Assim, percebo que para dar seguimento ao meu próprio trabalho como regente ou mesmo como coralista, muitas atitudes podem ser repensadas e modificadas, com o firme propósito de acrescentar.
4.3 Entrevista com perguntas dirigidas a profissionais ligados ao canto coral
Tive a honra de consultar profissionais renomados na área musical de importantes instituições de ensino no Brasil para indagar-lhes acerca dos aspectos socializadores do canto coral.
Foi necessário e produtivo estabelecer contato com esses profissionais e indagar questões, examinar situações, pesquisar soluções e investigar afirmações com o objetivo de fundamentar a hipótese de que o canto coral pode ser uma ferramenta capaz de socializar e integrar o ser humano em um determinado grupo com intenções salutares e com uma visão positiva da vida.
4.4 Mudanças na Legislação Brasileira que contribuirão com o desenvolvimento da prática coral nas Escolas
Por força da Lei 11.769/2008, todas as escolas públicas e particulares do país estão obrigadas a oferecer aulas de música a seus alunos. O projeto de lei que prevê a obrigatoriedade foi sancionado pelo presidente da república e publicado no Diário Oficial da União. As escolas tanto públicas como privadas terão três anos letivos para se adaptar às exigências estabelecidas na nova lei. Acredito que esse é um momento importante que contribuirá com a expansão da prática coral de uma forma ampla, favorecendo milhares de alunos.
4.5 Coro Profissional x Coro Amador
4.5.1 Coro Profissional
Em âmbito profissional o coral tem como principal objetivo alcançar o máximo da perfeição artística. A questão da socialização e integração não é tão relevante, pois os integrantes de um coro profissional trabalham de forma remunerada e realizam sua tarefa cumprindo a responsabilidade que têm perante o grupo ou instituição. Eu diria pela experiência que possuo que existe muita rivalidade, inveja, achismo, arrogância e muitos outros atributos negativos entre os cantores dos coros profissionais, parecendo que um não consegue suportar o brilho do outro, o que é triste e notório. Os cantores de coros profissionais são a classe mais difícil de lidar, pois têm uma forma peculiar de se impor diante dos outros músicos e cantores. Isso é tão normal que ocorre com a maior freqüência e desta forma, o trabalho acontece porque cada integrante do coro desempenha sua função profissionalmente. Existem alguns poucos e falidos relacionamentos ou até mesmo fadados a extinção, e mesmo assim, o coro existe. É o tipo de coro que utiliza a técnica e a exigência artística ao máximo. Se um dos integrantes não consegue alcançar o patamar esperado, será discriminado perante os demais coralistas.
Habitualmente, as vozes são profissionais, sendo muitas vezes, vozes solistas. Existe uma grande possibilidade do coro utilizar roupas confeccionadas especialmente para as apresentações. A exigência com relação ao local da apresentação, acústica, equipamentos utilizados, dentre outros detalhes técnicos é visivelmente maior e o repertório é essencialmente erudito, com raras exceções.
4.5.2 Coro Amador
Já um coral de amadores, deverá buscar também a excelência, mas geralmente terá também outros objetivos. Um coral de empresa geralmente terá um objetivo terapêutico e de união de seus empregados; um coral de igreja geralmente terá objetivos espirituais. É claro que um coral profissional pode ser terapêutico ou espiritual e é claro que um coral amador deve buscar o melhor desenvolvimento artístico. Mas na prática é preciso entender essas diferenças para se obter melhores resultados, sejam resultados musicais, sejam outros resultados diversos.
Em coros amadores a maioria dos integrantes não possui prévio conhecimento musical, haja vista que o único pré-requisito é ter o desejo de cantar.O preparo vocal destes fica ao encargo do regente. Fernandes, Kayama e Östergren, citam que devido ao fato de um elevado percentual de coralistas não estudar canto, o preparo vocal desses cantores está nas mãos de seus regentes.
(FERNANDES, KAYAMA, ÖSTERGREN, 2006, p.39).
