São duas atuações de trabalhos bem distintos e com finalidades bem específicas. Este trabalhos não deveriam ser feitos pelo maestro que já tem um grande responsabilidade musical e artística sobre o grupo, mesmo que ele tenha formação vocal, mas deveriam ser preferencialmente realizados por um professor de canto competente e por um fonoaudiólogo especializado em voz cantada, sempre em parceria com o maestro.
Muitos grupos vocais deixam de lado este trabalho alegando falta de tempo para a realização e outros fazem alguma coisa, para cumprir tabela. Este trabalho é tão importante quanto cantar. Há a necessidade de um planejamento adequado tendo como foco o grupo musical e o repertório que trabalhamos.
O trabalho vocal precisa estar harmonizado, não pode ser qualquer coisa, porque do contrário cansamos os cantores sem qualquer benefício para eles. Vemos muitos coros SEM QUALIDADE técnica, e isso é um problema de escolha dos cantores, mas maior problema do TRABALHO DO MAESTRO, que não se dedica a esta atividade. Alguns maestros em meus cursos tem a desculpa que não tem nenhum preparador vocal na cidade, o que pode ser real, então cabe ao maestro, já que este é seu trabalho, procurar cursos de atualização em canto e nas diferentes técnicas de voz para que pelo menos o aquecimento seja feito de forma correta.
Já vi muitos maestros fazerem aquecimento conversando com outra pessoa, isso não adianta nada, porque a pessoa que conduz o trabalho precisa estar atento ao resultado do exercício para ver se os cantores estão emitindo corretamente o som como você programou. É um trabalho sério e de responsabilidade, que deve ser feito com seriedade.
A seguir eu abordo a diferença entre essas duas técnicas rudimentares de trabalho vocal: o Aquecimento e a Técnica Vocal. Qual a diferença entre elas?
TÉCNICA VOCAL
A técnica vocal tem a finalidade de ampliar e melhorar os recursos vocais dos cantores, como por exemplo: ampliar a extensão vocal, aplicar técnicas como o staccato, afinação, ampliar a capacidade e controle respiratório, domínio diafragmático intercostal na respiração e na utilização de técnicas específicas, equilibrar e homogeneizar a sonoridade no trato vocal do coro, propiciando uma melhor atuação e projeção vocal.
Também aproveito este horário, em combinação prévia com o preparador vocal, para a realização de exercícios técnicos que envolvam dificuldades técnicas do repertório, como: passagens de melismas, intervalos difíceis de afinar, ou até harmonias e passagens complexas. Tudo isso se torna em pretexto para a criação de exercícios específicos para auxiliar a superar essas dificuldades técnicas do cantor ou da partitura, antecipando na técnica vocal as dificuldades musicais, trabalho esse que se refletirá no momento do ensaio do trecho musical.
Não há exercícios definitivos ou pré definidos, o grupo vocal e o repertório que definem essas necessidades técnicas necessárias, só ai se desenvolve um exercício específico para combater aquele problema técnico encontrado.
Eu gosto sempre de estar em consonância com o preparador vocal. Quando distribuo antecipadamente as partituras para os pianista, sempre vai uma para o preparador vocal, ai sentamos e marcamos todos os possível problemas da partitura, e fazemos a programação de ensaios, para que estejam todos preparados desde o primeiro ensaio, sem improvisos, especialmente para que o preparador vocal tenha tempo de organizar seus exercícios em consonância com o que pretendemos obter da obra.
Além dos problemas musicais, o trabalho de técnica vocal também visa, de alguma forma, preparar o coro para os locais de apresentação, do local de concerto, visando a projeção sonora no respectivo local de apresentação, às vezes locais inusitados.
No meu livro REGÊNCIA CORAL - princípios básicos (Curitiba, 2000), tem alguns exemplos de exercício que servem como referência para o início do trabalho. Alguns exercícios são quase que permanentes, tanto na técnica como para o aquecimento e outros são criados ou mudados a cada trabalho.