Fucci-Amato, relata sua experiência pessoal com cantores sem conhecimento musical:
Quando [fui] regente de um coral formado por funcionários dos mais diversos setores de uma indústria da cidade de São Paulo, (...) para participar do coral só era necessário querer cantar. O gosto pelo canto estabeleceu condições para quebra dos níveis hierárquicos e criou a possibilidade de diferentes pessoas de diferentes categorias profissionais se integrarem para realizar um mesmo trabalho (FUCCI-AMATO, 2007, p.80)
Neste sentido, um artigo da Revista Ensino Superior, apresenta o case do Maestro Luciano Camargo, idealizador do projeto Coral da Cidade de São Paulo:
Depois de uma temporada de estudos na Europa, o maestro Luciano Camargo voltou com uma idéia na cabeça: trabalhar regência e coral com a comunidade, prática bastante difundida em países europeus. O jovem maestro de 29 anos iniciou um projeto em 2002, denominado Coral da Cidade de São Paulo, criado pela ONG Organização da Cultura e da Cidadania, Occa. E não é preciso ser dono de voz radiofônica para participar do coral. Basta ter vontade e disponibilidade para os ensaios uma vez por semana, com três horas de duração, e dispor de tempo para uma aula de técnica vocal e teoria musical em outro dia da semana. "Todas as pessoas têm condições de cantar, com exceção das que têm alguma restrição médica, como lesões nas cordas vocais", pondera Camargo. (69)
Geralmente, nos coros amadores há uma grande heterogeneidade entre as características vocais dos membros participantes por serem, na sua maioria, amadores. Isto ocorre com freqüência, haja vista que são pessoas comuns participando de um trabalho coletivo. Sobre este aspecto, segundo Pfaustch:
Algumas vozes são fortes enquanto outras são leves; algumas são penetrantes enquanto outras são apagadas; algumas têm uma qualidade agradável enquanto outras são estridentes; algumas são flexíveis enquanto outras são indóceis; algumas são bem moduladas enquanto outras são ásperas e roucas; algumas têm uma extensão grande enquanto outras têm extensão limitada, umas são musicais enquanto outras não são. (PFAUSTCH, 1998 apud FERNANDES, KAYAMA e ÖSTERGREN, 2006, p.46)
Fernandes, Kayama e Östergren, lecionam:
Acredita-se que esta mistura sonora unificada pode ser alcançada a partir de uma proposta timbrística única, baseada num trabalho uniforme dos vários aspectos técnicos individuais, na produção adequada dos sons vocálicos, no equilíbrio das vozes, na busca de uma afinação refinada, dentro da maior precisão rítmica possível. (FERNANDES, KAYAMA e ÖSTERGREN, 2006, p.46)
Os regentes aprendem a lidar com essa condição em coros amadores porque além de ser uma realidade presente dentro dos coros e porque precisam atender todos com igualdade e respeito. Sendo assim, buscam elementos que propiciem uma maior homogeneidade entre os naipes e no coro como um todo e procuram trabalhar arduamente para alcançar este elemento tão necessário para a beleza e sonoridade do grupo.
4.6 Análise dos resultados obtidos pelo Choir America
Faço uso dos resultados de um importante estudo (70) realizado em 2003 nos Estados Unidos onde foi avaliado o impacto do canto coral na vida dos coralistas e na sociedade americana e averiguado que o interesse das crianças e jovens em participar de atividades envolvendo o canto coral, foi desenvolvido desde cedo, durante sua vida escolar e refletindo em resultados benéficos no processo de socialização. Os resultados do estudo americano podem auxiliar pais, educadores e líderes de comunidades e corais a compreenderem o potencial do canto coral para
que possam trabalhar as necessidades sociais, cívicas e culturais das comunidades.
As conclusões do estudo, por si só, são bastante ricas; expõe um quadro otimista para nós brasileiros que estamos vivendo um recomeço por conta da lei 11.769/2008 a qual torna obrigatório o ensino de música na Educação Básica. Este é o início de um processo até que a Educação Musical, de fato, assuma o seu lugar nos currículos escolares.
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NOTAS DE RODAPÉ
(68) A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mantenedora do conhecido Coro do Tabernáculo Mórmon.
(69) Revista Ensino Superior. Maestro brasileiro dissemina música erudita nas regiões
carentes de São Paulo . Disponível em:
(70) America’s Performing Art: A Study of Choruses, Choral Singers, and Their Impact
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O canto coral é um fenômeno social importante e sua prática traz benefícios aos participantes, mesmo que estes não tenham tido contato anterior com a linguagem musical; através deste trabalho em grupo, as pessoas desenvolvem consciência musical, autocontrole, auto-estima, estabelecendo relações de amizade, hierarquia, valores humanos, predispondo o indivíduo a perder a noção egoísta da individualidade e valorizando a idéia da necessidade de renúncia individual pela disciplina social.
Constatei que o canto coral é realmente um instrumento que possibilita a construção de uma consciência cultural, contribuindo nas relações pessoais e interpessoais independendo da situação em que o indivíduo se encontre. Nesta relação de tratamento respeitoso, o indivíduo se esforça por ser mais tolerante e menos propenso a julgamentos antecipados. É uma grande oportunidade para conhecer verdadeiramente as pessoas, seus costumes, sua maneira de agir e pensar, sua forma de tratar e reagir diante das inúmeras circunstâncias.
O canto coral motiva o indivíduo a fazer boa música, boa arte, enriquecendo sua vida e sua comunidade e fomentando sua auto-realização individual, auxiliando-o a desenvolver suas habilidades musicais e muitas vezes encontrando um caminho de sucesso profissional.
Todas essas condições são possíveis de serem aceitas e vividas dentro de um grupo coral; porém, fica a possibilidade de o canto coral ser ou não um instrumento de socialização e integração; Percebi que muitas situações que vivenciei como coralista e regente, foram confirmadas em episódios vividos por outras pessoas em suas vidas dentro do canto coral.
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CONTATOS COM A AUTORA
lia kogiaridis de souza: lia.kogiaridis@yahoo.com.br
5 comentários:
olá.....li seu artigo e fiquei extremamente admirado.....parabéns!!!!
eu sou um cantor autokdidata e moro numa cidadezinha do interior baiano e estou criando um coral...(com muita ousadia...rsrsrs)....sempre sonhei com a idéia de que minha cidade deveria ter um coral e estou lutando sozinho.......você pode me dar algumas ideias de dinamica em grupo???obrigado
>>>jrjunior_reis@hotmail.com
olá.....li seu artigo e fiquei extremamente admirado.....parabéns!!!!
eu sou um cantor autokdidata e moro numa cidadezinha do interior baiano e estou criando um coral...(com muita ousadia...rsrsrs)....sempre sonhei com a idéia de que minha cidade deveria ter um coral e estou lutando sozinho.......você pode me dar algumas ideias de dinamica em grupo???obrigado
>>>jrjunior_reis@hotmail.com
Junior, pois é, assim por e-mail é mais difícil, eu vou postar algumas dinâmicas aqui para vc observar. Estou bem atarefado, aliás faz tempo que não posto nada, por pura falta de tempo, mas aguarde que eu vou postar. De qualquer forma eu tenho um livro que possui algumas dinâmicas de grupo para coro, se desejar me escreva no e-mail: martinezemanuel2@gmail.com
De qualquer forma o que pretende obter com as dinâmicas?
Abraços
Olá. Estou pra iniciar um grupo de coro, tanto de crianças/adolescentes quanto de adultos, terceira idade. Também preciso de dinâmicas para ensino, de forma lúdica, vc tem?
Ana, eu tenho métodos de ensaio no meu livro. Não sei se é exatamente o que vc procura, mas se precisar do meu livro, entre em contato através de meu site na aba de LIVROS, ai eu te forneço as informações para vc adquirir o livro.
http://martinezemanuel.wixsite.com/conductor
Abraços
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