Os exercícios de voz e articulação são de autoria de: professor Pedro Goria, professora Denise Sartori e da fonoaudióloga Rosemari Brack e os exercícios de articulação são de minha autoria.
Os exercícios de voz e articulação são de autoria de: professor Pedro Goria, professora Denise Sartori e da fonoaudióloga Rosemari Brack e os exercícios de articulação são de minha autoria.
A técnica vocal, como o nome já diz, pretende a melhoria da qualidade vocal e musical coletiva e individual dos cantores como um todo.
O ideal é que este trabalho seja feito em horário alternativo para que o professor de técnica vocal possa ter tempo para se dedicar a cada cantor individualmente.
Quando não tenho muito tempo, eu uso alternar as vozes femininas e masculinas, ou alternar entre vozes agudas ou graves. Às vezes eu solicito o trabalho individual de um único naipe, isso depende do repertório e da condição técnica do naipe em questão. Quando meu coro ensaia diariamente, eu convoco um naipe por dia para fazer este trabalho de técnica vocal, o que produz um resultado maravilhoso ao longo do tempo.
No caso do coro não disponibilizar tantos dias de ensaio, este trabalho poder ser realizado bem antes do horário previsto para o ensaio, que até já serve como aquecimento. Cabe ao maestro sensibilizar seus cantores para a importância do trabalho, solicitando que cheguem pelo menos uma hora antes. Por exemplo, um coro que ensaia uma vez por semana, pode organizar este trabalho alternando as vozes: num ensaio vem as vozes masculinas e no outro ensaio vem as vozes femininas, e por ai vai. Quando isso acontece o professor precisa começar os trabalhos com um relaxamento, preparando o grupo para o ensaio. Se houver chance, o maestro organiza este trabalho em um dia específico fora do horário de ensaio, marcando horários específicos para cada naipe ou grupo de vozes, deixando o dia de ensaio para o ensaio propriamente dito, realizando apenas o aquecimento vocal normal.
No meu caso, quando não há possibilidade de fazer em um outro dia, eu convoco os naipes ou o naipe pelo menos uma hora antes do aquecimento do coro. Quando isso acontece, o naipe ou os naipes convocados para a técnica vocal são dispensados do aquecimento já que eles trabalharam durante uma hora, por sua vez, os demais cantores precisam chegar para o aquecimento antes do ensaio.
O trabalho técnico é feito apenas no período de ensaios, porque antes de apresentações e concertos fazemos apenas aquecimento para não cansar os cantores antes da performance.
O ideal é separar as duas coisas, dá mais trabalho mas o rendimento técnico é maior. Eu programo sempre entre uma hora e uma hora e meia para este trabalho de técnica vocal. Garanto que vale a pena.
AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL
O aquecimento engloba algumas técnicas: relaxamento do corpo e aquecimento das cordas vocais e musculatura do canto.
É um processo mais curto, uns 20 a 30 minutos. Este trabalho eu faço com todo o coro junto, sem preocupações de melhorar a técnica, apenas aquecer as vozes e desligar das atividades do dia a dia com o relaxamento sintonizando o coro para o trabalho musica do dia.
É um trabalho mais específico, para antes dos ensaios e concertos/apresentações públicas. Adicionando a esta técnica de aquecimento a fonoaudióloga trabalha para que após o concerto e ensaios haja o desaquecimento das cordas vocais, uma técnica importante que deve ser cultivada por todos os cantores, já que há esforço vocal nos ensaios e apresentações é grande, deve ser seguido de um relaxamento, um desaquecimento vocal e muscular.
Em geral este relaxamento não é dirigido pelo fono ao final do espetáculo ou ensaio, já que após um ensaio ou apresentação as pessoas querem sair o mais rapidamente possível, e quando de uma apresentação o assédio do público é mediato prejudicando este trabalho coletivo, assim a fono orienta como cada um deve fazer individualmente este trabalho.
Assim há exercícios específicos para cada fase.
Estas são algumas formas que eu uso no meu trabalho. Vale ressaltar que este trabalho não é do maestro e sim de uma associação com pelo menos um profissional da área de canto e fonoaudiologia.